O pensamento sexista e rudimentar do deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP), revelado em áudios que viralizaram na internet, não poderia servir de melhor exemplo para ilustrar como a cultura machista está arraigada na sociedade brasileira. Recentemente, Arthur do Val passou alguns dias na Ucrânia, a fim de manifestar seu apoio político à nação vítima do imperialismo russo e, por extensão, se contrapor ao posicionamento ambíguo do governo brasileiro.
Era tudo teatro. No íntimo, Arthur do Val ficou impactado por outras coisas que não a guerra. É chocante ouvir as falas do parlamentar a respeito das mulheres ucranianas, que seriam "fáceis porque são pobres". Em sua visão de mundo, Arthur do Val considera a pobreza uma vantagem para satisfazer sua tara sexual, em uma associação pérfida e pervertida sobre a condição feminina.
Na terça-feira, o Senado Federal prepara uma sessão solene em referência ao Dia Internacional da Mulher. Além das homenagens, está prevista a aprovação de propostas que combatem a violência e a discriminação contra a mulher, em suas diferentes formas. As declarações grotescas de uma figura pública, representante da classe política, são motivos mais do que suficientes para o Legislativo dar uma resposta dura e definitiva contra a misoginia e o machismo que predominam em todos os setores da sociedade brasileira.
Falta de empatia
Afora a boçalidade machista, chama a atenção a falta de empatia do parlamentar paulista ante o drama mundial que se tornou o conflito na Ucrânia. Em meio a cidades destruídas, centenas de milhares de refugiados, famílias separadas pela guerra, Arthur do Val dedica seu interesse à beleza das mulheres ucranianas. Guerra e perversão sexual sempre andaram juntas, mas a miséria humana de um deputado estadual brasileiro, supostamente engajado na superação do conflito, é intolerável.
Cassação à vista
Integrantes da Assembleia Legislativa de São Paulo estão mobilizados para impor uma punição exemplar ao deputado Arthur do Val. O Conselho de Ética já foi acionado, e fala-se em cassação. Em 2020, a Alesp foi palco de outro lamentável episódio machista. O deputado Fernando Cury foi flagrado apalpando a colega Isa Penna. Cury teve o mandato suspenso por seis meses.
Inaceitável
O Podemos, partido de Arthur do Val, também promete tomar providências. A legenda abriu um processo disciplinar para o caso. Por sua vez, o presidenciável do Podemos, Sergio Moro, tratou rapidamente de estabelecer sua posição sobre o episódio. "O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto. As declarações são incompatíveis com qualquer homem público", escreveu o ex-ministro da Justiça.
Por cima
Um dos projetos previstos para votação no Senado nesta terça-feira estabelece um percentual mínimo de 30% de mulheres na composição de diretórios municipais, distritais, estaduais e nacionais dos partidos políticos. Segundo a autora da proposta, Simone Tebet (MDB-MS), é uma maneira de garantir a maior representatividade das mulheres. "São os dirigentes partidários que decidem quem será candidato e quem terá mais recurso. Este projeto visa ampliar a participação feminina na política", explicou a senadora à Agência Senado.
Presença nas comissões
Também está prevista a votação de projeto de resolução, de autoria de Eliziane Gama (Cidadania-MA), que estabelece o mínimo de duas vagas para a bancada feminina nas comissões permanentes e temporárias do Senado. É uma maneira de corrigir situações como a ocorrida na CPI da Covid, composta somente por homens. A convite da cúpula da CPI, as mulheres tiveram um papel relevante durante os trabalhos acerca da pandemia.
Nome aos bois
Ao atacar Michel Temer e Jair Bolsonaro sobre o fechamento de fábricas de fertilizantes no Brasil, o candidato e ex-presidente Lula omite a responsabilidade do PT no imbróglio. A elaboração de um Plano Nacional de Fertilizantes data ao menos de 2008, mas não avançou nas administrações petistas. E o fechamento de fábricas se deveu à crise que se instalou na Petrobras, particularmente a partir de 2014, em pleno governo Dilma Rousseff.
ABC do campo
Em contraposição ao desmatamento provocado pela agropecuária predatória, o Ministério da Agricultura, Agropecuária e Abastecimento (Mapa) comemora os resultados do plano ABC, voltado para a recuperação de pastagens. O uso de tecnologia no tratamento do solo acarretou um aumento de 0,31% do PIB, o equivalente a R$ 17 bilhões, segundo estudo realizado pela USP após edital lançado pelo Mapa.
Sustentabilidade
"Antes de termos esse resultado, o Plano mostrava a mitigação de carbono. Só que é muito mais do que isso: nós mitigamos carbono, geramos mais empregos, mais impostos", avalia a diretora de Produção Sustentável e Irrigação do Mapa,
Mariane Crespolini.