Com a escalada da inflação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem lançado mão de um pacote de bondades para tentar aliviar o bolso dos brasileiros e, consequentemente, tentar recuperar popularidade. A estratégia, no entanto, ainda não surtiu efeito. Pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada esta semana, mostrou que 54% dos eleitores responderam que não votariam de jeito nenhum no atual chefe do Executivo.
A maioria dos beneficiários do programa Auxílio Brasil, por exemplo, afirmou que votará no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de outubro. Segundo o levantamento, 59% dos contemplados com a ajuda financeira preferem o petista, ante 20% que escolhem Bolsonaro. Substituto do Bolsa Família, o Auxílio Brasil teve o valor reajustado pelo chefe do Executivo, para R$ 400, e contempla, este mês, 18 milhões de famílias.
Outra estratégia implementada pelo presidente foi a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 25%, cujo impacto fiscal é de cerca de R$ 20 bilhões — metade arcada pela União e a outra metade por estados e municípios. Foi liberado ainda, sem custo fiscal, o saque extra de até R$ 1 mil do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para os trabalhadores; e antecipado o 13º de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
As medidas de Bolsonaro, porém, não têm surtido o efeito desejado. Ainda segundo o Datafolha, Lula tem 48% de intenções de votos, contra 27% do presidente.
Desgaste
Para o economista e analista político Másimo Della Justina, parte dessas ações pode, inclusive, desgastar a imagem de Bolsonaro. "Se ele e sua equipe se elegeram em cima de uma pauta de privatização, como foi o caso, e o governante, numa atitude desesperada, faz um pacote de bondade, as pessoas não entendem isso como boa governança. Entendem como uma contradição e uma intervenção inadequada na economia", argumentou.
A inconsistência no discurso pode gerar desconfianças no eleitor que ainda é instável, sustentou o especialista. "Há maior maturidade política no Brasil. No caso do FGTS, as pessoas sabem que o governante liberou uma renda que, na prática, é do cidadão. Essa maturidade nos permite agora falar do 'voto do estômago'. É querer aliviar a fome de quem está com fome para transformar isso num voto, que é a estratégia do Auxílio Brasil", frisou Della Justina.
Jackson de Toni, professor de economia do Ibmec Brasília, acredita que a conjuntura atual, que engloba uma crise sanitária e de desemprego, justifica as medidas de programas de distribuição de renda. "O que acontece é que nem sempre há uma correspondência entre a preferência do eleitorado e os benefícios de programas do governo. Essa relação não é mecânica, ela é mediada e é influenciada por uma série de outras variáveis", destacou.
Segundo a avaliação do professor, as medidas que estão sendo tomadas são insuficientes para conter "a deterioração do quadro econômico político-social", o que é agravado pela polarização Lula-Bolsonaro para as eleições de outubro. "A polarização política é uma realidade no Brasil, com predominância do discurso de ódio, pouco diálogo entre as forças políticas. Isso gera dificuldade em formar uma visão de futuro relativamente consensual e estável e prejudica a nossa democracia", frisou.
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