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Ribeiro sabia das manobras ilícitas de pastores dentro do MEC

Ministro comunicou à CGU as denúncias que recebeu, mas vinha agindo normalmente para não alertar os investigados

Ingrid Soares
Cristiane Noberto
Taísa Medeiros
postado em 24/03/2022 06:00
 (crédito: Cleber Caetano/PR)
(crédito: Cleber Caetano/PR)

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou ontem que tinha conhecimento das manobras ilícitas de pastores — possivelmente de Gilmar Santos e Arilton Moura, acusados de pedirem propina para liberação de recursos do MEC — dentro da pasta, que, segundo ele, ocorriam desde 2020. Segundo ele, depois de receber denúncias anônimas pediu a apuração da atuação da dupla, que, conforme relatou, ocorria em sigilo. Ribeiro disse que, para não despertar suspeitas de que os dois religiosos estavam sendo vigiados, foi orientado até mesmo a recebê-los no gabinete do Ministério da Educação em quatro ocasiões diferentes.

Ribeiro garantiu que depois de ter ouvido comentários sobre Gilmar e Arilton, recebeu uma denúncia anônima sobre a corrupção praticada pelos dois. Por conta disso, o ministro afirmou ter reunido o gabinete do MEC e, após relatar as suspeitas em um documento, entregou-o ao ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário.

"Pedi que ele tomasse as providências. Ele me disse que iria instaurar uma investigação sigilosa. Havia uma possível mediação de uma conversa", explicou, sem, porém, mencionar quem são os pastores investigados pela CGU.

"Em agosto de 2020, fui numa determinada cidade e ouvi algum comentário dessa natureza e, depois, recebi denuncia anônima sobre uma possível prática. Não estou falando que houve esse tipo de pedido. Reuni meu gabinete, conversei com meu secretário-executivo (Victor Godoy), e pedi que reduzisse a termo oficial em um documento. Em agosto do ano passado, marquei uma reunião com o ministro da CGU. Fui lá, entreguei esse documento e pedi que ele tomasse as providências. Ele me disse que iria instaurar uma investigação sigilosa. O mérito era que havia uma possível mediação de uma conversa, que não era uma conversa que eu achava boa. Diante dessa conversa, não fiquei de braços cruzados", enfatizou, durante entrevistas a emissoras de rádio e de tevê.

O ministro negou que houvesse a determinação de atender "primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, a todos os que são amigos do pastor Gilmar" — conforme áudio atribuído a ele. Explicou que os pedidos são inseridos em uma lista organizada pelos técnicos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que avançam à medida que a documentação requerida em cada processo é atendida.

"Às vezes falta um documento. Os que foram atendidos antes, certamente preencheram todos os requisitos. Eu desconheço essa velocidade (no atendimento), não foi por minha mediação. Se aconteceu, deve ter sido porque eles conseguiram alcançar a documentação necessária", defendeu.

Questionado sobre a presença de Gilmar e Arilton na comitiva ministerial que fez uso de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), Ribeiro garantiu que "jamais embarcaram nos aviões da FAB".

Organograma simplificado do MEC e onde funcionaria o Gabinete Paralelo
Organograma simplificado do MEC e onde funcionaria o Gabinete Paralelo (foto: Editoria de Arte do Correio)

Permanência

Ribeiro afirmou que "está firme" no cargo e que conversou com o presidente Jair Bolsonaro (PL). "Depois do áudio, o presidente me ligou e disse: 'Eu não vejo nada demais no áudio'. Eu não o procurei. O cargo que eu estou é de confiança do presidente. O que ele falou é que eu permaneço, eu fico de acordo com a sua confiança. Se ele quiser, quando quiser, ele pode pedir o cargo. Não tenho nenhum apego ao cargo", assegurou.

As explicações de Ribeiro, porém, amenizaram a crise pelo menos na ala evangélica — uma das vozes mais fortes no governo. Se mais cedo o grupo pedia a cabeça de Ribeiro, depois da entrevista o tom mudou.

"Vi na fala do ministro a plena disposição na apuração dos fatos, que é o que nós queremos, para que se alguém praticou algum ato ilícito, que seja exemplarmente punido", afirmou o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Mais cedo, afirmou que precisava "ser esclarecido a fala final do ministro (no áudio), quando ele cita os recursos para a igreja. Sabemos que é impossível fazer repasse de recursos de qualquer ministério à Igreja".

Ribeiro contou com a defesa até mesmo do vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), que o classificou como uma pessoa "honesta". Segundo o general, "não há problema" algum que ele permaneça no MEC até esclarecer o caso. "Tem honestidade e propósito, é uma pessoa extremamente educada, cautelosa nas coisas", explicou.

Voto contrário

Já o filho 03 do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP), afirmou nos bastidores ser veementemente contra a saída de Ribeiro. Isso porque abriria mais espaço para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do Partido Progressista. Com a eventual troca de comando no MEC, um dos possíveis sucessores seria o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Marcelo Ponte, que já foi chefe de gabinete do senador licenciado.

Nos corredores do governo e do Congresso, a pressão do Centrão pela saída de Ribeiro — e a eventual colocação de Ponte no lugar — seria uma forma de compensar o PP pela onda de bolsonaristas na direção do PL, partido escolhido pelo presidente para disputar a reeleição.

Sobre esta possibilidade, Ribeiro até mandou um recado direto ao ministro da Casa Civil em uma das entrevistas que concedeu. "Meu colega Ciro: acredito em sua seriedade, lealdade. Em nenhum momento sinalizou algo dessa natureza comigo. O Marcelo (Ponte) é um jovem administrador, que está revolucionando o FNDE pela sua seriedade e competência", provocou.

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