Guedes em Davos

Capítulo melancólico de uma crônica ainda incerta

Correio Braziliense
postado em 24/05/2022 00:01

Mais do que o poder em si, a política vive da expectativa de poder. E João Doria não tinha mais o que oferecer ao PSDB e aos aliados da terceira via além da sua própria convicção de que seria um candidato competitivo nas eleições presidenciais. A desistência do pré-candidato tucano, em que pese a legitimidade conquistada nas prévias do partido, foi o desfecho melancólico da crônica do poder perdido. Doria já estava fora, faltava apenas admitir. Foi isso que ele fez ontem.

Um dia, a ciência social estudará o caso da ascensão e queda de um fenômeno da política brasileira. Em uma carreira meteórica, venceu duas eleições em seis anos, para a prefeitura de São Paulo e ao governo do estado. Mas, agora, como diz a famosa saudação francesa às sucessões monárquicas, "o rei morreu, viva o rei!". No caso, viva a rainha, a senadora Simone Tebet, sobre cuja cabeça deverá ser consagrada a coroa da terceira via, na união dos reinos do MDB, PSDB e Cidadania, se as articulações de Aécio Neves e companhia não prosperarem no sentido de melar o jogo novamente e retomar o debate em torno da candidatura própria.

Internamente, a saída do ex-governador paulista desobstrui as articulações regionais para montagem dos palanques nos estados. O temor de naufrágio da pré-candidatura tucana estava afastando possíveis aliados, uma preocupação que foi explicitada na reunião da Comissão Executiva da semana passada pelos pré-candidatos a governador do partido. No centro dessa discussão está o estado do São Paulo, cuja hegemonia tucana se mostra em perigo.

O atual governador, Rodrigo Garcia — neotucano egresso do DEM que sucedeu Doria no Palácio dos Bandeirantes após a desincompatibilização do então gestor —, patina nas pesquisas. Para o grupo que apoia Garcia, a rejeição do eleitorado a Doria, captada nas pesquisas de opinião, poderia pôr a perder a joia da coroa tucana, o governo do mais rico e importante estado do país.

A novela em que se transformou o processo de fritura do ex-governador paulista ganhou um desfecho, mas está longe de decretar ponto final à história. Pela quantidade de perguntas sem respostas (ainda), previa-se que uma nova temporada já estivesse programada para começar hoje, em Brasília, quando as comissões executivas dos três partidos anunciariam, com pompa e solenidade, a aprovação do nome de Tebet para encabeçar a chapa da terceira via. Só que não. O PSDB adiou a sua própria decisão, atendendo à pressão da ala 'aecista' que quer emplacar uma candidatura própria e devolve à mesa de jogo as cartas de Tasso Jereissati e Eduardo Leite.

A única certeza nesse enredo sem fim é que Doria deixa de ser vidraça e transfere para a cúpula do PSDB a responsabilidade sobre o fracasso ou o sucesso das candidaturas apoiadas pelos tucanos. Mas isso é outra história. (VD)

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags