Em meio à pressão pelo reajuste salarial prometido às categorias policiais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu aumentar o número de convocados em concursos da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal. A princípio, seriam chamados mil novos agentes, mas o chefe do Executivo quer que o número chegue a dois mil.
Questionado sobre o assunto por apoiadores, ontem, na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro chegou a telefonar para o ministro da Justiça, Anderson Torres, pedindo um "aditivo" para ampliar as vagas.
Inicialmente, o chefe do Executivo ligou para o secretário de Desburocratização da pasta, Caio Paes de Andrade. "Aprovou o PLN 01, ok? Aquele concurso da PF e PRF, como é que está aí? Qual o máximo que você pode botar lá, de aproveitar gente lá? Legalmente? 535? Ok, pode ver e me retornar agora?", pediu ao telefone, diante dos apoiadores.
O presidente se dirigiu, então, a uma simpatizante com classificação insuficiente para ser convocada: "São 535, pega (a sua classificação)? Estamos salvando quem pode. Nós fomos muito além do concurso, tá?", acrescentou.
Em seguida, Bolsonaro acionou Torres. "Você pediu quantas vagas para a PF e a PRF, que está lá com o Caio? Qual o teu pedido para cada Força? Se tu passar para mil para cada lado, acha que dá para resolver? Então, faz um aditivo, aí, e pede mil vagas para cada, já que tu está no limite teu. Pode ser? Tem como formar, este ano, essa turma toda? Tem. Então valeu", concluiu.
Ovacionado pelos presentes, o presidente se justificou sobre a medida afirmando que a polícia é lucrativa para o país. Ele aproveitou para alfinetar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, no sábado, disse que o chefe do Executivo "não gosta de gente, gosta de policiais".
"Estou resolvendo a questão da PF, PRF porque são até lucrativas para nós, apreensões, combate à corrupção. Por isso que aquele cara de nove dedos disse que eu não gosto de gente, que só gosto de polícia", ironizou. Posteriormente, Lula se desculpou com a categoria.
Insatisfação
Em nota, a Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef) afirmou que "considera que os aprovados no concurso estão qualificados para ingressar na corporação".
"São concursados que passaram por uma das mais duras seleções do país. Vale lembrar que os concursos para Polícia Federal são longos e caros e que chamar quem já foi testado e aprovado resulta em economia para os cofres públicos", diz a entidade. "Importa ressaltar, ainda, que há previsão orçamentária para o aproveitamento e há necessidade de efetivo para fortalecimento das atividades exercidas pela Polícia Federal", apontou.
Hoje, o deputado Aluisio Mendes (PSC-MA), vice-líder do governo na Câmara, tem encontro marcado com Torres para abordar o prometido reajuste. Ao Correio, no domingo, o parlamentar enfatizou que, se o aumento não sair, haverá problemas com "uma base muito forte do presidente". "Há um clima de insatisfação muito grande, mas eu sou otimista. Há espaço para negociar", destacou.