É essencial que os brasileiros se mobilizem democraticamente e não permitam que o discurso anti-democrático de Jair Bolsonaro (PL) prevaleça. É o que diz o pré-candidato a deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP). Segundo ele, o Brasil vive uma encruzilhada entre a democracia e a barbárie.
"Bolsonaro formou uma milícia política no país, e ele pode querer mobilizar esse público para criar um estado e situação de caos. E qual o antídoto que a população brasileira pode ter contra isso? Se mobilizar, se organizar, fazer uma grande mobilização democrática e não permitir que esse discurso autoritário permaneça."
Professor, bacharel em filosofia, psicanalista, ativista, político e escritor, Boulos é membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, sendo reconhecido como uma das principais lideranças da esquerda no Brasil. Nesta terça-feira (17/5), ele lançou o seu livro, Sem medo do futuro, em Brasília, e participou do CB.Poder — programa do Correio em parceria com a TV Brasília. Confira alguns trechos da conversa:
Sem medo do futuro fala das questões do país. O livro traz mais soluções ou problemas?
Eu vim hoje aqui a Brasília com dois objetivos: o lançamento da pré-candidatura do Raphael Sebba, deputado federal pelo PSol e, também, o lançamento do meu livro, que foca mais em soluções do que em problemas, porque de problemas a gente já está cheio, não precisa escrever um livro. Teria que escrever tomos e tomos de livros para falar de problemas do Brasil de hoje. O objetivo deste livro é refletir um pouco sobre como chegamos aqui. O Brasil está em um atoleiro. O Brasil tem um presidente da República que praticou um morticínio na pandemia, ele fez com que o terceiro produtor de alimentos do mundo voltasse ao mapa da fome. É um presidente que fez a inflação, depois de 30 anos, assombrar o povo brasileiro. E a reflexão é um pouco sobre como chegamos, sobre que Brasil é esse que colocou o Bolsonaro no poder. E sobretudo fala da parte de como nós podemos pensar em uma saída, um Brasil pós-Bolsonaro.
Você foi candidato a presidente e teve um desempenho bastante significativo na disputa a prefeitura de São Paulo. Por que não ser candidato novamente à Presidência ou disputar o governo de SP?
Eu poderia ser candidato novamente à Presidência representando meu partido, como fui em 2018, mas eu acho que a gente tem que ter em mente a situação extraordinária em que o Brasil está vivendo. Não estamos vivendo um ano qualquer e uma eleição qualquer. A eleição de 2022 não é entre dois candidatos, entre dois projetos políticos no campo democrático. É uma escolha, uma encruzilhada entre a democracia e a barbárie. Eu sequer consigo imaginar o que seria do Brasil com a reeleição de Bolsonaro, com suas tentações autoritárias, seu descaso e indiferença com a vida do povo brasileiro. Então, eu acho que há momentos em que precisamos colocar até as diferenças em segundo plano, os projetos pessoais em segundo plano, e atuar por um bem maior. Por isso, eu decidi não ser candidato a presidente nem ser candidato a governador de São Paulo. Estava com 12% nas pesquisas e estava bem posicionado nas disputas. Eu defendo que se construa uma unidade em torno do Fernando Haddad (PT) para a gente derrotar, lá em São Paulo tem um capítulo Nacional que quer tirar o Bolsonaro. O pessoal fala que São Paulo é o estado mais avançado, mais rico do Brasil, mas é também uma capitania hereditária com o mesmo grupo político há 28 anos, que é o PSDB, e eu acho que nós precisamos estar unidos para tirá-los de lá.
O fato curioso é que o governador de SP, em muitos desses 28 anos, era Geraldo Alckmin, que agora está com Lula. É difícil para vocês do PSol digerir um pré-candidato a vice-presidente que antes era do PSDB na chapa do Lula?
Certamente se a escolha fosse do PSol não seria o Alckmin. Eu digo não só como militante político do PSol, mas como alguém que trabalhou e foi professor em escola pública durante o governo dele em São Paulo. O descaso com a educação, professores que iam se manifestar e não eram recebidos. Eu sou militante de luta por moradia há mais de 20 anos e o governo dele foi marcado por despejos. Então, eu coloquei, desde o princípio, a minha insatisfação com essa indicação. Agora, repito aqui, nós estamos vivendo um momento que é grave na história do país. Então, o fato de eu ter as diferenças públicas e notórias com o Alckmin não vai me impedir de fazer campanha para o Lula, não impediu o PSol de definir pelas suas instâncias e militâncias, de compor a chapa com Lula. Porque este ano nós temos algo muito maior que é virar essa página do pesadelo que o Brasil está vivendo.
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Eu vi nas suas redes sociais que você lançou um desafio aos seguidores, perguntando se vai ter golpe no Brasil, lançando sua ideia e dizendo que é preciso vencer nas urnas e na rua. O que você quer dizer com isso?
Olha, o Bolsonaro, desde o início do seu governo, coloca uma faca no pescoço dos brasileiros ameaçando com saídas golpistas. Ele fez isso no ano passado, no 7 de Setembro, aqui em Brasília, ameaçando invadir o Supremo (Tribunal Federal), greve dos caminhoneiros. Nunca desceu do palanque. Desde 2018, ele atua como chefe de gangue. Ele não fala para o Brasil, nunca falou. Mas a gente tem que ter em mente que, apesar desse discurso dele, ele está o tempo todo pautando AI 5, ditadura, defendendo tortura, questionando urna eletrônica e questionando o sistema eleitoral ao qual ele mesmo foi eleito. Então, ele faz isso toda hora, sem coerência, para usar como cortina de fumaça. Ele tenta colocar a agenda do país para discutir isso em vez de discutir o preço da gasolina, a responsabilidade dele no desmonte da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e das políticas de fomento de agricultura familiar, inflação de alimentos, desemprego, fome. Então, ele tenta desviar de temas incômodos para ele e sobre os quais ele não tem resposta. Mas não é só cortina de fumaça. Foi isso que eu disse no Twitter hoje, colocando esse debate. Se dependesse só dele, eu não tenho dúvida que ele arrumaria uma saída autoritária no país.
Vai ter golpe no Brasil?
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) May 17, 2022
Esse risco realmente existe ou é só cortina de fumaça?
Segue o
Mas você acha que existe clima no país, que as Forças Armadas aceitariam um golpe desse?
Eu acho que é esse o ponto, o Bolsonaro gostaria de dar um golpe, desejaria fechar o Supremo, o Congresso. Aliás, ele diz isso a todo momento. Agora, eu acho que 2022 não é 1964. Até as condições internacionais não são mais as mesmas. Mesmo que Bolsonaro e os bolsonaristas queiram, qual é a preocupação? É do Bolsonaro mobilizar a sua milícia privada. Nós tivemos, desde que ele entrou no governo. Aumentou o número de concessões de licença de arma de 200 mil para 650 mil, que é o número atual. Mais que triplicou. O Bolsonaro mobiliza parte desses grupos do clube de tiro para atuar em sua defesa. Então, ele formou uma milícia política no país, esse público ele pode querer mobilizar para criar um estado e situação de caos. E qual o antídoto que a população brasileira pode ter contra isso? É se mobilizar, se organizar, fazer uma grande mobilização democrática e não permitir que esse discurso autoritário permaneça.
Então seu receio é que, em uma vitória do ex-presidente Lula, nas comemorações nas ruas, essas milícias reajam?
Eu tenho o receio que a campanha deste ano seja uma campanha marcada por violência política, pois esse é o discurso do Bolsonaro o tempo todo. Fica usando a religião para fazer politicagem e, olha, eu não vejo nada de cristianismo, nunca vi uma palavra de solidariedade, seja ao mortos da pandemia da covid, seja para as famílias, nenhuma palavra de amor ao próximo, solidariedade. Só tem palavra de ódio de arma, de morte, de violência. Então, esse discurso de ódio dele se propaga.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro
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