Cinco dias após a compra do Twitter pelo bilionário Elon Musk - o ser humano mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 219 bilhões (R$ 1,021 trilhão), segundo a Forbes - a quantidade de publicações suspeitas na rede social triplicou. A consultoria .Map, especializada em inteligência na análise de dados e mídias, analisou cerca de 1,4 milhão de posts e observou um aumento de 0,1% para 0,3% do percentual de publicações suspeitas de serem contas falsas e robôs. O movimento, no entanto, não se deve a nenhuma mudança nas políticas da rede social, mas, sim, à expectativa de usuários de que surjam novas regras com a chegada de Musk.
De acordo com a agência, este tipo de comportamento tende a crescer conforme as eleições forem se aproximando. De forma majoritária, as postagens observadas estão relacionadas a temas geralmente presentes no discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo a consultoria, foram registrados aumento de ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) - em temas como o indulto ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) -, a adversários políticos e defesa de temas favoráveis à direita. O levantamento observou também comportamentos semelhantes em conteúdos relacionados à esquerda, mas em proporção menor.
“A gente observa em corridas eleitorais, sobretudo com a compra do Twitter pelo Musk, uma intensificação destes perfis, por motivos que a gente já via anteriormente: críticas ao STF, ataques ao Lula, abordagens agressivas, fake news e teorias conspiratórias. São conteúdos mais alinhados à direita e a reprodução de discursos do presidente Jair Bolsonaro”, explicou Giovanna Masullo, diretora executiva do .Map.
Segundo a especialista, as contas que fazem a grande maioria dessas publicações ou são robôs, ou são contas utilizadas por pessoas para movimentar um determinado assunto no Twitter, os chamados ‘perfis suspeitos’.
“São robôs ou pessoas que trabalham com esse objetivo, de difundir determinado tipo de conteúdo. Os robôs costumam seguir determinado padrão e as pessoas já usam uma linguagem mais informal. Nesse caso das publicações feitas por pessoas, os conteúdos são disparados em horário comercial, a gente sabe que equipes de marketing contratam pessoas para tuitar sobre determinados assuntos, mas são perfis sem foto ou com fotos de animais, da natureza, e que geralmente têm nenhum, um, dois ou três seguidores”, explicou Masullo.
O fator Musk
Além de comprar o Twitter, Elon Musk fechou o capital da empresa, ou seja, ele é o único acionista da rede, o que gerou certa “euforia” em um grupo de usuários, por entender que a rede social terá regras menos rígidas sobre publicações.
No entanto, Giovanna Masullo avalia que ainda não houve mudanças sobre o controle e algoritmos do Twitter, mas o entendimento de que haverá maior flexibilidade gerou essa explosão de novas contas e de publicações suspeitas.
“O controle ainda não mudou, mas há uma euforia, sobretudo da direita, que acredita que esse controle ficará mais flexível. Eles já se preparam, para, no caso de o algoritmo mudar, demarcarem posição para quando houver uma eventual alteração nas regras”, disse.
Mesmo que a empresa seja 100% de Musk, ele não terá controle absoluto sobre o que pode ou não pode ser feito na rede social, uma vez que as leis brasileiras se sobrepõem aos termos de uso de qualquer decisão unilateral da plataforma.
“Mesmo que a empresa tenha capital fechado, como ela será aberta aos usuários e neles estão cidadãos brasileiros, a lei continua valendo, então, regulamentações e eventuais futuras leis superam os termos de uso e qualquer decisão da plataforma por si só. Então, o Twitter não se torna uma rede social de absoluto controle por Elon Musk. As leis continuam a imperar e valer para Twitter e demais redes sociais”, afirma Luiz Augusto D’Urso, advogado especialista em crimes virtuais, professor de direito digital do MBA da FGV e presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim).
D’Urso explica ainda que a lei brasileira só deixaria de valer caso Elon Musk deixe de disponibilizar o Twitter em plataformas de download nacionais. “O que não deverá acontecer. Neste caso, portanto, segue sendo submetida (a plataforma Twitter) às leis e decisões judiciais do Brasil. Também continua a ser cobrada no combate efetivo às fake news, preservação da liberdade de expressão, exclusão de conteúdo ilícito, etc”, conclui o especialista.