Um movimento atípico no Twitter chamou a atenção de especialistas em tecnologia nos últimos dias: desde que a rede social anunciou sua compra pelo bilionário Elon Musk - autodeclarado "absolutista da liberdade de expressão" - perfis bolsonaristas, incluindo o do próprio presidente Jair Bolsonaro (PL), vêm ganhando milhares de novos seguidores.
No caso de Jair Bolsonaro, esse número já ultrapassa 100 mil desde terça-feira (26/4) e continua crescendo. Naquele dia, foram 65.268 novos seguidores. E até as 9h desta quarta-feira (27/4), mais de 36 mil, segundo publicou em sua conta na rede social Christopher Bouzy, CEO da BotSentinel, plataforma desenvolvida para classificar e rastrear bots e trolls.
New: Jair Bolsonaro gained another 36,228 followers and counting. pic.twitter.com/JxncmppVpa
— Christopher Bouzy (@cbouzy) April 27, 2022
Ambos os números estão em um patamar muito superior à média diária de novos seguidores do presidente no Twitter, que gira em torno de 6 mil.
Para se ter uma ideia, nos últimos 30 dias, Bolsonaro ganhou 189.800 seguidores, sendo mais da metade deles (53,4%) desde terça-feira.
Coincidência? Não é o que pensa Bouzy. "Estou sendo questionado por DM (Direct Message, ou mensagem privada no Twitter) se acredito que as novas contas que seguem Jair Bolsonaro são orgânicas, e a resposta curta é não. Não acho que dezenas de milhares de brasileiros decidiram criar novas contas ao mesmo tempo e seguir Bolsonaro porque Elon Musk está comprando o Twitter."
Questionado pela BBC News Brasil, Bouzy diz: "Por que milhares de pessoas de repente criariam novas contas no Twitter para seguir Bolsonaro por causa das notícias de Elon Musk?"
E acrescenta: "Algumas das contas adquiriram um número significativo de seguidores em um curto período".
Bouzy se refere a perfis que, criados nos últimos dois dias, já acumulam mais de mil seguidores, número desproporcional às postagens - em alguns casos, menos de cinco posts foram escritos por eles.
E, se o número de seguidores aumentou exponencialmente, o mesmo não se pode dizer das interações, que caiu de forma brusca.
Perfis como os dos filhos do presidente, Carlos e Flávio Bolsonaro, também registraram um aumento substancial no número de seguidores no Twitter. Outros parlamentares bolsonaristas, como a deputada Carla Zambelli (PL-SP), também tiveram aumento.
Mas, ao passo que mais pessoas os seguiram, as interações despencaram.
"Movimentação estranha no Twitter: se analisarmos os dias 24 e 25/04, Jair Bolsonaro ganhou 31 mil seguidores, 155% a mais do que ganhou nos dois dias anteriores, por exemplo. E tem mais", escreveu Pedro Barciela, analista de redes sociais online com foco em política.
"Zambelli ganhou 23 mil no mesmo período, 307% a mais do que no período anterior. (...) Carlos Bolsonaro, 19 mil e 358% a mais do que no período anterior. Flávio Bolsonaro ganhou 17 mil seguidores, 300% a mais do que no período anterior."
"É estranho porque o volume de interações de Zambelli caiu 10%, de Carlos 60% e de Flávio 55% no mesmo período. Atores da oposição, como Lula, perderam 11 mil seguidores. Haddad, 1.3 mil e Gleisi Hoffmann 940."
"Reflexos da aquisição do Twitter? Duvido muito. Mas algo se moveu e definitivamente não foi orgânico", concluiu em uma série de tuítes sobre o assunto", diz Barciela.
Procurado pela BBC News Brasil, o Twitter disse por meio de sua assessoria que "temos analisado as recentes variações na contagem de seguidores de perfis no Twitter globalmente. Ao que tudo indica, essas oscilações parecem ter sido, em grande parte, resultado de um aumento na criação de novas contas e desativação de outras, organicamente. Seguiremos analisando essas alterações e, como parte de nossos esforços contínuos, tomando medidas contra contas que violem nossa política de spam. Manteremos as pessoas informadas a respeito do assunto conforme seguimos observando as movimentações."
A reportagem também procurou o Palácio do Planalto e os parlamentares citados, mas não obteve resposta.
'Liberdade de expressão'
Não foi só no Brasil que perfis alinhados à direita ganharam novos seguidores em grande volume e de repente. Nos Estados Unidos, isso também ocorreu.
Segundo Bouzy, "nas últimas 24 horas, os democratas tiveram uma diminuição significativa de seguidores, enquanto os republicanos (mais à direita) tiveram um aumento significativo de seguidores".
Musk já se descreveu como um "absolutista da liberdade de expressão". No entanto, sua posição deixa críticos temerosos de que o Twitter acabe se tornando um fórum para discurso de ódio e desinformação.
Um dia após o anúncio da compra da rede social por US$ 44 bilhões, o bilionário explicou o que pensa sobre o assunto no próprio Twitter.
"Por 'liberdade de expressão', quero dizer simplesmente aquilo que está de acordo com a lei. Sou contra a censura que vai muito além da lei", escreveu.
Segundo Musk, "se as pessoas quiserem menos liberdade de expressão, peçam ao governo que aprove leis nesse sentido", acrescentou Musk, destacando que "ir além da lei é contrário à vontade do povo".
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