A candidatura do ex-ministro Sergio Moro (Podemos-SP) ao Planalto corre o risco de ser enfraquecida com a crise no Movimento Brasil Livre (MBL), grupo de apoio ao presidenciável. A avaliação é de especialistas. O estrago mais recente foi deflagrado pelos áudios sexistas do deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP), integrante do MBL. Em fevereiro, o deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP), também membro do movimento, foi alvo de críticas após falar no podcast Flow que o nazismo não deveria ter sido criminalizado na Alemanha.
Na avaliação do cientista político Ismael Almeida, as polêmicas recentes devem respingar na candidatura do ex-juiz. "Sem dúvida, o impacto das declarações sexistas do Arthur do Val vai ser muito grande na pré-candidatura do Moro, isso, inclusive, já está acontecendo", afirmou.
Para Almeida, será difícil separar a imagem do MBL da campanha presidencial do Podemos. "Até por declarações que ele deu quando aconteceu a entrada do movimento na sua campanha, de que o apoio de do MBL seria até mais importante do que de partidos", ressaltou. "Ele fez questão de amarrar bem a sua figura a esse movimento, que, até então, tinha ali o seu lugar ao sol nessa questão de mobilização política."
O cientista político André César, da consultoria Hold, frisou que a aproximação de Moro com o MBL se deu por uma dificuldade do ex-juiz e do Podemos de atrair alianças que fortaleçam a sua candidatura. "Essa aproximação foi atabalhoada, vamos dizer assim. Ele viu uma tábua passando no meio do mar, se apoiou nela, mas a tábua estava lixada. Agora, descolar a imagem dele é difícil", afirmou.
Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, oficializou, ontem, sua desfiliação do Podemos, o que foi comemorado pelo presidente do partido no Paraná, o senador Alvaro Dias. "O partido já tinha aberto o processo disciplinar de expulsão. O documento assinado pelo deputado confirma que ele se desfiliou do partido, que repudiou suas falas após viagem à Ucrânia", publicou o parlamentar nas redes sociais.
Em carta enviada aos gabinetes dos deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Arthur do Val pediu desculpas pelas declarações e fez um apelo para não ter o mandato cassado. "Assumo e entendo a necessidade desta Casa em aplicar-me uma punição. É justo e necessário. Entretanto, peço encarecidamente que considere a ausência de dolo e de dano a terceiros na dosimetria da pena. Se, de um lado, a punição é necessária, de outro, a cassação se faz excessiva. Acredito que essa Casa terá a serenidade para aplicar uma pena justa, como suas tradições sempre mostraram", pediu. No texto, ele também enfatizou que não concorrerá a um novo mandato nas próximas eleições.
*Estagiário sob supervisão de Cida Barbosa