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De cocar e medalha no peito

Ministro da Justiça destaca operações da Polícia Federal contra garimpo em terras indígenas ao condecorar Bolsonaro. Presidente sugere que povos "façam em suas terras exatamente o que nós fazemos nas nossas"

Cristiane Noberto
postado em 19/03/2022 00:01
 (crédito: Cleber Caetano/PR)
(crédito: Cleber Caetano/PR)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi condecorado, ontem, com a Medalha de Mérito Indigenista, apesar das inúmeras críticas recebidas pela concessão da honraria a ele, que em vários momentos se colocou com questões relacionadas à causa dos povos nativos. De cocar na cabeça e com uma criança indígena no colo, disse querer que os indígenas "façam em suas terras exatamente o que nós fazemos nas nossas (terras)". Segundo o presidente, "cada vez mais, nos transformamos iguais".

"Me sinto muito feliz com este cocar graciosamente ofertado. Somos exatamente iguais e todos nós viemos à terra pela graça de Deus. Cada vez mais, nos transformamos iguais. Isso não tem preço. O que nós sempre quisemos foi fazer com que vocês se sentissem exatamente como nós", disse Bolsonaro, na solenidade ocorrida no Ministério da Justiça.

Responsável pela concessão da medalha, pois assinou a portaria em que condecora Bolsonaro e outros integrantes do governo, o ministro da Justiça Anderson Torres afirmou que é "extremamente leviano" dizer que o governo desmontou as ações que asseguram os direitos dos indígenas. "Pelo contrário: só em 2021, a Polícia Federal realizou inúmeras operações no combate ao garimpo ilegal, desmatamento, queimas e invasão de terras protegidas", disse.

Mal-estar

Fora do governo, a condecoração continuou recebendo inúmeras críticas, sobretudo de defensores da causa indígena. Para o influencer e palestrante Tukumã Pataxó, a entrega da medalha a Bolsonaro "é injusto, vergonhoso e chega a ser humilhante". "Ele é quem menos apoiou as questões indígenas. Fala sobre liberar o garimpo legal, é o que mais destrói as comunidades indígenas. Só querem retirar toda a riqueza da nossa mãe terra, e é isso que Bolsonaro vem apoiando", indignou-se.

O sertanista Sydney Possuelo, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e uma das maiores autoridades sobre a questão indígena do país — e que na última quinta-feira devolveu a medalha em protesto —, classificou a condecoração de Bolsonaro como "uma ofensa aos povos indígenas porque tenta transformar o algoz em herói".

"A medalha, como as moedas, têm duas faces. A principal, e mais importante, foi a ofensa aos povos indígenas. A segunda é uma face que eu utilizei: ele expôs o índio, eu me senti mal e não vi razão mais de ter comigo uma medalha que ganhei há 35 anos e tinha orgulho. Agora ela se sujou", lamentou Possuelo.

O Correio também procurou o Instituto Raoni. A instituição preferiu não se manifestar afirmando que "é a melhor resposta".

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