Uma pesquisa revelou que os municípios de Minas Gerais que elegeram Jair Bolsonaro (PL) para a Presidência sofrem com maior número de casos e mortes pela covid-19. As 445 cidades em que o chefe do Executivo saiu vitorioso no estado mineiro registraram taxa de infectados 30% maior e de vítimas da doença 60% maior do que nas localidades que escolheram outros candidatos no pleito de 2018.
A relação foi feita por pesquisadores da Sociedade Mineira de Infectologia e da Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções, em um estudo que será apresentado no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ECCMID), entre 23 e 26 de abril na capital de Portugal.
Para a análise, os pesquisadores utilizaram dados de casos e mortes de covid-19, taxas de vacinação contra a doença e os resultados das eleições de 2018, extraídos de sites oficiais do governo, referentes aos 885 municípios do estado mineiro. A taxa de incidência foi calculada por 100 mil residentes de cada município entre 21 de janeiro e 10 de novembro de 2021.
O resultado foi a diferença expressiva nos redutos eleitorais em que Bolsonaro liderou. A taxa de incidência de casos da doença foi 30% maior em cidades que apoiam o presidente — foram 1.284.454 casos para 16.961.800 moradores dos 445 municípios, o que representa taxa de 7,6% — do que em locais em que ele não foi o favorito — 249.704 casos para 4.450.502 habitantes, uma taxa de 5,6%
Já a taxa de mortalidade foi 60% maior nos locais que apoiam Bolsonaro em comparação com aqueles com menos apoio: são 212 mortes por 100 mil habitantes contra 132 mortes pelo mesmo número de residentes. “O papel da política teve um impacto crítico nas respostas da covid-19 à pandemia no Brasil desde o início”, analisa Carlos Starling, um dos pesquisadores da Sociedade Mineira de Infectologia.
“O presidente Jair Bolsonaro negou a gravidade da covid, promoveu tratamentos sem evidências de eficácia e desencorajou o distanciamento social, o uso de máscaras, bloqueios locais e outras medidas de proteção, o que provavelmente resultou em taxas mais altas de infecção e mortes por covid-19 entre seus apoiadores”, acrescenta o especialista.
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Braulio Couto, pesquisador da Associação Mineira de Epidemiologia e Controle de Infecções, analisa os dados da mesma maneira. “É provável que milhares de vidas tenham sido perdidas desnecessariamente porque o presidente Bolsonaro descartou o COVID-19 como ‘uma gripezinha’ e se uniu contra bloqueios, fechamento de escolas e outras medidas de proteção”, disse.
O estudo também revelou que, à medida que a população dos municípios era vacinada, os casos e as mortes eram reduzidos e que, na maioria, as cidades mineiras aderiram à vacinação, uma das armas mais eficazes contra o novo coronavírus.
“Nossos resultados indicam que o povo brasileiro tem grande confiança nas vacinas, e as falsidades e dúvidas de Bolsonaro sobre as vacinas contra covid-19 não impediram a vacinação em massa, com o aumento da taxa de vacinação ao longo do tempo reduzindo consistentemente os casos e mortes por covid”, pontua Braulio.
Os pesquisadores ressaltam, no entanto, que o estudo é de caráter observacional ecológico e que apenas sugere a possibilidade da relação entre acreditar na postura de Bolsonaro em relação à pandemia e as consequências negativas de casos e mortes maiores do que entre não eleitores do chefe do Executivo. Os especialistas afirmam que outros fatores não medidos, como níveis de educação e renda familiar, podem ter afetado os resultados.