Um dia após ser destituído do cargo na mesa diretora da Câmara dos Deputados, o deputado Marcelo Ramos (PSD-AM) discursou na tribuna, na noite desta terça-feira (24/5). Ramos definiu como “uma decisão política perigosa” a sua retirada da vice-presidência, especialmente por não ter se calado diante dos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Zona Franca de Manaus.
"Essa não é uma decisão regimental ou jurídica: é uma decisão política. É uma decisão política perigosa, porque atenta contra a liberdade e autonomia desse poder. Quando o Executivo ataca a democracia é perigoso. Quando o Legislativo se consorcia com o Executivo para atacá-la, é mortal. Quero de pronto dizer que respeito a decisão, e cumpro, do ministro Alexandre de Moraes, que não julgou o mérito, mas a incompetência do TSE”, disse o parlamentar em seu discurso.
Segundo Ramos, foi necessário que decidisse entre defender o estado que o elegeu, ou manter-se em silêncio para segurar o cargo. “Eu decidi: meu lado é o lado do povo do Amazonas”, relatou.
Por fim, direcionou-se ao presidente da Casa, o deputado Arthur Lira (PP-AL): “Presidente Arthur Lira, o senhor não ganha um inimigo, nem mesmo um adversário, seguirei respeitando a vontade da maioria dos colegas que o legitima como presidente da Casa”.
Em resposta, Lira reiterou que nem sempre “as decisões são do agrado”, mas que deve representar aos deputados. “Eu nunca representei a mim mesmo, mas aos 513 deputados e deputadas. Em respeito a todos os senhores e senhoras, não reagirei a nenhum tipo de qualquer deputado dessa casa de lacrações palanqueiras e de celeumas de redes sociais. Seguirei em frente, sempre trabalhando pelo bem de nosso regimento”, frisou.
Lira defendeu o cumprimento do regimento, que garante decisões baseadas na maioria, e disse que tentou manter o vice na posição. “Por consideração ao meu vice, que sempre tive com ele um bom relacionamento, fui negligente, fui leniente, e desde fevereiro, quando ele mudou de partido, tentei todas as composições partidárias para que não houvesse a reclamação da proporcionalidade partidária do Partido Liberal”, disse Lira, que complementou citando que as deputadas Rose Modesto (União-MS) e Marília Arraes (Solidariedade-PE) trocaram de legenda na janela partidária e que “pacientemente e educadamente cumpriram o regimento”.
“Não existem super deputados nesta casa, que representem os seus estados nessa Casa, e não houve sequer nenhuma ingerência de nenhum outro poder neste. Recorremos, pedindo reconsideração à justiça eleitoral, pasmem: de um membro da mesa provocando para impedir que o regimento desta casa fosse cumprido. Pacientemente esperei um mês sem dar uma entrevista para um jornal, nenhuma fala para nenhum deputado, nenhum tipo de declaração, respeitosa e silente com nosso regimento e com a nossa casa. Agora, enquanto presidente for, tendo respeito da maioria dos nossos membros, o regimento desta casa não fará diferença entre A, B, Z”, apontou.
Entenda a saída de Ramos
Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, o deputado federal, Marcelo Ramos (PSD-AM) foi destituído da vice-presidência da mesa diretora da Câmara dos Deputados na segunda-feira(23/5). O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), já convocou eleições internas para escolher o substituto. Segundo a decisão, o cargo de vice-presidente da Câmara ocupado por Ramos estava vinculado ao seu antigo partido, o PL, pelo qual foi eleito para ocupar a cadeira.
Opositor incisivo do presidente Jair Bolsonaro (PL), Marcelo Ramos saiu do PL com a chegada de Bolsonaro. Com sua ida para o PSD, o deputado federal fez um acordo com Valdemar Costa Neto — presidente do PL — para continuar no cargo. Com a retirada de seu nome da mesa diretora, contudo, o acordo não foi cumprido.
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