A organização não governamental (ONG) Uneafro, que luta pelos direitos humanos para a população negra e periférica, acionou o Ministério Público de São Paulo após o vazamento de áudios do deputado estadual Arthur do Val (Podemos), conhecido como Mamãe Falei. De acordo com a entidade existem, nas falas sexistas do político, “indícios de atuação do deputado em incentivo ao turismo sexual”.
Na denúncia, a ONG pede ao Ministério Público que investigue possível ligação entre o Movimento Brasil Livre (MBL) e grupos da extrema direita ucraniana, associados à propagação de ideologia nazista. Neste caso, a entidade relembra as falas do deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) durante participação no Flow Podcast.
Além disso, o documento também questiona a publicação feita por Arthur, na quinta-feira (3/3), ao lado de garrafas de vidro. Segundo o próprio, essas seriam destinadas à produção de coquetel molotov. “Nunca imaginei que um dia nessa vida ainda faria coquetéis molotov para o Exército ucraniano", escreveu na legenda da foto.
"Um deputado estadual publicou uma foto e anunciou que está produzindo coquetel molotov para atacar um país com quem temos relações diplomáticas. E se fosse um deputado negro? Como estaria a opinião pública? O Itamaraty se posicionará? Isso foi acordado com a diplomacia brasileira? Essa viagem é descabida e uma afronta aos eleitores paulistas, que pagam o salário desse deputado", afirma o cofundador da Uneafro Douglas Belchior.
A Uneafro prometeu também entrar com reclamação na Comissão de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo.
Os áudios
As mensagens enviadas pelo pré-candidato ao Governo de São Paulo vazaram na noite desta sexta-feira (4/3) e causaram polêmica na internet. O teor sexista dos áudios fizeram o nome do deputado ficar nos assuntos mais comentados do Twitter.
Mamãe Falei detalha a chegada à Ucrânia e conta a reação ao avistar as refugiadas ucranianas que estavam na fila para atravessar a fronteira e tentar sair do país em guerra. Arthur do Val afirma usar o número de seguidores no Instagram (730 mil) para atrair as mulheres que, segundo ele, “são fáceis porque são pobres”.
"E aqui, cara, minha carta do Instagram, cheio de inscritos, funciona demais. Funciona demais. Depois eu conto a história", afirmou. "Não peguei ninguém, mas eu colei em duas minas, que a gente não tinha tempo, em dois grupos de minas, e assim, é inacreditável a facilidade. Essas minas em São Paulo você dá bom dia e ela iria cuspir na sua cara. E aqui elas são super simpáticas, super gente boa", comenta em outro momento da mensagem.
Mamãe Falei também relata a hora em que passou por um grupo de policiais ucranianas. “Mano, eu juro para vocês, eu contei, foram 12 policiais deusas. Deusas. Mas deusa assim que você casa e você faz tudo o que ela quiser. Eu tô mal, cara", e continua dizendo que são “minas do tipo que, nem sei lhe dizer, se elas cagassem, vocês limpa o c* delas com a língua”.
De acordo com a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, a cúpula do MBL já está analisando os áudios atribuídos a Arthur do Val. O jornal afirma ainda que o deputado está em um voo rumo ao Brasil e o MBL diz que não conseguiu contato com ele. Por esse motivo ainda não se manifestou.