O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e um dos líderes da greve dos caminheiros de 2018, Wallace Landim, conhecido como Chorão, conversou com o Correio sobre a mudança no comando da Petrobras, posicionamento da categoria nas eleições e como os caminhoneiros passaram a enxergar o governo de Jair Bolsonaro (PL) depois de quase quatro anos.
Chorão comentou sobre a decepção com relação à política de preços (PPI), uma das promessas de campanha de Bolsonaro. Em de 2018, o projeto de governo registrado por Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) batizado de "O caminho da prosperidade" defendeu o PPI.
“Os preços praticados pela Petrobras deverão seguir os mercados internacionais, mas as flutuações de curto prazo deverão ser suavizadas com mecanismos de hedge apropriados", dizia a proposta. Além disso, apesar de a União ser a maior acionista, a Petrobras é listada na Bolsa de Valores (B3) e tem sócios privados.
A ideia de não interferir em sua gestão de preços segue o receituário liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ainda em 2018, durante sua campanha no segundo turno, à TV Bandeirantes, quando esteve na casa do empresário Paulo Marinho, Bolsonaro prometeu reduzir os preços dos combustíveis sem interferir no PPI. "Temos uma estatal que pratica o monopólio, colocar os combustíveis na bomba de acordo com a realidade dos brasileiros". E completou o então candidato: "Estamos no limite e não podemos majorar".
Confira a entrevista a seguir.
A mudança na presidência da Petrobras significa o quê?
A mudança é mais do mesmo. Troca a presidência, mas a política de preços (PPI) é a mesma. Podemos ver o reflexo disso na prateleira, no supermercado, na alta do preço do diesel. Outro sinal disso é o aumento do consumo do etanol. Em 2018, vínhamos em uma defasagem, de uma inflação. Agora estamos acompanhando os reflexos da pandemia somados à guerra da Rússia com a Ucrânia, com o petróleo atrelado à paridade internacional. Ninguém enxerga, mas os caminhoneiros têm três contas a serem pagas: a casa, combustível e a manutenção. A estatal quer beneficiar seus acionistas, o mercado.
Há chance de novas paralisações?
Não podemos colocar nossa família em risco como fizemos em 2018. Mas, se as coisas continuarem do jeito que estão, a paralisação será natural, por falta de condição de rodar. Incitar é colocar em risco nossa família.
O governo, a Petrobras e o PPI para alguém que votou no presidente: o que acha que aconteceu?
As coisas fugiram do controle. Eu apoiei o presidente Bolsonaro, fizemos campanha para ele. Existia uma promessa de campanha que ele faria alguma coisa sobre a PPI.
A categoria foi atendida durante a gestão Bolsonaro?
A gente conquistou, em 2018, a Lei nº 13703, que estabelece a planilha de custo mínimo. (O Artigo 2 da lei define a promoção de "condições mínimas para a realização de fretes no território nacional, de forma a proporcionar adequada retribuição ao serviço prestado”) Queremos medidas para proteger a categoria, mas o governo já nos prometeu os ‘gigantes dos asfaltos’, que envolvia os ministérios e, por isso, deveria ter ido para frente. Chegou a ser lançado, mas não mudou nada para o caminheiro no sentido prático. O plano de manutenção e o cartão combustível não aconteceram. O Documento Eletrônico do Transporte (DTE), que organizaria nossa documentação... Temos mais de 20 documentos que também não foram para frente. O ‘Roda bem caminhoneiro’, que é do Ministério da Cidadania, deu certo, já as iniciativas da Infraestrutura, ficaram a desejar.
Como está o apoio da categoria em relação ao presidente?
Eu acompanho as discussões e vejo que está 70% a 30% contra o presidente, devido à falta de compromisso conosco.
Vocês estão abertos ao diálogo com outros presidenciáveis, incluindo Lula, mesmo tendo apoiado Bolsonaro em 2018?
Estamos procurando conversar com todos. Aprendemos que o importante é colocar a categoria no plano de governo. Eu sou apartidário, eu defendo um segmento, e não trabalho contra nem a favor. Recentemente, estava conversando com a Renata Abreu para falar com o Sergio Moro, mas deu essa reviravolta na candidatura dele. Agora, vem o Luciano Bivar (União Brasil) e, se ele quiser, vamos conversar, assim como conversamos com a Simone Tebet (MDB). Porém, nossa conversa com Bolsonaro (PL) será diferente, vamos cobrar o que foi proposto.
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