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Bolsonaro traça estratégias para a campanha a fim de virar o jogo

Investimento no antipetismo, incitação ao eleitorado mais radical e foco no voto feminino são prioridades na campanha de Bolsonaro

Ingrid Soares
Victor Correia
postado em 18/04/2022 05:47 / atualizado em 18/04/2022 10:18
 (crédito: Alan Santos/PR)
(crédito: Alan Santos/PR)

Na corrida em busca da reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem apostado em estratégias ramificadas a fim de virar a mesa a seu favor em outubro. Uma delas consiste em investir na polarização e no sentimento antipetista que ronda parte do eleitorado no país. A intenção é de, paulatinamente, relembrar denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito nas pesquisas de intenção de voto. Por outro lado, Bolsonaro tem repetido não haver irregularidades no seu governo, apesar das suspeitas que envolvem a gestão.

Para especialistas, as pautas ideológicas inevitavelmente serão abordadas, mas o fator decisivo será a situação econômica do país. Os analistas acreditam, ainda, que estratégias convencionais, como campanhas em televisão, devem fortalecer a atuação de Bolsonaro nas redes sociais.

Em relação à covid-19, o presidente tem tentado se eximir de culpa ante a baixa aprovação à atuação do Executivo federal na pandemia. Ele empurra a responsabilidade para governadores e prefeitos, pelas medidas restritivas que adotaram com o objetivo de conter a disseminação do vírus. Bolsonaro bate na tecla de que fez a parte dele e "não errou nenhuma" no combate à doença, que vitimou mais de 660 mil brasileiros.

Na economia, uma das cartadas do chefe do Executivo, que fez com que recuperasse parte da popularidade, foi o Auxílio Brasil, além de outras medidas populistas. Em março, por exemplo, autorizou o pagamento antecipado do 13º salário a 30 milhões de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o saque de até R$ 1 mil a trabalhadores com saldo em contas de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Com a disparada do preço dos combustíveis, Bolsonaro trocou o comando da Petrobras — saiu o general Joaquim Silva e Luna e entrou José Mauro Coelho — na intenção de frear os reajustes, até agora sem resultado prático.

Além de buscar novos eleitores, o plano do presidente passa por manter fiel a base que o elegeu em 2018. É o caso dos evangélicos, com os quais tem se reunido frequentemente, além de acenar à agenda de costumes discursando contra o aborto e as drogas, e a favor do armamento.

O eleitorado feminino, público no qual mais enfrenta rejeição, é outro alvo que Bolsonaro busca atrair. Em viagens pelo país, tem sido acompanhado pela primeira-dama Michelle, carismática e simpática. Na semana passada, ela participou de quatro agendas, no Rio Grande do Sul e no Paraná.

Redes Sociais

Entre parlamentares, é consenso que as redes sociais serão um fator determinante para as eleições deste ano e que Bolsonaro aposta novamente na estratégia que o elegeu em 2018. "Ele é muito bom de redes sociais, soube usá-las bem e conseguiu o primeiro mandato, em grande parte, por essa atuação", disse ao Correio o deputado Hildo Rocha (MDB-MA).

O também deputado Lincoln Portela (PL-MG) ressaltou que o presidente conta não só com suas redes, mas também com os perfis de influenciadores que o apoiam. "A atuação sempre foi muito boa, dele e da militância. Tem uma base que a gente estima em 40 milhões de seguidores", destacou.

Ataques a opositores, disseminação de notícias falsas e incitação ao eleitorado também são fatores esperados nas eleições pelo deputado Glauber Rocha (PSol-RJ). "Bolsonaro não tem limites para manter sua base ativa, sempre gerando fatos que ou são mentirosos ou são aglutinadores", afirmou.

O parlamentar acredita que a atuação do governo durante a pandemia serve como espelho para o pleito e que o discurso do presidente pode se radicalizar. "Se para aglutinar sua base ele teve de negar as vacinas, defender cloroquina, tomar posições que são até contraditórias... Bolsonaro não tem limites, ele vai fazer tudo o que for possível", frisou. "Quando o desespero for batendo, e ele for verificando que não tem chance de ter uma maioria popular para os seus projetos, isso tende a se intensificar."

Entre a agenda conservadora e o desafio da economia

Na avaliação do professor de marketing político da ESPM Marcelo Vitorino, o presidente Jair Bolsonaro (PL) ampliará o diálogo com grupos conservadores para chegar ao segundo turno das eleições. "O caminho, provavelmente, será o de trazer a pauta ideológica contra as ideias progressistas dos adversários, com questões sobre composição de família, amor à pátria, discussão sobre ideologia de gênero nas escolas", elencou. "Ele deve, ainda, ancorar seus posicionamentos mais duros na liberdade de expressão, para que, em caso de extrapolar limites, possa ter um discurso de que foi censurado e de que há uma conspiração para que seus adversários vençam".

Vitorino observou que a situação na área econômica será fator decisivo no pleito deste ano e que a possibilidade de sucesso no tipo de abordagem é menor. "Com uma parte da população, certamente as estratégias funcionarão, até porque são falas que reforçam preconceitos existentes na sociedade", destacou. "Acredito que, com o problema econômico, elas tenham menor índice de sucesso do que 2018, em que a população estava mais alinhada com a ruptura política. Hoje, está mais alinhada na recuperação do poder aquisitivo", acrescentou.

Professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ellery lembrou que, em geral, as duas variáveis fundamentais para captar o efeito da economia nas eleições são inflação e desemprego. "A soma delas forma o que os economistas chamam de índice de miséria. Há um padrão nos Estados Unidos em que dificilmente um partido permanece no poder quando esse índice está alto", disse. "Aqui no Brasil, não há um padrão tão claro, até porque não temos a mesma regularidade de eleições democráticas, mas existem sinais de que o índice de miséria pode influenciar fortemente no pleito."

Com o desemprego alto e o risco de uma nova disparada da inflação, o aumento do índice de miséria é inevitável, apontou. "Não creio que seja possível cravar que esse índice vai definir as eleições, mas deve ter um efeito importante. É muito difícil o governo ganhar eleições com inflação fora de controle", acrescentou Ellery.

Já o professor da UnB Lúcio Teles, especializado em comunicação digital, acredita que os ataques aos opositores serão parte fundamental da estratégia de Bolsonaro nas redes. "Eu acho que ele vai tentar fazer os dois: projetar sua visão, mas, ao mesmo tempo, atacar Lula e candidatos que integrarem a terceira via", afirmou.

Teles destacou a defesa que Bolsonaro fez do Telegram quando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), bloqueou o uso da plataforma no Brasil, em 19 de março, que indica a importância do aplicativo para a campanha eleitoral.

"Essa defesa que ele fez recentemente, que não se pode suspender a plataforma porque viola a liberdade de expressão, já mostra o encaminhamento de que essa e outras ferramentas são essenciais para a estratégia dele. Algumas empresas, como o Facebook, já se comprometeram a evitar mensagens de ódio, fake news, mas o Telegram ainda está ambíguo", avaliou Teles.

O diretor Norte-Nordeste do Clube de Profissionais de Marketing Político (CAMP), Leurinbergue Lima, concordou. "Está muito claro que a estratégia deles passa pelo Telegram, pelo menos em nível de rede social. A plataforma tem grupos ilimitados, não tem o problema do reenvio de mensagens, que o Whatsapp tem agora. O Telegram é meio terra de ninguém", sustentou.

Porém, o especialista não credita às redes sociais a evolução recente de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. Com o fim da janela partidária em 2 de abril, por exemplo, o PL foi o partido que conseguiu maior bancada na Câmara, com 73 parlamentares. "Isso não é coisa do Bolsonaro, é coisa do partido. Eles já são bons de redes sociais, e, agora, vão saber usar, também, de forma mais apurada, mais profissional, os veículos tradicionais", avaliou. "Os próprios programas de televisão não foram um fator em 2018 porque Bolsonaro não tinha tempo nem dinheiro, mas agora ele vai ter, e apostou muito na distribuição de verbas para conseguir apoio político", emendou. 

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