O discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), ontem, em São Paulo, no evento que marcou o lançamento da pré-candidatura da frente de partidos de esquerda e centro-esquerda às eleições presidenciais, deixou evidente que os adversários vão explorar o principal flanco exposto do presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ). Dar centralidade às dificuldades econômicas do país e, em particular, da população que sofre com a inflação e o desemprego, é passo calculado e estratégia já adotada pelos pré-candidatos João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT).
Com Lula, fecha-se o cerco de isolamento da chamada pauta de costumes, que envolvem questões ligadas à sexualidade, à família e à religião — temas como o suposto avanço ou retorno do comunismo, facilitado por uma pauta "globalista", também se inserem nesse pacote. A estratégia tem o objetivo de deixar o debate sobre temas pouco concretos circunscrito a Bolsonaro e seus seguidores mais fiéis na internet.
A estratégia de chamar para o centro do ringue as questões relacionadas diretamente ao bolso do cidadão-contribuinte-eleitor foi primeiramente adotada pela pré-campanha de Doria, que a expôs na propaganda partidária. "A economia é o que se coloca como questão principal sobre a vida dos brasileiros. É fundamental apresentar uma agenda de soluções para a inflação, a retomada do crescimento e a distribuição de renda", diz o coordenador da campanha do ex-governador de São Paulo, Marco Vinholi.
Sem delírios
Mas ele ressalta que o eleitor sabe diferenciar promessas de campanha efetivamente viáveis daquelas pouco factíveis apresentadas pelos candidatos nos programas eleitorais. "Os programas devem estar calçados em modelos exequíveis. Há muita proposta estapafúrdia, e o eleitor percebe rapidamente o que é falso", observa.
Os programas do PSDB exibidos na propaganda partidária de rádio e TV foram produzidos para destacar o desenvolvimento econômico de São Paulo sob o comando de Doria, com foco nos investimentos e em programas de geração de renda e emprego.
A pré-candidata Simone Tebet concorre com Doria na disputa pela cabeça de chapa do chamado centro democrático, hoje restrito a MDB, PSDB e Cidadania. Nas viagens que tem feito pelo país em busca de apoio, a senadora sempre marca reuniões com empresários, principalmente do agronegócio e do setor de inovação e empreendedorismo. Nas entrevistas, faz questão de frisar o difícil momento econômico do país, e de responsabilizar o atual governo pela crise.
Um dos alvos de Tebet é a classe média, que costuma se engajar com mais antecedência nos debates eleitorais — mas, neste ano, segundo a candidata, está mais preocupada com sua própria situação. "Como hoje (a classe média) está devendo no cartão de crédito, não porque parcelou uma viagem, mas porque está pagando supermercado, comprando comida, as pessoas não querem saber de política", disse a senadora no encontro que teve no Rio Grande do Sul, na última sexta-feira.
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