O PL vai dedicar à primeira-dama Michelle Bolsonaro 30% do tempo destinado ao presidente Jair Bolsonaro na propaganda partidária no rádio e na televisão. A estratégia é se comunicar diretamente com o eleitorado evangélico e feminino. Ao lado da ex-ministra Damares Alves (Republicanos), ela terá agendas próprias pelo Brasil para trabalhar na campanha do marido.
O partido terá direito a 40 inserções, de 2 a 11 de junho. Em 12 desse total a primeira-dama aparecerá. A ideia é, por meio de dela, apresentar uma imagem mais suave do presidente.
Michelle se filiou à sigla na terça-feira passada, mas está em campo há mais tempo. Ela tem participado de agendas de Bolsonaro pelo país e até discursado.
Articuladores do presidente afirmam que a imagem de Michelle é positiva para cativar o eleitorado que ainda o rejeita, especialmente as mulheres.
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam que elas formam a maior fatia de eleitores no Brasil: são 79,2 milhões, contra 70,5 milhões de homens.
Pesquisa Datafolha da semana passada mostrou que Bolsonaro tem 33% de intenção de votos femininos, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) soma 49%.
O uso da imagem da primeira-dama também busca consolidar o eleitorado evangélico, em que o presidente está bem avaliado. Segundo o Datafolha, ele tem 39% dos votos desse segmento, enquanto Lula aparece com 36%.
Uma das bandeiras que Michelle levantará será do empreendedorismo, mas ainda não está como se dará a atuação dela.
Questionado se houve algum encontro com a primeira-dama para abordar o assunto, o deputado federal Marco Bertaiolli (PSD-SP), presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, afirmou que ainda não teve agenda com Michelle. Contudo, considera uma "boa ideia" tê-la como aliada nessa pauta.
Para analistas, a estratégia pode ser válida, mas o discurso precisa estar alinhado. "Como a imagem dele (Bolsonaro) vem desgastada em outras áreas, pode ser considerado um novo rosto de campanha. Um rosto que as pessoas têm mais simpatia, proximidade e reciprocidade. Ajuda na comunicação, sim, mas não faz milagre", frisou Eliane Alencar, consultora política e estrategista digital. "É necessária uma harmonia dos lados. O discurso do político precisa conversar com a da apoiadora. Caso contrário, se torna uma estratégia ineficaz. Não adianta ter uma pauta, e o candidato, de repente, esquecer isso no discurso, ou não colocar em prática", acrescentou.
Na mesma linha, o cientista político André Cézar, sócio da Hold Assessoria, afirmou que tudo é estratégia baseada em pesquisas internas para avaliar as fragilidades importantes de cada campanha. Segundo ele, o PL tem ciência dos pontos fracos, mas a imagem de Michelle pode não ser tão eficaz. "O público feminino é um calcanhar de aquiles de Bolsonaro. Ele vai ter de usar (Michelle) na campanha para tentar reverter esse quadro. Mas não creio que será bem-sucedido", destacou. "A questão mais importante ainda é a economia, é o ponto nevrálgico para a sociedade, e todo mundo está sentindo. Esse é o problema. Não vejo com grande êxito ou que vá mudar o quadro geral de fortalecimento do Bolsonaro", emendou.
Ainda não há informações sobre como serão as inserções de Michelle, mas as de Bolsonaro já começam a surgir. Na semana passada, ele esteve na Capela São Pedro Nolasco, na Vila Telebrasília, para gravar as primeiras delas. O presidente aparecerá de forma descontraída em conversa com jovens e mulheres frequentadores da igreja.
Nas mensagens para cada estado, às quais o Correio teve acesso, ele destaca, além dos feitos de seu governo, a pauta de costume. "Somos contra o aborto e a favor da vida. Sem pandemia, sem corrupção e com Deus no coração, ninguém segura este novo Brasil", afirma.
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