O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou seu discurso no evento em comemoração ao Dia do Trabalhador ontem, em São Paulo, com um pedido de desculpas aos policiais. Em encontro com mulheres da zona norte da capital, no sábado, o petista havia dito que o presidente Jair Bolsonaro "não gosta de gente, gosta de policial" — declaração que o tornou alvo nas redes sociais.
A líderes sindicais e trabalhadores, Lula afirmou que, na verdade, queria dizer que Bolsonaro gosta é "de milicianos" e "só governa para eles". Ao falar sobre os policiais, disse, ontem, que eles "muitas vezes, cometem erros, mas, muitas vezes, salvam o povo trabalhador". "E nós temos de tratá-los como trabalhadores", enfatizou, pedindo desculpas aos que se sentiram ofendidos.
O petista chegou à Praça Charles Miller, no Pacaembu, com mais de três horas de atraso devido ao baixo quórum no horário marcado inicialmente para a sua participação. Organizadores resolveram postergar o discurso de Lula para o meio da tarde, próximo ao show da cantora Daniela Mercury, a fim de atrair mais público.
No ato em homenagem ao Dia do Trabalhador, os petistas preferiram concentrar os discursos na alta da inflação e nos números do desemprego. Lula falou em regulamentar a atividade dos motoristas de aplicativo e impedir a privatização da Eletrobras.
Em Brasília, o estacionamento da Funarte foi local de manifestação da Central Única dos Trabalhadores (CUT). O evento exibiu, ao vivo, o discurso de Lula em São Paulo. Presidente da CUT, Rodrigo Rodrigues comemorou a volta de atos presenciais e destacou a importância do Dia do Trabalhador.
"Lutamos contra o congelamento dos investimentos sociais que enfrentamos desde o golpe de 2016", ressaltou, em referência ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Durante todo o ato, bandeiras a favor do Lula e contra Bolsonaro eram erguidas, com pedidos por reajustes salariais.
Na avaliação da pedagoga Elizabeth Galvão, 65 anos, a manifestação foi importante na luta "pelo emprego do povo". "Ninguém aguenta mais isso. O povo sem emprego e sem comer, desassistido", criticou.
Ativista e drag queen, Erivan dos Santos, mais conhecido como Ruth Venceremos, salientou que o ato está relacionado com a história do país. "A memória do dia 1º de Maio é defender o direito do povo, lutar pela questão da reforma trabalhista, que não gerou mais emprego e só precarizou a situação dos trabalhadores", frisou.
A professora Stella Montalvão, 57, disse ter sentido impulso para comparecer ao evento. "Vim porque eu sabia que meu espaço tinha de ser aqui. E vai ser cada vez mais importante lutarmos por isso, pela garantia do que conquistamos. É um descaso o que a nossa educação e o nosso povo estão sofrendo", argumentou.
Políticos também marcaram presença, como a deputada federal Erika Kokay (PT-DF). "Nós estamos sofrendo uma série de ataques aos direitos dos trabalhadores. Não apenas os direitos que foram arduamente conquistados, mas também temos o nível de desemprego, a inflação alta e a destruição da renda", sustentou. "Mais do que nunca, é preciso lembrar que o Dia do Trabalhador é a sua origem, a luta pela jornada de trabalho, que todos os dias sofrem ataques em função da tentativa de precarização e do rompimento de direitos."
Houve manifestação a favor de Lula, também, na 108 Norte. Entre as reivindicações, a revogação da reforma trabalhista e a defesa da estabilidade dos servidores públicos.
Outros atos contra Bolsonaro ocorreram em mais 15 capitais, entre as quais, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Florianópolis e Manaus. (Tainá Andrade, Edis Henrique Peres e Agência Estado)