Nesta semana, mais precisamente na sexta-feira, terá início a pré-campanha para as eleições de outubro. Com a desincompatibilização, os novos arranjos começam a se firmar e o desenho do cenário eleitoral vai deixando de ser rascunho para ganhar uma forma mais definitiva. Considerada, hoje, um dos principais nomes do DF, a ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, confirma que não vai disputar o governo local, mas também não crava se será a candidata ao Senado.
"A minha candidatura não será de forma alguma a governo. Ele é o nosso candidato à reeleição. O que eu posso disputar, a gente tem de construir, primeiro, ouvindo a população. Depois, uma construção", diz, nesta entrevista exclusiva ao Correio.
Natural de Taguatinga, Flávia ressalta que cumpriu seu papel na Secretaria de Governo, mas não deixou de olhar para o DF. "Quero poder contribuir com a cidade. Meu projeto é para a cidade, com a cidade. Eu não tenho a política por profissão. A política não é a minha profissão. Quero o que o grupo construir, ouvir a sociedade, saber no que posso contribuir."
Deputada federal pelo PL, Flávia ganhou destaque na Câmara ao ser a primeira mulher a ocupar a presidência da Comissão Especial de Orçamento e Finanças e, depois, assumir um cargo estratégico no governo federal.
Para ela, a missão foi cumprida. "O intuito que eu tinha, quando entrei, acho que consegui preencher, que foi o de construir pontes. Derrubar possíveis muros que fossem construídos nesse meio do caminho, estabelecer o diálogo, a construção de pontes com o Congresso", avalia.
Há desafios mais difíceis e coletivos a serem vencidos. Um deles é garantir menos preconceito e hostilidade na política para as mulheres. "Alguns homens colocam as mulheres (em segundo plano), como, no início (do mandato), tinha sempre 'ah, nós participamos...', e eu não estava sabendo. Então, quando vinha, 'isso aqui, ah, nós discutimos', eu dizia, 'mas eu não participei', então, estou achando que falta alguma coisa, né? Aos poucos, vai se construindo. Mas, nós, mulheres, precisamos provar muitas vezes que somos capazes", frisa a parlamentar, defensora das cotas para candidaturas femininas nos partidos.
Única mulher no Planalto, Flávia elogia o presidente Jair Bolsonaro. "A política é muito machista. O ambiente da política é muito machista. E eu sou a única mulher no Palácio. Mas o presidente me deu todas as oportunidades, a mesma fala e a mesma importância de todos os outros ministros", enfatiza.
Apesar da polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Flávia aposta que o eleitorado de Brasília dará uma votação expressiva para o atual chefe do Executivo. "Estive num evento para cinco mil pessoas e, quando falei o nome dele, foi ovacionado."
Qual foi a principal ação que a senhora conseguiu desenvolver neste período no ministério?
O intuito que eu tinha, quando entrei, acho que consegui preencher, que foi o de construir pontes. Derrubar possíveis muros que fossem construídos nesse meio do caminho, estabelecer o diálogo, a construção de pontes com o Congresso. Claro, como o próprio presidente citou, é um ministério difícil, porque você lida com todos os parlamentares. Você nunca vai agradar a todo mundo. Mas, dentro do possível, atendi todas as pessoas que pediram. Acho que saio com mais amigos do que quando entrei. Então, faço um balanço positivo.
Muitos ministros nessa área ficaram pelo caminho, como avalia?
Ser a primeira mulher a ocupar este ministério, este espaço de articulação política, já foi para mim uma grande honra e um grande desafio. Acho que conseguimos superar isso, construir e terminar o meu período de ministério com sucesso, porque estou saindo fruto da necessidade de desincompatibilização. Saindo com outros ministros, porque nosso prazo é agora. Mesmo diante de tantas alfinetadas, dificuldades e desafios, consegui me manter equilibrada.
Qual é a lição mais importante que traz desta experiência no Planalto?
Primeiro, um aprendizado enorme. Acho que o que eu aprendi, nesse um ano aqui, talvez, em livro nenhum consiga aprender tanto quanto na prática. Costumo dizer que, aqui dentro, a gente trata do alfinete ao foguete. Recebe todas as pessoas, parlamentares, vereadores, que vêm acompanhados dos prefeitos e seus deputados.
A gente recebe desde a coisa mais simples, da burocracia de um ofício, até as mais complicadas, de destravar processos que estão tramitando nos outros ministérios, construção de projetos de lei, de PLNs (projetos de leis orçamentárias). É tentar ter um consenso ou, pelo menos, algo que consiga construir um texto dentro de tantos dissensos e diferenças partidárias, ideológicas, que é o que faz o cerne da democracia. É estar sempre aberta ao diálogo, à construção. Fiz grandes amigos, e, obviamente, a gente também é atacada. Faz parte de quem não é 100% agradado.
Partindo desse ponto, das alfinetadas: isso acontece porque, como diz o presidente, o cargo é difícil, ou pelo fato de a senhora ser mulher?
As duas coisas. Este ministério é um grande desafio, porque você lida com muitas pessoas, com diferentes necessidades, pleitos diversos, mas, ao mesmo tempo, tentando um equilíbrio. Este ministério é de construção política, um ministério meio. Não é um ministério fim, de entrega, não tenho caneta e não estou fazendo entrega efetiva, como o Ministério do Desenvolvimento Regional, o da Infraestrutura e todos os outros. Aqui, não. Aqui, sou o papel de mediadora, faço a interlocução de todos os ministérios com o Congresso.
Lógico que, muitas vezes, tem interesses legítimos, mas contrariados, desde projetos que um quer, o outro, não; coisas que o governo queria que aprovasse e, no Congresso, não era bem assim. E o fato de ser mulher, obviamente, a gente, infelizmente, ainda vive numa sociedade muito machista. A política é muito machista. O ambiente da política é muito machista. E eu sou a única mulher no Palácio, mas o presidente me deu todas as oportunidades, a mesma fala e a mesma importância de todos os outros ministros. Eu sou muito grata à oportunidade que ele me deu e com reconhecimento e com a oportunidade de fala igual para todos os ministros, respeitando todos os momentos.
O presidente chegou a dizer que a senhora era a melhor ministra dele?
(Risos). Num evento que a gente fez aqui, ele brincou: dos 23, a minha melhor ministra. Estou aqui no dia a dia. Vira e mexe, estou na sala dele. A gente fala dos assuntos do Congresso. Sempre que posso ajudar de alguma forma, se for para colaborar, eu ajudo. E também escuto muita coisa. Às vezes, tem pautas lá que não dizem respeito a mim, mas eu faço questão de ouvir e aprender. Foi um aprendizado muito grande. Mas tem isso: o machismo é estrutural. No Parlamento, inclusive, a gente ainda vive o machismo estrutural.
O que achou do posicionamento do presidente em relação à pobreza menstrual?
O projeto da saúde menstrual foi muito discutido no Congresso, principalmente na Câmara, e, quando eu estava lá, discutimos isso. É uma realidade da população, principalmente, de nós, mulheres. Sabemos exatamente o que é isso, o que é esse período menstrual e as meninas em situação de vulnerabilidade, de pobreza, não ter acesso. Mas isso existe desde que o Brasil é Brasil e desde que o mundo é mundo. Então, é importante a gente dizer que isso não é uma pauta que veio no governo Bolsonaro. Os outros governos que nos antecederam não discutiram isso antes por quê? Colocar agora: 'Ah, o presidente Bolsonaro não quis'. No caso do presidente, assim que essa pauta chegou aqui, ele, no mérito, sempre falou: 'Eu sei que isso é importante, sei que passou pelo Congresso'.
A necessidade do veto veio por uma exigência da Economia, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Pelo mérito do projeto em si, o presidente não foi contra em nenhum momento. A sugestão do veto vem da Economia, porque gerar uma nova despesa incorre no crime de responsabilidade fiscal. Então, nesse caso, vem sugerido pela Economia, pela assessoria jurídica, a necessidade do veto, não pelo mérito do projeto e, sim, porque cria uma nova despesa. O projeto é fundamental e importante. Tanto que o governo sugeriu e editou uma medida provisória. Há uma discussão que: 'Ah, foram menos mulheres'. Porém, o valor que foi na medida provisória é maior do que o do projeto de lei. Então, derrubaram o veto, mas a medida provisória está valendo.
O fato de ser mulher teve um peso maior nas alfinetadas que recebeu?
Sempre tem. Muitas vezes, alguns homens colocam as mulheres (em segundo plano), como, no início (do mandato), tinha sempre: 'Ah, nós participamos...'. E eu não estava sabendo. Então, quando vinha 'ah, nós discutimos', eu dizia, 'mas eu não participei'. Então, estou achando que falta alguma coisa, né? Aos poucos, vai se construindo.
Que conselho daria hoje para as mulheres que pretendem ingressar na política?
Primeiro, que é fundamental a participação de mais mulheres na política, porque só com mais mulheres na política a gente pode fazer mais política de mulheres. O desafio da mulher na política é grande para entrar, por isso, sou a favor da necessidade das cotas partidárias de inclusão das mulheres. São fundamentais. Hoje, já somos 15% do Parlamento brasileiro, mas ainda é infinitamente baixo e menor do que a nossa representação na sociedade: 53%. É fundamental a mulher poder participar de tudo, assim como presidir uma Comissão de Orçamento, como eu presidi. Historicamente, ficava essa reserva de mercado. Números e o Orçamento da União sempre foram discutidos por homens. Vi a ministra Cármen Lúcia (do Supremo Tribunal Federal) falar esses dias uma história muito interessante. Um rapaz, sem maldade nenhuma, disse: 'Olha, vim trazer um documento para uma autoridade, mas me disseram que aqui só mora mulher'.
Ou seja, a mulher não pode ser autoridade. E o que é isso? É o machismo estrutural. E o Parlamento e os Poderes são reflexos da sociedade. Portanto, quando a gente luta para vencer esses obstáculos é para dar mais oportunidades às mulheres. E isso passa, também, por essas cotas de mulheres, partidariamente falando. Hoje, um partido que tiver mais mulheres eleitas tem o dobro do fundo eleitoral. Essa política de cota é compensação. É cota compensatória de tudo o que já ficamos para trás, de toda a falta de oportunidades que tivemos. Na hora que estabelecer, ali, um patamar de 50 a 50, não vai precisar de mais nada disso, mas, aí, os homens que se cuidem, que vamos avançar, e ninguém mais vai nos segurar.
A senhora presidiu a Comissão Mista de Orçamento, quando o chamado orçamento secreto não era como é hoje. Acredita que essas emendas de relator devem acabar?
A gente precisa encontrar um meio-termo para essas emendas. O Congresso é legítimo e tem de ser partícipe da distribuição do Orçamento, porque nós fomos eleitos representantes de vários segmentos da sociedade. E tem a política nacional. Ela é um guarda-chuva muito amplo. O parlamentar conhece a sua região, as necessidades, está lá no dia a dia, é cobrado por quem o elegeu. Nós já temos as emendas impositivas, mas acho que poder participar de alguma forma das indicações, de onde devem ir, também é fruto de uma construção do Parlamento.
Só não acho que da forma que está. Hoje, estou no Executivo, e, principalmente como ministra da Secretaria de governo, o Executivo ficou sem recurso discricionário. Todo esse recurso está alocado na emenda de relator. O Executivo está completamente amarrado para cumprir prioridade de política do governo. Em relação à transparência, sou absolutamente a favor. E não existe orçamento secreto, porque a execução é pública. O que se discute e, talvez, tenha sido colocado de uma forma equivocada, é quem indicou. A gente precisa mudar a lei, dar mais transparência.
Seu nome aparece como candidata forte ao Senado, mas também se fala em concorrer ao governo. O que a senhora quer?
Quero poder contribuir com a cidade. Meu projeto é para a cidade, com a cidade. Não tenho a política por profissão. A política não é a minha profissão. Quero o que o grupo construir, ouvir a sociedade, saber no que posso contribuir, no que posso colaborar com o meu trabalho e, com um grupo político que se forma, colocar ali onde cada um pode ser fundamental. O mais importante é saber o que a sociedade quer, o que espera de mim, qual a contribuição que posso dar. É fruto de uma construção. Primeiro, de ouvir a sociedade e, segundo, de uma construção política de grupo. Um grupo que represente o que a população espera da gente. Aprendi muito nesse tempo.
Já vivi, com Arruda, ainda quando governador, e com toda a experiência política que ele tem, toda a bagagem política, toda a história, todo conhecimento que ele tem, de um gestor e de uma pessoa que estuda muito. O legado político que ele deixou na cidade, de construção, de muita obra, de quem fez e deixou saudade na população. Esse é o lado que eu carrego. Foi isso que as pessoas depositaram em mim e que acho que, com o exercício do mandato, nesses quase quatro anos, pude demonstrar que tenho capacidade, que quero aprender, tenho o que oferecer para as pessoas.
Nesse grupo a senhora põe o governador Ibaneis?
Fazemos parte de uma base, eu sou base. Mesmo estando aqui (no ministério), fiz tudo que pude, enquanto ministra de Estado, contribuí para o Distrito Federal. Fiz além do que podia, indo para os outros ministérios e pedindo tudo que fosse para Brasília. Nas políticas públicas que foram fundamentais, sempre pedi para ter Brasília como uma referência, no Auxílio Brasil, nas vacinas, em todos os projetos estruturantes do governo, investimento em obras, rodovias. Exerci meu papel como ministra, sem nunca ter deixado a minha ligação como parlamentar do Distrito Federal.
Se Ibaneis está no grupo e é candidato à reeleição, é possível inferir que o seu papel vai ser mesmo na candidatura ao Senado?
A minha candidatura não será, de forma alguma, a governo. Ele é o nosso candidato à reeleição. O que eu posso disputar, a gente tem de construir, primeiro, ouvindo a população. Depois, uma construção.
A senhora não descarta nada. Nem a reeleição?
Não descarto nada. Até em não ser nada (risos). Veja: a política dos próximos anos da capital passa muito por nós, que estamos hoje no cenário. Nós temos muitas pessoas jovens — respeitando, obviamente, todos que nos antecederam nessa na política local, como o governador Roriz, como o meu próprio marido, que ainda me ensina muito. Mas há uma renovação.
Essa geração é que, na sua opinião, vai continuar liderando a política brasiliense?
Sim. Passa por um grupo dessa geração e do qual eu acho que faço parte também.
Entre esses jovens, aparece a possível candidatura de Reguffe. Vocês têm boa relação. Como enxerga a candidatura dele?
Reguffe também é uma pessoa jovem, mas que tem uma trajetória na política, tem trabalhado pela cidade. Acho que a gente podia construir juntos, sem distanciar nem dividir grupos. É nesse caminho que eu trabalho sempre. Para a gente, no diálogo, trazer todo mundo para o que é bom para Brasília. E não para a divisão. Nós temos muitos bons políticos, bons talentos, pessoas boas, que querem o bem para a cidade.
A senhora não considera a política uma profissão. O que seria política então?
Política é transformação. É transformar a vida das pessoas. É você se dedicar, se doar, porque a política também é doação, é resignação, é renúncia. A gente abre mão de muita coisa da vida pessoal para a política.
Isso é uma crítica aos políticos profissionais?
Não, não é o meu perfil. Não critico ninguém. Acho que cada um tem uma forma de conduzir as coisas. Para mim, foi uma construção. Eu nunca fui do tipo 'ah, eu quero ser política', mas sempre participei da política de alguma forma desde muito pequena, com meu pai, na distribuição de comida, arrecadando alimento para fazer sopa.
Esse é o seu jeito de fazer política, talvez.
Sim, talvez uma política mais social, mais voltada para o próximo. A política só vale a pena quando a gente transforma a vida das pessoas. Não é para mim, é para os outros. E isso passa, também, pela renúncia. Política também é renúncia. Eu tenho duas filhas pequenas. Estar na política me tira do convívio delas. Então, ela priva a gente do convívio da família, do convívio social. Mas ela vale a pena quando a gente consegue transformar a vida das pessoas. Não é vaidade pessoal, porque eu sei, também, as dores que a política causa.
Uma das bandeiras do seu mandato era a questão da violência contra a mulher? Vai levar a questão adiante?
É uma bandeira minha desde o início do meu mandato. Presidi a comissão de combate à violência contra a mulher. Agora, volto para a Câmara e, certamente, vou fazer parte dela. Isso sempre me provocou muito. Aprovamos, agora, um projeto de lei — do qual fui coautora —, que é o da violência institucional. Queria até ver, antes de sair (do ministério), se a gente conseguiria sancioná-lo. Esse projeto foi estruturado em cima daquele caso da Mariana Ferrer. Ela foi revitimizada o tempo todo. A mulher revive a violência nas delegacias, nos tribunais. O tempo todo você é desafiada: 'Não estava com um vestido curto demais?'.
A sua pauta sobre as mulheres, na verdade, é até mais ampla.
Sim. Defendo não só o combate à violência contra a mulher, mas também o estímulo à participação dela na política e nos espaços de poder. A gente precisa dar a mão à outra, criar oportunidades, mostrar que, juntas, conseguimos fazer muito. Vamos acabar com essa conversa de que mulher não apoia mulher. A coisa mais bonita que a gente tem é a sororidade.
O PL vai tentar reivindicar a Presidência da Câmara em 2023?
Isso passa por uma nova eleição, né? A gente pode chegar entre 65 e 75 parlamentares até o fim da janela partidária. É uma bancada forte. Temos hoje um líder do PL, Altineu Côrtes, que é um grande amigo e comandará essa transição com maestria. Mas reivindicar uma coisa na próxima eleição é muito prematuro e seria até leviano. A gente não sabe nem quem estará lá. Não sabemos qual será o tamanho da bancada, apesar de eu acreditar que qualquer decisão dentro do Congresso vai passar pelo PL.
Mas muita gente vislumbra uma disputa interna no PL entre bolsonaristas "raiz" e a turma que já estava no partido. Como manter uma unidade interna?
Acho que o insucesso do PSL deve servir de lição. É o tipo de coisa que não dá certo. Rachar alas dentro de um mesmo partido só o torna mais fraco. Foi exatamente o que aconteceu com o antigo PSL. Mas não acredito que isso aconteça com o partido sob comando do presidente Valdemar Costa Neto, que é uma pessoa absolutamente do diálogo, da palavra, da construção.
E aqui no DF? Quem vão ser os puxadores de voto?
A gente não consegue prever voto. São muitas variáveis. Há aqueles com mandato, que já disputaram a eleição, mas há, também, aqueles com potencial enorme. É claro que, no caso do PL, com a vinda da deputada Bia (Kicis), ela e eu temos mandato de deputada federal. Entre deputados distritais, há os que têm mandato e outros que estão vindo. Todos têm potencial.
Alberto Fraga vem?
Ainda não tivemos uma conversa definitiva, mas acho que é o caminho mais natural. Fraga sempre esteve com a gente, sempre foi do mesmo campo, mas nós vamos conversar nos próximos dias.
Não passa, então, pelas conversas do PL, ter um candidato próprio para o GDF?
Nos quadros do PL, temos gente para disputar qualquer vaga de majoritária ou de todas as proporcionais. Mas o PL, hoje, é base de governo do governador Ibaneis.
O presidente Bolsonaro, segundo as últimas pesquisas, está em uma fase de ascensão no eleitorado. A que a senhora atribui isso?
Ao fim da pandemia. Todo mundo que está no mandato foi pego em cheio pela covid. Com o arrefecimento da pandemia, começam a aparecer coisas efetivas que foram feitas no governo, como o Auxílio Brasil. Antes era um tíquete médio de R$ 190, agora é de R$ 400. A população toda foi vacinada, não falta vacina. Um dos países que mais vacinaram foi o Brasil.
Ele teve uma votação expressiva em Brasília. Acredita que vai se repetir? Enxerga isso nas ruas?
Enxergo. Estive quarta-feira num evento com cinco mil pessoas. À hora que eu citei o nome do presidente, ele foi ovacionado. Na sexta-feira, num evento que transfere a titularidade de terras da União e permite a regularização fundiária, ele também foi aplaudido. Independentemente de onde ele está, vejo essa grande aceitação dele nas ruas.
Mas as pesquisas ainda apontam o ex-presidente Lula liderando.
Eu ainda não vi o ex-presidente Lula nas ruas. Então, não dá para avaliar a popularidade dele na rua. Obviamente, ele tem um recall político, mas ainda não vi o ex-presidente nas ruas. E o presidente Bolsonaro está diariamente. Também tem essa diferença: você está falando de um presidente em pleno exercício de mandato com tantos problemas enfrentados. Ele começou o governo com a tragédia de Brumadinho. Depois, teve seca, chuva demais, uma pandemia que abalou países enormes. Depois, a guerra. O presidente enfrentou coisas que, na História, acho que ninguém viveu isso com tanta intensidade e ao mesmo tempo.
E temos a inflação de 10% ao ano.
A inflação é mundial. A gente está ainda entre os países com a menor inflação em vista dos outros do mundo. O que para nós pouco importa, porque a gente vive aqui, a gente não vive fora daqui, não é mesmo? Mas o presidente trabalha para combater isso diariamente. Não é uma equação simples, porque não depende dele lá tomar uma decisão e acabou, né? Isso são fatores diversos. Então, temos o presidente Bolsonaro, no exercício do mandato, e o outro candidato, de fora, sendo a oposição, a criticar. Neste momento, está mais cômodo ser oposição do que estar no mandato.
Há possibilidade de uma terceira via, ou a polarização é inevitável?
A eleição levará à polarização. Apesar de haver pessoas muito capacitadas — governadores, ex-governadores — e os que estão achando que vão resolver o mundo, a eleição passa por esses dois lados: o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Esse é o cenário que vamos enfrentar.
Isso não deixa o país dividido?
Deixa. Pessoalmente, não acho uma coisa boa, porque divide a população. Divide famílias, divide opiniões. Mas, infelizmente, é o que estamos vivendo.
A senhora mencionou que seu trabalho aqui no Planalto foi de construir pontes. É papel do político construir pontes, derrubar muros. Só que o país está claramente dividido, tende a repetir o que aconteceu em 2018. A política falhou?
A volta ao cenário político do ex-presidente Lula é que, talvez, tenha deixado esse cenário mais polarizado. A eleição do presidente Bolsonaro em 2018 era tida como improvável. Ele tem sido um presidente extremamente atacado desde o primeiro minuto, mas permanece com uma popularidade consolidada e caminhando para crescer cada dia mais. Acho que o que aconteceu foi isso: a viabilidade de um nome que estava fora da política (Lula) e a concretização e a permanência de um presidente de direita, de ideias diferentes. A História é feita de pêndulos. Acredito que, em algum momento, esse pêndulo volte um pouco mais para o centro, mas agora a gente está com essa polarização.
Ao filiar-se ao PSB, Geraldo Alckmin disse que seria importante para a democracia. O presidente Bolsonaro ameaçou a democracia?
Eu nunca vi o presidente Bolsonaro dizer que ia interferir na imprensa, que não ia cumprir nenhuma decisão. Nunca o vi querendo interferir no Congresso. Quando a gente fala de respeito à democracia, é de um presidente democraticamente eleito e tratando de todo o mandato dele dentro do cerne da democracia, do respeito à independência dos Poderes, dentro das quatro linhas da Constituição. A gente tem de lembrar sempre da independência dos Poderes. Questionar a legitimidade de alguma coisa é natural. Agora, invadir o poder...
A gente tem uma Constituição muito clara. Temos três Poderes bem definidos: Executivo, Legislativo e Judiciário. Se cada um deles atuar dentro das suas atribuições, não vejo nenhum tipo de ameaça. O presidente foi eleito por um regime democrático, permanece nele, trabalha para ele. O que ele diz não é uma ameaça, mas, sim, uma demonstração de transparência das coisas. Como as coisas estão muito acirradas, esse discurso acaba se levantando até mesmo contra ele. Repito: o cerne da democracia é o respeito à independência dos Poderes.
A senhora fica mais uma semana aqui no Planalto. Vai sentir falta dessa rotina?
(Risos) Meu Deus do céu... Sentir falta da rotina, não, porque a rotina de parlamentar e o processo pré-eleitoral também são muito intensos. Talvez, vá sentir falta das pessoas que estão aqui, dos amigos que fiz. Mas não vou, em momento algum, me desligar totalmente. Como parlamentar, esse canal de comunicação com o Executivo não deixar de existir. Não estou indo embora da cidade. Sou parlamentar de Brasília. Sentirei falta do convívio diário, mas vou continuar ajudando o presidente, agora, do outro lado da rua.
O que é mais difícil neste período da campanha?
Até o dia 2, a questão mais difícil é a da janela partidária. A gente vai ter um trabalho muito grande na formação das nominatas, que são fundamentais para a eleição, e no diálogo com os outros partidos. Depois que a gente passa para o processo de pré-campanha, aí é hora de estar mais na rua. É hora, como falei no início, de ouvir as pessoas, entender a demanda, ver a realidade.
A senhora se sente bem nesse momento?
Eu gosto. A minha vinda para cá me tirou um pouco dessa prática. Depois, a pandemia. A pandemia afastou a gente das pessoas. Eu estava toda sexta-feira em um restaurante comunitário, todo dia conversando. É a partir disso que a gente faz o mandato, é ouvindo as pessoas, sabendo qual é a necessidade. Eu não posso ficar trancada dentro do gabinete, ou do escritório, sem saber o que as pessoas precisam. Nunca perdi o meu olhar para o Distrito Federal. Agora, vou ter mais liberdade para ouvir as pessoas. O mandato não acabou, vou querer saber qual é o papel que a população espera de mim neste próximo pleito eleitoral.
E se a população disser: 'A gente quer você governadora'?
Risos.
Aos 42 anos, a senhora é deputada federal, primeira presidente da CMO, ministra. Essa menina de Taguatinga imaginou alguma vez que chegaria aqui?
Essa menina de Taguatinga sempre foi muito batalhadora. Muito determinada e sempre disposta a ajudar o próximo. Mas nunca, nem nos meus maiores sonhos, imaginei chegar aonde cheguei. E acho que mostro para as meninas de Taguatinga, de Ceilândia, de Planaltina, de qualquer outro lugar que, acreditando, estudando, trabalhando, batalhando, elas podem chegar aonde elas quiserem.