Mais do que o poder em si, a política vive da expectativa de poder. E João Doria não tinha mais o que oferecer ao PSDB e aos aliados da terceira via além da sua própria convicção de que seria um candidato competitivo nas eleições presidenciais. A desistência do pré-candidato tucano, em que pese a legitimidade conquistada nas eleições prévias do partido, foi o desfecho melancólico da crônica do poder perdido. Doria já estava fora, faltava apenas admitir. E foi isso que ele fez hoje.
Um dia, a ciência social estudará o caso da ascensão e queda de um fenômeno da política brasileira. Mas, agora, como diz a famosa saudação francesa às sucessões monárquicas, “o rei morreu, viva o rei!”. No caso, viva a rainha, a senadora Simone Tebet, sobre cuja cabeça será consagrada a coroa da terceira via, na união dos reinos do MDB, PSDB e Cidadania. A tríplice aliança afastou o último obstáculo para marchar junta na corrida presidencial.
Internamente, a saída do ex-governador paulista também desobstrui as articulações regionais para montagem dos palanques nos estados. O temor do naufrágio da pré-candidatura tucana estava afastando possíveis aliados, uma preocupação que foi explicitada na reunião da Comissão Executiva da semana passada pelos pré-candidatos a governador do partido. No centro dessa discussão está o estado do São Paulo, cuja hegemonia tucana se mostra em perigo. O atual governador, Rodrigo Garcia – neotucano egresso do DEM, que sucedeu Doria no Palácio dos Bandeirantes após a desincompatibilização do então mandatário -, patina nas pesquisas. Para o grupo que apoia Garcia, a rejeição do eleitorado a Doria, captada nas pesquisas de opinião, poderia pôr a perder a joia da coroa tucana, o governo do mais rico e importante estado do país.
A novela em que se transformou o processo de fritura do ex-governador paulista ganhou um desfecho, mas está longe de decretar ponto final à história. Pela quantidade de perguntas sem resposta (ainda), não é arriscado prever que uma nova temporada já esteja programada para começar a partir de amanhã (24/5), em Brasília, quando as comissões executivas dos três partidos anunciarão, com pompa e solenidade, a aprovação do nome de Tebet para encabeçar a chapa da terceira via.
O que foi ofertado a Doria para que desistisse da disputa? A vaga de vice na chapa de Tebet? Um cargo? Uma promessa de poder? Que satisfação será dada aos 17 mil filiados do partido que confiaram a Doria a liderança tucana na campanha para a Presidência? Doria vai submergir, se afastar da política? A única certeza é que o ex-governador deixa de ser vidraça e transfere para a cúpula do PSDB a responsabilidade sobre o fracasso ou o sucesso das candidaturas apoiadas pelos tucanos. Mas isso é outra história.
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