O disparo de notícias falsas em aplicativos de mensagens instantâneas, assim como em posts e grupos nas redes sociais, pode influenciar o resultado das eleições de outubro deste ano. É o que afirmam 60% dos entrevistados pelo Datafolha, em levantamento publicado neste sábado (26/3). Para outros 22%, a influência existe, mas é pouca.
Já 15% dizem não interferir e 3% não souberam responder. A pesquisa foi realizada entre terça (22/3) e quarta-feira (23/3) em 181 cidades de todo país, com 2.556 entrevistados acima de 16 anos. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-08967/2022 e tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Os entrevistados que acreditam na influência das fake news na decisão dos futuros governantes do país chegam a 88% entre jovens de 16 a 24 anos. O grupo também é o que está mais presente nas redes sociais: 98% dos respondentes desta faixa etária têm conta em ao menos uma plataforma.
No grupo que corresponde a pessoas com mais de 60 anos, 76% acreditam que haverá relação entre a desinformação e o resultado das eleições, mas defendem que a interferência não será “muito” grande. Destes, 57% estão presentes em alguma rede social.
No geral, 84% dos respondentes têm conta em alguma plataforma digital. A maioria deles (82%) estão no WhatsApp, enquanto 61% usam o Facebook, 56% estão no Instagram, 30% no TikTok e 20% no Telegram. No Twitter, 16% afirmam ter uma conta.
O levantamento ainda mostrou que a maioria dos entrevistados (81%) acha que Facebook, Twitter e Instagram, assim como outras empresas que gerenciam redes sociais, deveriam excluir o mais rápido possível posts que exibem fake news sobre candidatos a algum cargo no pleito de 2022.
Além disso, 51% dos ouvidos afirmam ser favoráveis à suspensão do funcionamento de aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram, caso não obedeçam a ordens da Justiça brasileira para evitar a divulgação de notícias falsas.
Fake news: um mal que se tornou popular no Brasil
O combate às notícias falsas criadas para atingir uma superioridade política tem sido recorrente desde a ascensão do presidente Jair Bolsonaro (PL) como candidato à Presidência, em 2018. Na época, acusações de que existiria um ataque coordenado contra outros presidenciáveis vieram à tona.
Depois de eleito, e a medida em que Bolsonaro assumia um discurso de intolerância ao Poder Judiciário, um exército de perfis que o apoiavam nas redes sociais passaram a disseminar notícias falsas sobre as instituições democráticas e também contra as personalidades que fazem parte delas, como os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A suspeita é de que haveria uma equipe coordenada para ordenar os alvos e criar as notícias falsas, o que ficou conhecido como “gabinete do ódio”.
Em 11 de fevereiro de 2022, a Polícia Federal entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um relatório em que a corporação constata a existência de uma milícia digital que tem como objetivo o ataque às instituições e à democracia. Segundo a PF, esse grupo teria usado a estrutura do gabinete do ódio e seria formado por aliados de Bolsonaro. A suspeita é que a equipe usa as dependências do Palácio do Planalto para promover os ataques.
“Identifica-se a atuação de uma estrutura que opera especialmente por meio de um autodenominado ‘gabinete do ódio’: um grupo que produz conteúdos e/ou promove postagens em redes sociais atacando pessoas (alvos) — os ‘espantalhos’ escolhidos — previamente eleitas pelos integrantes da organização, difundindo-as por múltiplos canais de comunicação”, detalhou a delegada federal Denisse Ribeiro, responsável pelos inquéritos das fake news e das milícias digitais, no documento.
A delegada sugeriu ao ministro do STF Alecandre de Moraes que a investigação deve continuar com a intimação de testemunhas, depoimentos e outras medidas.
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