ELEIÇÕES

Estratégia de Doria foi tentativa de mostrar unidade contra Leite

Segundo Doria, houve um planejamento prévio para que o presidente do PSDB, Bruno Araújo, tivesse de se manifestar publicamente em apoio a seu nome

Tainá Andrade
postado em 01/04/2022 06:00
 (crédito: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini     )
(crédito: Felipe Dalla Valle / Palácio Piratini )

O agora ex-governador paulista João Doria (PSDB) admitiu ter sido uma “estratégia política” anunciar que permaneceria no cargo e, horas depois, renunciar ao Palácio dos Bandeirantes. Ele disse que o objetivo foi garantir o apoio do partido à sua pré-candidatura à Presidência da República.

Segundo Doria, houve um planejamento prévio para que o presidente do PSDB, Bruno Araújo, tivesse de se manifestar publicamente em apoio a seu nome. “Diria que foi um comportamento estratégico. Isso faz parte da vida política também: ter estratégia para poder construir caminhos e solidificar esses caminhos. Não se pode agir apenas emocionalmente, a política exige raciocínio, e eu aprendi a ter raciocínio no setor privado. Isso (o boato de que desistiria da corrida ao Planalto) foi para fortalecer a nossa candidatura e o PSDB”, frisou. “Não houve desistência, houve, sim, um planejamento para que pudéssemos ter aquilo que conseguimos, o apoio explícito do PSDB a partir de seu presidente, Bruno Araújo. A carta que ele assinou hoje (quinta-feira, 31/3) não deixa nenhuma dúvida nem agora nem depois.”

A movimentação, porém, aumentou o desconforto e a divisão no partido. Pela manhã, quando Doria anunciou que ia permanecer no governo, o então vice-governador Rodrigo Garcia chegou a entregar o cargo na Secretaria de Governo. Garcia, que agora assume a gestão estadual, vai concorrer à reeleição em outubro. Os dois tiveram uma reunião tensa ontem.

No pronunciamento no final da tarde, no Palácio dos Bandeirantes, quando confirmou sua disposição de ser candidato ao Planalto, Doria tentou mostrar unidade. Classificou Garcia como um “amigo, colega e parceiro leal e dedicado” e destacou que teve o “privilégio” de governar com ele ao longo dos últimos três anos graças a sua decisão de “delegar força, poder e autonomia ao vice”.

Em novembro do ano passado, Doria venceu as prévias tucanas nas quais teve como adversários o então governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. De lá para cá, no entanto, uma ala da sigla tenta reverter a decisão e abrir caminho para a candidatura de Leite. “Isso seria admitir que o PSDB se tornou um partido golpista, e o PSDB não é um partido golpista”, enfatizou Doria.

Em recado direto a Leite, afirmou: “Quem dá golpe é ditadura, governo autoritário. Aliás, hoje é dia 31 de março, o dia do golpe militar. Então, quero lembrar ao Eduardo Leite que não caminhe por essa linha. Não queira se associar àqueles que gostam de golpear, de usurpar e até de roubar”.

Enquanto Doria reafirmava estar na corrida pelo Planalto, Leite renunciou ao governo gaúcho, mas não disse para qual cargo vai concorrer em outubro. “É um desfecho de uma decisão muito difícil tomada a partir de muita reflexão, mas eu não podia me omitir quando o que está em jogo é a esperança”, discursou na Assembleia Legislativa. “Como já disse, eu não saio, eu me apresento como representante de uma geração que não se conforma com a armadilha política que se montou contra o próprio Brasil, com a ânsia de futuro, com desejo de mudança, disposto a trabalhar politicamente, com uma agenda que mereça as melhores perspectivas.”

Na entrevista coletiva após a renúncia, destacou: “É incerto dizer o que as próximas semanas me reservam, não vai ser individual. É a hora de buscar a diversidade de pensamento e essa composição que produz a força criativa”. 

Respeito às prévias

Na carta enviada aos principais líderes do partido, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, defendeu, pela primeira vez, o resultado das prévias. “Venho, por meio desta, reafirmar que o candidato a presidente da República pelo PSDB é o governador do estado de São Paulo, João Doria, escolhido democraticamente em prévias nacionais realizadas em novembro de 2021. As prévias serão respeitadas pelo partido”, escreveu. “O governador tem a legenda para disputar a Presidência da República. E não há nem haverá qualquer contestação à legitimidade da sua candidatura pelo partido.”

(Com Agência Estado)

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