O deputado federal Lincoln Portela (PL-MG) foi eleito, ontem, o novo vice-presidente da Câmara dos Deputados e fez prevalecer a vontade do partido sobre a do Palácio do Planalto — que atuou para ver a ex-ministra da Secretaria-Geral da Presidência, Flávia Arruda (DF), ocupando o posto em que estava Marcelo Ramos (PSD-AM), crítico do presidente Jair Bolsonaro (PL) e destituído por causa da troca de partido. Portela, que é pastor, obteve o apoio maciço da bancada evangélica e recebeu 232 dos 406 votos computados.
Antes de apostar as fichas em Flávia, o Planalto pressionou para que o deputado Major Vitor Hugo (GO) fosse o indicado do PL. Mas o presidente Valdemar Costa Neto fez valer seu controle sobre a bancada e o agora vice-presidente da Câmara foi escolhido na votação interna.
O impasse entre bolsonaristas deflagrou um desconforto na base aliada. Isso porque um setor importante do PL já vê interferência excessiva de Bolsonaro nas articulações partidárias — e, em protesto, bancou a candidatura do parlamentar mineiro para tentar frear o avanço da influência do presidente. Portela se encontrou, na quarta-feira, com o líder da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que sustentou a indicação. Esteve também com o chefe do Executivo para deixar claro que não se retiraria da disputa.
Isso não impediu, porém, que houvesse candidaturas avulsas para tentar dividir os votos que elegeram Portela para o segundo cargo mais importante da Câmara — e, assim, impor a vontade do Planalto. Só que a manobra não funcionou: Flavia recebeu 84 votos; Fernando Rodolfo (PE), 40; Capitão Augusto (SP), 24; e Bosco Costa (SE), 11.
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Destituição
Portela foi eleito dois dias depois de o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), destituir Marcelo Ramos do cargo. O argumento do comandante da Casa é que a vice-presidência pertence ao PL e que o deputado amazonense, ao deixar o partido para se filiar ao PSD, perdeu as condições de permanecer no posto.
Para tirar Ramos da vice-presidência, o PL entrou com ação judicial pela troca de partido. O deputado foi ao Tribunal Superior Eleitoral para garantir sua permanência e chegou a conseguir uma liminar a seu favor. No entanto, o ministro Alexandre de Moraes, vice-presidente do TSE, suspendeu a decisão e permitiu que o Legislativo decidisse sobre a composição da Mesa Diretora.
O ato de Lira também promoveu duas alterações: para a 2ª Secretaria, foi eleito o petista Odair Cunha (MG) para substituir Marília Arraes (Solidariedade-PE); na 3ª Secretaria, a deputada Geovania de Sá (PSDB-SC) entrou na vaga deixada por Rose Modesto (União-MS).
Três perguntas para Lincoln Portela
O senhor integra a base do governo. Mas, como vice-presidente, terá de dialogar com todos os leques ideológicos da Câmara. Prevê dificuldades nesta tarefa?
Sou governo, tenho minha consciência política e tenho minha consciência cristã. Mas na Casa, sou vice-presidente de todos: da esquerda, do centro, dos ateus, dos cristãos, dos afrodescendentes, daqueles que são de outras religiões. Fui presidente da Comissão de Legislação Participativa (CLP), uma comissão plural, na qual sempre se abriu espaço para todos os segmentos e pensamentos políticos.
De acordo com o que se escutou nos bastidores, o presidente Jair Bolsonaro fez força para o PL lançar Major Vitor Hugo. Depois, trabalhou pelas candidaturas avulsas e por Flávia Arruda. Ficou alguma mágoa?
O presidente não entrou nisso, não entrou na disputa nem com o Major Vitor Hugo nem comigo. O presidente foi bem isento nesse sentido. Sobre as candidaturas avulsas, acho muito boas para o sistema. A democracia partidária é uma festa e é importante que se dê espaço para todos. Fiquei muito tranquilo com a minha condução para a vice-presidência.
Em discurso ontem, seu antecessor na vice-presidência, deputado Marcelo Ramos, disse que a destituição dele foi por interferência do Executivo. O que o senhor pensa a respeito?
É um posicionamento democrático, republicano; é o livre direito de expressão. Ele tem direito de expressar as opiniões e os sentimentos dele. É um homem firme e decidido, algo natural no sistema democrático.
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