A crise dos preços dos combustíveis já é considerada um dos maiores desafios enfrentados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Com a desistência dos recém-indicados Adriano Pires e Rodolfo Landim para, respectivamente, a presidência da empresa e o comando do Conselho de Administração da estatal, o governo corre contra o tempo na busca por novos nomes, a pouco mais de uma semana da assembleia que votará a próxima gestão, marcada o dia 13.
Enquanto Landim anunciou já no domingo (3/4) que não assumiria o conselho, Pires aguardou o fechamento da Bolsa de Valores, na segunda-feira (4/4) — quando as ações da Petrobras caíram 0,94% —, para anunciar que não iria assumir a presidência da estatal, após Joaquim Silva e Luna ter sido demitido por Bolsonaro devido a divergências quanto à política de preços dos combustíveis.
Relatórios da Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras sobre o histórico do economista e do empresário apontaram problemas similares de conflitos de interesse, pois ambos possuem relações com empresas do mercado de energia.
Em função disso, o Ministério Público solicitou ao Tribunal de Contas da União (TCU) que Pires fosse impedido de assumir o cargo enquanto não houvesse uma investigação do governo (Controladoria-Geral da União e Comissão de Ética) e da Petrobras sobre a atuação dele no setor privado.
Em carta ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, Pires se disse "obrigado a declinar de tão honroso convite". "Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da Presidência da Petrobras", argumentou no documento. Ele é sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e tem contratos de longo prazo com petroleiras e empresas de gás. "Iniciei, imediatamente, os procedimentos para me desligar do CBIE, consultoria que fundei há mais de 20 anos e que hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que, infelizmente, não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo", acrescentou.
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"Arcebispo"
Não adiantou a ofensiva da ala política do governo e da tropa de choque do Centrão para manter Pires à frente da petroleira. O principal apoio público partiu do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Cacique do Centrão, Lira ajudou a validar a indicação de Pires. A ofensiva não deu certo.
Na defesa do empresário, Lira ironizou as regras de governança que apontaram conflito de interesses. "Tem de ser arcebispo para ser diretor da Petrobras. Hoje, eu estava comentando aqui com o ministro (Gilmar Mendes): a pauta da imprensa, e talvez do Ministério Público, é condenar o possível presidente da Petrobras porque prestava assessoria a um grupo empresarial", criticou. "Se eu sou da atividade privada, eu não posso trabalhar para nenhum grupo empresarial? Eu não posso prestar serviço? Eu não posso ter trabalhado, e isso vai me prejudicar nas minhas decisões lá na frente? A gente tem um falso moralismo, um julgamento precipitado, uma versão das ações, que só atrapalham o nosso país."
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse "estar sem luz" sobre quem deve assumir a Petrobras. Ele não participou da indicação de Pires, mas um dos seus auxiliares está sendo cogitado para a presidência da estatal. É o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Caio Mario Paes de Andrade. Ele tem avaliação positiva no Executivo pela implantação da plataforma GovBR, mas não tem experiência na área de petróleo e gás.
Analistas da Eurasia Group incluíram a Petrobras como o principal tema brasileiro a ser observado no mercado financeiro no momento. "O governo tem até 13 de abril para apresentar suas indicações à diretoria da Petrobras e, provavelmente, buscará substitutos com credenciais de mercado", apostam os especialistas Christopher Garman e Daniela Teles.
Eles entendem que, com o preço do Brent em torno de US$ 100, haverá menos pressão para a Petrobras aumentar os preços dos combustíveis no curto prazo. "No entanto, o governo pode continuar buscando substitutos que possam ajudar a limitar futuros aumentos de preços, se necessário, estendendo os limites da atual política de preços, com a assembleia de acionistas de 13 de abril oferecendo uma oportunidade para tal mudança", apontam.
A questão do controle de preços dos combustíveis pela estatal é um tema que preocupa o mercado. "Não é normal essa sequência de substituições", disse o economista Eduardo Velho. "Tivemos diversas correções de preços bem atreladas ao valor de mercado. Não houve (no governo Bolsonaro) uma política de controle de preços como já houve no passado. No entanto, essa incerteza provoca maior volatilidade, inclusive, no próprio preço da ação da Petrobras", ressaltou. (Com Agência Estado)
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