O vereador Camilo Cristófaro (sem partido) pediu desculpas, nesta quarta-feira (4/5), por ter proferido uma fala racista durante uma sessão da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), na terça-feira (3/5). “Nem lavou a calçada. Coisa de preto, né?”, disse o parlamentar, que acompanhava remotamente a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Aplicativos e não percebeu que o microfone dele estava aberto.
Após a fala ecoar no plenário da casa, a sessão foi suspensa por cinco minutos. A vereadora Luana Alves (Psol) repudiou a fala do parlamentar e disse que o caso não passaria sem punição. O vereador chegou a dizer que a parlamentar estava “confundindo as coisas”.
Pelas redes sociais, Camilo publicou um vídeo de 2 minutos e 50 segundos no qual está ao lado de quatro pessoas negras que, segundo ele, fazem parte do gabinete dele na Câmara de São Paulo. O parlamentar admite ter feito a declaração, que classificou como “lamentável”.
“Ontem eu tive uma fala lamentável, muito fora de contexto, no momento em que estava conversando com outra pessoa, que é uma pessoa afro, que é meu amigo, meu irmão”, iniciou.
“Nós estávamos brincando e eu tive uma brincadeira infeliz, eu nunca fui, não sou e nunca serei racista. Isso aprendi com meu pai, minha mãe, com minha família, com a minha origem”, acrescentou. Camilo pede, então, que os supostos funcionários falem sobre a convivência dentro do gabinete. Todos iniciaram as falas se identificando como negros.
Uma das presentes, apresentada apenas como Tamires e moradora de Boqueirão, diz que é “líder comunitária, negra da periferia” e que o vereador trabalha na comunidade em que mora e que “nunca me tratou mal e nem ninguém da equipe”.
“Sou nascido e criado na comunidade, sou preto, de família preta, e trabalho com o vereador há cinco anos. Ninguém nunca fez o que esse vereador fez. Se ele fosse racista não estaria trabalhando com ele por cinco anos”, diz um homem também presente na gravação, identificado como Serginho.
Por fim, Camilo diz que são os colaboradores negros que o acompanha “e sabe o meu caráter”. “Eu não sou racista, peço desculpas para quem pegou esse pedaço, esse contexto, que foi uma fala, uma fala, lamentável”, declara o vereador. “Não julgue um homem por uma fala e sim pelos seus atos. Os atos dele não é de racista, beleza?”, complementa Serginho no fim do vídeo.
Episódio provoca desfiliamento do PSB
Na manhã desta quarta-feira (4/5), o PSB de São Paulo desfiliou Camilo do partido. Em 28 de abril, o vereador pediu o afastamento da legenda, mas o processo ainda estava em negociação. Após o episódio racista, o partido decidiu retirar o parlamentar do quadro de políticos do partido.
De acordo com a legenda, o desfiliamento equivale a uma expulsão e é resultado de uma exigência do PSB de que “os seus quadros atuem de forma coerente”, já que “o partido luta por justiça social e igualdade de oportunidades”.
“Falas e ações racistas devem ser responsabilizadas com seriedade. Só assim garantiremos um ambiente mais justo e menos violento na política e, consequentemente, na sociedade como um todo”, pontuou a Executiva.
Camilo já foi acusado de racismo outras duas vezes
Essa não é a primeira vez que o vereador Camilo Cristófaro tem falas racistas. Em setembro de 2019, ele usou o plenário da Casa para criticar a atuação de Fernando Holiday (MBL) e o chamou de “macaco de auditório".
“Gostaria de falar que lamentavelmente o senhor Fernando Holiday usa as redes sociais, que ele é o grande macaco de auditório das redes sociais”, disse na ocasião. Holiday também disse que Camilo disse a ele que precisava “comer banana”. À Folha, Camilo se defendeu e disse que ele se referia a um “macaco de auditório do Chacrinha”. “Só quer aparecer. Racista? Ele diz isso para aparecer”, disse.
Pouco mais de um ano antes, em junho de 2018, foi a vez do vereador George Hato (MDB) fazer uma denúncia de racismo contra Camilo. Ele chegou a pedir a cassação do colega por injúria racial, após o vereador do PSB gravar um vídeo em que critica Hato e puxa os olhos com as mãos, em um gesto pejorativo para ofender pessoas de origem asiática. “É um cara que faz assim, ó”, diz Camilo no vídeo enquanto puxa os olhos.
Ao BuzzFeed News, à época, Camilo repudiou a denúncia. “Se puxar o olho é racismo, então o que que virou o mundo agora? É tudo preconceito, racismo”, disse. Em dezembro de 2018, o vereador chegou a ser cassado por ser acusado de fraudar a prestação de contas das eleições de 2016, mas foi reconduzido ao cargo pelo ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin.