A terceira via, que está sendo construída por quatro partidos de centro — União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania —, deu mais um passo na direção de uma candidatura única ao Palácio do Planalto. O nome que tentará quebrar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) só será conhecido, se tudo der certo nas negociações, em 18 de maio, praticamente dois meses antes do início das convenções partidárias que definirão as chapas para o pleito de outubro.
Ontem foi um dia de muita movimentação no campo da terceira via, em Brasília. A reunião dos presidentes Luciano Bivar (União Brasil), Baleia Rossi (MDB), Bruno Araújo (PSDB) e Roberto Freire (Cidadania) foi cercada de suspense. O local — um restaurante sugerido por Freire — foi mantido sob sigilo pelas assessorias partidárias, e o resultado do encontro, divulgado por meio de nota oficial.
Os partidos decidiram botar suas cartas na mesa, apresentando nomes que possam assumir a chapa única. Como PSDB e MDB já têm candidaturas postas, o União Brasil avisou que anunciará seu postulante a pré-candidato único no próximo dia 14.
"Conclamamos outras forças políticas democráticas para que possam se incorporar a esse projeto em defesa do Brasil e de todos os brasileiros", diz a nota conjunta, assinada pelos quatro presidentes. O problema é que cada partido, isoladamente, tem seus próprios problemas para resolver antes de buscar um consenso.
No União Brasil, Luciano Bivar não descartou o nome do ex-ministro Sergio Moro como opção da sigla. Ele reconhece, porém, que a rejeição ao ex-juiz (dentro da própria legenda, inclusive) tem de ser levado em consideração. O deputado frisou, no entanto, não haver nenhum nome posto ou vetado de antemão. Nem o dele mesmo.
Paralelamente à reunião dos presidentes de legendas, a pré-candidata do MDB à Presidência, senadora Simone Tebet (MS), recebeu, no gabinete dela no Senado, o ex-governador Eduardo Leite (PSDB-RS), que se mantém na vitrine do debate sucessório como alternativa à candidatura do também tucano João Doria. Apesar de derrotado pelo ex-governador paulista nas prévias da legenda, Leite é o preferido de uma ala importante do tucanato para compor a chapa unificada da terceira via.
"Nós fazemos parte de um centro democrático e entendemos que, neste momento, estamos diante das eleições mais importantes dos últimos 30 anos", afirmou Tebet, ao justificar o convite que fez a Leite para "tomar um café e trocar ideias e impressões". Ela se disse "impressionada" com o desprendimento do ex-governador gaúcho de se colocar como "um soldado não só do partido, mas desse centro democrático".
A posição de Leite facilita a convergência com Tebet, que manterá a pré-candidatura pelo MDB até que os partidos se acertem em torno de um nome, que pode ser o dela. O ex-gestor gaúcho já avisou que aceitaria ser candidato a vice dessa chapa pactuada. Mas ele evita ampliar a área de atrito com Doria. "Ninguém está deslegitimando as prévias, mas não se trata aqui de atender a formalidades, trata-se de ajudar o país a encontrar um caminho", argumentou Leite.
Esse imbróglio do PSDB — que se equilibra entre uma candidatura oficial e um nome no banco de reservas pronto para entrar em campo — cria constrangimentos, mas MDB, União Brasil e Cidadania vão deixar que os tucanos se acertem em seu ninho. Até porque, se a terceira via se organizar em torno de uma chapa unificada, candidaturas já postas serão rifadas.
Tebet segue fortalecida dentro do MDB. Doria é a bola da vez no ninho tucano. No União Brasil, o problema é o que fazer com Sergio Moro, que se filiou à legenda no fim do prazo da janela partidária, sem construir acordos.
Luciano Bivar resumiu os desafios de cada legenda: "Marcamos a data de 18 de maio. Cada partido que resolva seus problemas internos até lá".