A falta de uma posição mais contundente do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em relação às críticas do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao processo eleitoral tem causado descontentamento entre parlamentares.
Na última terça-feira, Lira afirmou ser necessário "aliviar a tensão" entre os Poderes, mas integrantes da oposição veem o posicionamento como insuficiente. Eles classificam a postura como "conivência" com as investidas de Bolsonaro contra instituições democráticas.
O deputado Glauber Braga (PSol-RJ) disse não esperar uma atitude mais firme do presidente da Câmara em relação ao chefe do Executivo. "(Lira) bebe, do governo Bolsonaro, poder, grana das emendas de relator, cargos, ocupação de espaço político. É um típico parlamentar do Centrão", afirmou, em relação ao grupo de sustentação do governo, do qual Lira é um dos caciques. "Na relação com o Supremo, ele vai jogar numa linha do que é melhor para o acúmulo de poder dele. Não tem nenhuma preocupação de caráter público."
Quem também critica Lira é o deputado Rogério Correia (PT-MG). "Por tudo o que (o presidente) faz, deveria ter sido aberto um procedimento de impeachment, mas eles (Centrão) sequestraram o Orçamento", acusou. "Lira, satisfeito com as RP9 (emendas de relator), é conivente. Ele não pode ficar esperando que a vociferação antidemocrática (de Bolsonaro) vire ação." Para Correia, a única expectativa, agora, é de que Bolsonaro perca nas urnas.
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Defesa
Já o deputado Lincoln Portela (PL-MG) reprovou o uso — pelo colega de Parlamento — da palavra "conivente". Ele considerou jocoso o termo, utilizado por "alguém que pratica o comunismo". "Falar sobre democracia chega a ser hilário. Onde há comunismo, não existe democracia", rebateu.
Portela argumentou que Lira apenas está "pensando como alguém de centro", apelando para um discurso prudente, no momento em que os ânimos estão exaltados. "Está procurando ser mais cauteloso, para buscar um equilíbrio para essa balança em que vivemos", defendeu. "As narrativas não têm sido as melhores. A relativização das coisas tem sido grave. Não podemos nos idiotizar. É hora de nos prepararmos para uma pré-campanha", acrescentou.
Para o deputado José Nelto (PP-GO), não se pode tumultuar as eleições. "O povo tem de ter liberdade de votar sem ter pressão nem de um lado nem do outro. E o Congresso é a garantia do cumprimento da Constituição. Lira tem essa responsabilidade, é um homem cauteloso e que age muito nos bastidores. Tem um bom diálogo entre os Poderes", comentou o parlamentar. Ele acredita que esse "bom trânsito" esteja sendo usado justamente para apaziguar o clima pré-campanha.