COLUNA

Nas entrelinhas: Lula resgata seu velho slogan da esperança

"Não foi à toa que Lula bateu tanto na gestão social e na política econômica de Bolsonaro, muito mais do que nas questões de ordem institucional. É o ponto mais fraco do governo"

Luiz Carlos Azedo
postado em 08/05/2022 06:00
 (crédito: Maurenilson Freire)
(crédito: Maurenilson Freire)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oficializou, ontem, em São Paulo, a candidatura a presidente da República, tendo o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) como vice. A chapa "lula com chuchu" é uma frente de esquerda formada também por PSol, PCdoB, PV e Rede. Lula fez uma defesa enfática de sua passagem pela Presidência, lembrou as realizações de seus dois mandatos, prometeu defender a soberania do país, restabelecer as políticas sociais de seu governo e retomar o crescimento, com redistribuição de renda. Disse ter sido perseguido judicialmente, mas não guardar rancor, e conclamou todos os democratas a apoiá-lo contra Jair Bolsonaro. E deixou claro que a ex-presidente Dilma Rousseff, presente ao encontro, pelo fato de ter sido presidente da República, não fará parte do seu governo.

O petista foi antecedido por Alckmin, que não compareceu ao ato por estar com covid-19. Fez um longo discurso em apoio a Lula, que qualificou como a única via da esperança para garantir a democracia e derrotar Bolsonaro. Bem-humorado, disse que "chuchu com lula" será um hit culinário, numa alusão ao apelido que ganhou na política por seu perfil moderado, sem arroubos de oratória. Foi um discurso com o claro propósito de atrair os eleitores mais conservadores e liberais, porém sem margem de dúvida quanto à lealdade ao petista.

Entre uma fala e outra, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, que está noiva de Lula, ofereceu como presente de casamento um vídeo gravado por vários artistas, entre os quais Martinho da Vila, Zélia Duncan, Maria Rita e Lenine, no qual o velho slogan da música de campanha de 1989 (Sem medo de ser feliz") foi resgatado: Lula lá, brilha uma estrela/ Lula lá, cresce a esperança. O refrão foi lançado para o segundo turno da campanha presidencial. Apesar de Lula ter perdido a eleição para Fernando Collor de Mello, até hoje o jingle embala as campanhas petistas. Ontem, no Expo Center Norte, na Zona Norte da capital paulista, não foi diferente.

O lançamento da chapa Lula-Alckmin ocorre com vento a favor da oposição ao governo Bolsonaro, principalmente no aspecto econômico. Na pesquisa Ipespe, divulgada na sexta-feira, para 63% da população a economia brasileira está no caminho errado, contra 32% que pensam o contrário. Muitos estão ganhando dinheiro com o atual governo, mas a maioria da população está sofrendo com o desemprego, a redução da renda familiar, a inflação nas alturas e os juros na lua.

Conjuntura adversa

Só não é uma tempestade perfeita porque a pandemia de covid-19 foi contida pela vacinação. A inflação é pressionada por fatores que Bolsonaro não controla, sem falar nos erros do próprio governo. O conflito militar entre Rússia e Ucrânia e fatores internos, como problemas climáticos e as incertezas políticas deste ano, puxarão os índices de preços pelo menos no primeiro trimestre. Nos Estados Unidos, por exemplo, a inflação ao consumidor atingiu 8% em 12 meses, o nível mais alto desde 1982. Na zona do euro, chegou a 5%, alcançando o maior patamar desde a criação da moeda única no continente europeu.

O preço internacional do barril de petróleo subiu para perto de US$ 100, cinco vezes acima do que na fase aguda da pandemia, quando a cotação chegou a cair para US$ 19. Outras fontes de energia, como carvão e urânio, também ficaram mais caras. O aumento da demanda global e a política de lockdowns em zonas industriais e portuárias da China, para conter o avanço da covid-19, provocaram escassez de insumos e de mercadorias importadas.

Produtos industrializados passaram a ficar mais caros, com filas de duas a três semanas em vários portos para descarregar mercadorias. Os fretes quadruplicaram ou quintuplicaram, dependendo do produto, o que eleva ainda mais os custos. A seca no Sul e as enchentes em Minas Gerais e no Nordeste influenciaram ainda mais a alta de preços no começo deste ano. Com o barril caminhando para US$ 90, não adianta nada Bolsonaro pôr a culpa da inflação da Petrobras, que é obrigada a praticar preços de mercado. Com a crise energética global e a desvalorização do real, o Brasil importa inflação de outros países.

Não foi à toa que Lula bateu tanto, ontem, na gestão social e na política econômica de Bolsonaro, muito mais do que nas questões de ordem institucional. Segundo a mesma pesquisa do Ipespe, o peso da agenda econômica na decisão de voto dos eleitores subiu de 23% para 47%. O governo Bolsonaro tem 62% de desaprovação. Apesar das pisadas de bola em entrevistas — como aquela em que equiparou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que ordenou a invasão da Ucrânia —, Lula manteve seu favoritismo: 44% de intenções de votos, um a menos do que na pesquisa passada, contra 31% de Bolsonaro, que se manteve nesse patamar. Ciro Gomes tem 8%; João Doria, 3%; André Janones, 2%; Simone Tebet, 1%; e Felipe D'Ávila, 1%. No segundo turno, Lula venceria Bolsonaro com 20 pontos de diferença: 54% a 34%.

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