ROSANA HESSEL
As pressões inflacionárias e a disparada nas projeções do mercado estão deixando o Banco Central em uma encruzilhada e divide as apostas até que ponto a autoridade monetária conseguirá elevar a taxa básica da economia (Selic) sem contratar uma recessão para 2023. Com isso, os agentes financeiros estarão atentos ao comunicado que será divulgado após o fim da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre hoje e amanhã.
Analistas acreditam que, diante do aumento das incertezas em relação ao conflito geopolítico no Leste Europeu – que vem reverberando em mais inflação no mundo inteiro –, o BC terá dificuldade em sinalizar o quanto pretende elevar os juros na reunião seguinte, nos dias 3 e 4 de maio. A maioria dos especialistas aposta em uma alta de 1,0 ponto percentual na taxa básica Selic, atualmente em 10,75%. Mas, devido à deterioração das expectativas, o consenso é que o ciclo de aperto monetário será mais extenso do que o anteriormente previsto, devendo se estender até junho, na melhor das hipóteses. Segundo eles, a taxa básica poderá ficar acima de 13% até o fim do ano, podendo chegar a 14%, dependendo da duração da guerra na Ucrânia e das pressões do conflito no Leste Europeu sobre os preços das commodities. E, conforme levantamento da Agência Estado com 47 instituições, sete já preveem a Selic em dois dígitos no fim de 2023.
Apesar da piora nas perspectivas de inflação, houve uma pequena melhora nas projeções do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, principalmente, por conta da disparada nas projeções do custo de vida – que ajuda a aumentar a arrecadação do governo. No entanto, as estimativas para o PIB de 2023 começaram a encolher. Conforme dados do boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, a mediana das previsões para o PIB deste ano passou de 0,42% para 0,49%. Já a do PIB de 2023, recuou de 1,50% para 1,43%. Ontem, o Itaú Unibanco, por exemplo, revisou de -0,5% para 0,2% a previsão para a variação do PIB deste ano e, para o do ano que vem, reduziu de 1% para 0,5% a projeção de crescimento, "considerando juros mais elevados e a expectativa de alguma reversão dos preços de matérias-primas".
Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, não vê espaço para juros de 13%, porque o impacto do ajuste monetário de 2021 vai começar a se refletir na atividade econômica agora. "Já temos uma taxa de juros acima de 7%, em termos reais. Isso já implica em um enorme sacrifício da atividade econômica, que vai começar a sentir os impactos das altas de juros. Se o BC puxar ainda mais a Selic para cima, estará contratando uma recessão para 2023", afirmou. Após a Petrobras reajustar em até 24,9% os combustíveis nas refinarias desde sexta-feira, Rosa elevou de 5,8% para 6,3% a previsão de inflação deste ano. Ele manteve a previsão para a Selic chegando a 12,50%, no fim do ano, e prevê expansão de 0,7% nos PIBs de 2022 e de 2023.
Apesar de elevar para 1,25 ponto percentual a aposta para a alta da Selic na reunião do Copom desta semana, André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, manteve em 13,25% a previsão para a taxa básica no fim do ano e demonstrou preocupação com a possibilidade de mudança na meta de inflação. "Vou manter. Não me parece que o Banco Central vai dar mais que isso não. Eles estão com um problemão nas mãos", disse.