poder /

Um breve adeus às armas

Depois de apresentar notícia-crime no Supremo contra Moraes, por suposto abuso de autoridade, Bolsonaro cumprimenta o ministro em cerimônia no TST. Horas antes, o presidente tinha criticado novamente o STF e o TSE

Em um gesto inesperado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) baixou a guarda e cumprimentou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na cerimônia de posse dos novos ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST). A solenidade ocorreu ontem, na sede da Corte trabalhista. A atitude causou surpresa em todos os presentes, pois pairava um clima visivelmente tenso entre as autoridades por causa da crise entre os Poderes.

A iniciativa de Bolsonaro ocorreu na mesma semana em que ele apresentou uma notícia-crime contra Moraes, no STF e na Procuradoria-Geral da República (PGR), por abuso de autoridade. Na Corte, a ação foi rejeitada pelo relator, o ministro Dias Toffoli. Já a PGR ainda não se manifestou.

Antes do afago, Bolsonaro estava sentado ao lado do presidente do TST, ministro Emmanoel Pereira, sem interagir com os outros convidados. Moraes, por sua vez, estava próximo à plateia.

A atitude de Bolsonaro causou alvoroço entre apoiadores. De um lado, houve críticas pela cordialidade; de outro, aprovação pelo gesto "nobre".

O evento contou com a participação do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB); do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin; do procurador-geral da República, Augusto Aras; e de ministros do governo e parlamentares.

Ataques

Horas antes do evento no TST, Bolsonaro tinha criticado, novamente, o Judiciário. Ele afirmou que "provavelmente" foi o único chefe de Estado que não aceitou o "fica em casa, a economia a gente vê depois" na pandemia da covid-19 e reclamou que o Supremo deu poderes a estados e municípios para definirem a condução da crise sanitária.

"Lamentavelmente, o STF tirou de mim esse que seria o meu direito, foi tirado da minha mesa presidencial. Mas o Brasil fez a sua parte, colaborando com estados e municípios. E mais: os mais humildes, quando foram obrigados a ficar em casa, perderam toda a sua renda. Mas nós não tivemos nenhum problema social no Brasil porque acolhemos essas pessoas", destacou, durante o congresso Mercado Global de Carbono - Descarbonização & Investimentos Verdes, no Rio de Janeiro.

Ele disse, também, que escolheu seus ministros sem indicações políticas, embora partidos do chamado Centrão, como o PP e o PL, ao qual Bolsonaro se filiou já durante o mandato, façam parte do governo. No discurso, o chefe do Executivo sustentou que seus ministros poderiam estar ganhando "10 vezes mais" em outros locais, mas preferiram trabalhar no Executivo, e, por isso, "estão sofrendo muito", com "interferências explícitas do Poder Judiciário, o que é muito lamentável". "Mais da metade do meu tempo eu passo me defendendo de interferências indevidas do STF, mas estamos fazendo a nossa parte e jogando dentro das quatro linhas. E o Brasil está rodando", acrescentou.

Eleições

Bolsonaro voltou a lançar dúvidas sobre o sistema eleitoral. Ele repetiu — sem citar provas ou comprovação de irregularidades em pleitos passados — que os votos nas eleições gerais de outubro deveriam ser "contados publicamente" e "auditados", pois não se pode "enfrentar" um sistema eleitoral sobre o qual "paire dúvidas".

O presidente frisou que, no Brasil, "quem diria?", o chefe do Executivo federal seria quem está "brigando pela democracia", enquanto, segundo ele, "naturalmente, o que acontece é o chefe do Executivo conspirar para se perpetuar no poder". "Aqui é diferente", enfatizou, insistindo na defesa do "voto auditado". "O voto é a alma da democracia, ele tem que ser contado publicamente e auditado. Não serão duas ou três pessoas que vão bater no peito e dizer 'eu mando, vai ser assim, e quem agir diferente, vou cassar registro e vou prender'. Isso não é democracia", criticou. (Com Agência Estado)