Com a disparada no preço dos combustíveis, que pode ameaçar seus planos de reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta se eximir de culpa e busca empurrar a responsabilidade pela carestia para outros atores. Depois de acusar o PT, o Supremo Tribunal Federal (STF), governadores e até a guerra no Leste Europeu, o chefe do Executivo volta a artilharia, agora, para o presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna.
Na quinta-feira, a estatal anunciou aumento de 18,7% na gasolina; de 24,9%, no diesel; e de 16% do gás de cozinha nas refinarias. Os reajustes irritaram Bolsonaro, que teria avaliado, inclusive, a possibilidade de demitir Silva e Luna. A intenção, segundo informações de bastidores, foi discutida pelo presidente com aliados do governo.
No mês que vem, o presidente da Petrobras completará um ano no comando da empresa e vai receber bônus de R$ 1,4 milhão. Ele já avisou que não pretende pedir demissão.
Um trunfo do Palácio do Planalto pode ser a eleição do novo Conselho de Administração da Petrobras, em abril. O preferido do governo para comandar o colegiado — que tem a prerrogativa de demitir e contratar executivos para a estatal — é o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim.
O dirigente do clube rubro-negro foi servidor de carreira da Petrobras por 26 anos. A expectativa do Planalto é usar a experiência dele para encontrar atalhos e ferramentas capazes de fazer a Petrobras segurar a alta da gasolina e do diesel e, como consequência, evitar mais desgaste a Bolsonaro.
"A gente precisa lembrar que nós temos uma grande produção de petróleo no Brasil. O fato de os preços internacionais subirem não aumenta o nosso custo de produção interno, então, obviamente, precisamos de alguém que tenha capacidade de enxergar o conjunto da obra. Esperamos que ele (Landim) possa contribuir", defendeu o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
Segundo o parlamentar, o governo busca alternativas para mitigar a escalada de preços e diminuir o impacto na sociedade. Ele mencionou o projeto de lei complementar (PLO), aprovado pelo Congresso, na quinta-feira, que altera a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os combustíveis (leia Saiba mais). A proposta só depende da sanção presidencial para entrar em vigor. "Existem muitas outras ações em discussão no governo, mas sem consenso", frisou.
Na quinta-feira, Bolsonaro culpou o PT pela carestia. "As duas refinarias que o PT ia fazer no Nordeste, mais uma aqui no Sudeste, não fez. Uma roubalheira terrível", sustentou. "Se, lá atrás, o PT tivesse feito o seu trabalho, não estaríamos em uma situação tão complicada."
Bolsonaro também acusou o STF por não julgar uma ação, apresentada pelo governo, que obrigaria o Congresso a votar as mudanças no ICMS.
Na avaliação do deputado Glauber Braga (PSol-RJ), Bolsonaro é garantidor da política da Petrobras que atrela o preço do petróleo ao praticado no mercado internacional. "Ele faz uma fala aqui outra ali, mas quem garante a manutenção dessa política é ele", afirmou.