Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reagiram aos novos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) à lisura das eleições.
Um dos caciques do Centrão — grupo de sustentação do governo —, Lira usou as redes sociais para defender a confiabilidade do sistema. "O processo eleitoral brasileiro é uma referência. Pensar diferente é colocar em dúvida a legitimidade de todos nós, eleitos, em todas as esferas", reprovou. "Vamos seguir — sem tensionamentos — para as eleições livres e transparentes."
A manifestação de Lira ocorreu pouco depois de Pacheco se posicionar sobre o tema. Também pelas redes sociais, o senador destacou que "a Justiça Eleitoral é eficiente, e as urnas eletrônicas, confiáveis". "Ainda assim, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) está empenhado em dar toda a transparência ao processo desde agora, inclusive com a participação do Senado", escreveu.
O parlamentar complementou dizendo que "não têm cabimento" as dúvidas levantadas a respeito das eleições. "As instituições e a sociedade podem ter convicção da normalidade do processo eleitoral."
Em evento no Planalto, na quarta-feira, Bolsonaro falou em "suspeição" das eleições de 2022, se ocorrer "algo anormal". Ele também defendeu que as Forças Armadas possam fazer uma contagem paralela dos votos. "Uma das sugestões é que seja feita uma ramificação (dos cabos do TSE com as informações das eleições) para que tenhamos um computador do lado das Forças Armadas para que possamos contar os votos no Brasil", disse. O chefe do Executivo ainda insinuou haver uma "sala secreta" da Corte onde a apuração é feita sem transparência.
"Crime"
O deputado Professor Israel Batista (PSB-DF) ingressou com uma notícia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) contra as declarações do presidente. "O que ele fez no Planalto foi um anúncio do que pretende fazer em 2022. Crime contra o Estado democrático de direito. O presidente busca interromper, prejudicar e atrapalhar o andamento do processo eleitoral no Brasil e coloca em risco as eleições", afirmou. "Bolsonaro é taxativo: não vai ter eleições. Não fui eu quem disse, está gravado. O presidente faz, portanto, uma declaração dolosa de prejudicar as eleições de 2022 no Brasil."
Na peça, o parlamentar acusa Bolsonaro de peculato por usar recursos da Presidência da República para burlar a democracia. Também aponta improbidade, por lançar mão de verbas para disseminar notícias falsas e fortalecer uma conduta antidemocrática dos apoiadores.
O deputado ainda comentou sobre a politização das Forças Armadas. "Isso nos preocupa bastante, pois as Forças Armadas devem defender pessoas. A política é feita por homens e mulheres desarmados, para resolver nossas divergências pela lei e pelas eleições", frisou.
Aliados de Bolsonaro rebatem as críticas e enfatizam que as declarações sobre o processo eleitoral fazem parte do que já vinha sendo defendido pelo presidente desde o início do mandato. "Ele tem uma posição clara quanto a isso. Acho que foi aquela manifestação do (Luís Roberto) Barroso (ministro do STF) sobre as Forças Armadas que causou essa reação", disse o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). "Não tenho expectativa de que a posição do presidente mude. Ele trata desse assunto há muito tempo, há uma preocupação com a questão."
No último domingo, Barroso falou sobre as tentativas de politização do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e da intenção de usar as Forças Armadas para atacar o processo eleitoral.
Barros sustentou não haver crise entre os Poderes. "O ministro Barroso falou o que ele quis contra o governo. O ministro Alexandre de Moraes (do STF), também. Se eles podem falar o que pensam, o presidente pode falar também. Não tem crise nenhuma."
O deputado Bibo Nunes (PL-RS) disse que não houve repercussão das declarações do presidente entre os parlamentares. "Como falta consistência para atacar Bolsonaro, qualquer pingo tentam transformar em tsunami", criticou.
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