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Parlamentares focam em projetos para diminuir impactos econômicos da guerra

Deputados e senadores retomam os trabalhos preocupados com os impactos econômicos do conflito no Leste Europeu, particularmente no preço de combustíveis e na oferta de fertilizantes. Oposição critica postura do governo Bolsonaro

Com o fim do feriado de carnaval, deputados e senadores retomam os trabalhos no Congresso Nacional, com foco na aprovação de projetos que auxiliem na diminuição dos impactos que a guerra na Ucrânia poderá causar aos brasileiros. Novas prioridades começam a ser discutidas nos bastidores. O deputado federal e líder da bancada petista na Câmara, Reginaldo Lopes (PT-MG) resumiu a discussão das pautas pós-carnaval em um grande objetivo: "paz".

"A maior preocupação é em relação à posição errática do governo de Jair Bolsonaro (PL), que já está causando prejuízos à imagem do Brasil e poderá acarretar mais danos no futuro, do ponto de vista das relações comerciais. O Brasil está destruindo a sua imagem diplomática, e a diplomacia sempre foi uma pauta importante. Quem ama ditadores e está totalmente isolado no mundo é Bolsonaro", afirmou o parlamentar.

Lopes enviou ao Ministério das Relações Exteriores um requerimento no qual pede que a pasta reconheça que o presidente mentiu em relação à conversa com o presidente russo Vladimir Putin no último domingo (27/2). Em entrevista, Bolsonaro comentou que teria ficado duas horas ao telefone com Putin. Horas depois, o Itamaraty afirmou que essa conversa não existiu, e que Bolsonaro se referia ao encontro presencial que tiveram no início deste mês.

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) definiu como "infeliz" o conjunto de declarações de Bolsonaro relacionadas à Ucrânia. Ele lamenta, especialmente, a crítica ao presidente Volodymyr Zelensky, pelo fato de ter sido comediante antes de assumir o governo do país europeu. "Ele (Zelensky) tem ido muito bem, e tem mostrado uma grande liderança", avaliou.

Por outro lado, o parlamentar acredita que a diplomacia brasileira tem conduzido a questão de maneira equilibrada. "O Itamaraty tem colocado a coisa com mais profissionalismo. A gente precisa realmente estar atento aos impactos disso. Na prática, não impactará só o preço dos combustíveis. A guerra prejudica todo mundo, ninguém ganha com isso", ponderou o senador tucano.

Ao avaliar o momento político sob a perspectiva da guerra na Ucrânia, o deputado federal Luis Miranda (União Brasil-DF) acredita que a oposição a Bolsonaro irá polarizar a "falta de posicionamento dele contra a Guerra". No entanto, o parlamentar acredita que haverá quem concorde com o presidente na defesa da imparcialidade pelo fato de o Brasil ser membro do Brics — bloco econômico composto ainda por Rússia, Índia, China e África do Sul.

"Se a guerra não acabar até a próxima semana, certamente essa será a pauta [no Congresso]", aposta o deputado, que é presidente do Grupo Parlamentar Brasil/Brics. "Irei exigir dos demais países do bloco que a Rússia seja excluída. Não podemos, em pleno século XXI, aceitar uma guerra nessas proporções", opinou Miranda.

Opinião pública

O parlamentar acredita que os temas relacionados aos impactos da guerra deverão ser pautados muito em breve. "É da característica do Congresso, os parlamentares tendem a votar temas polêmicos quando a opinião pública está sensibilizada. Haverá impactos no agronegócio, inclusive com o cancelamento dos envios de fertilizantes para o Brasil. É o que mais assusta. A Rússia também é um grande produtor de milho e trigo, certamente esses produtos terão uma alta histórica", avaliou, ressaltando que terá de haver uma construção "para proteger o agro".

A defesa da produção agrícola nacional é a principal bandeira também levantada pelo senador Lasier Martins (Podemos-RS). Ele lembrou que a Região Sul ocupa posição estratégica na oferta de produtos agrícolas, com lavouras que se estendem por mais de nove milhões de hectares, e 90% dessa área voltada à produção de grãos.

O Brasil adquire no exterior aproximadamente 85% do volume de fertilizantes aplicado anualmente nas lavouras, sendo a Rússia uma das principais exportadoras do insumo: em janeiro, respondeu por 30,1% dos adubos e fertilizantes que entraram em território nacional, segundo informações do Ministério da Economia.

"É a hora que o Ministério da Agricultura deve se pronunciar, assim como o das Relações Exteriores. Caberá aos ministros avaliarem de quem comprar", defendeu o senador, que irá propor uma audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado para que novos países produtores do insumo sejam apontados.

Outro ponto de atenção será a questão dos combustíveis. O senador defende que a proposta relatada por Jean Paul Prates (PT-RN) avance na Casa. "Cresceu a importância sobre os combustíveis. Temos que discutir e levar para votação. Já teve discussão suficiente, tudo que deveria ser argumentado já foi. Minha posição, quando tiver a próxima sessão, é que ponha em votação. O consumidor é que não pode continuar sofrendo. A inflação vai aumentar agora por conta da guerra", observou.