Nas Entrelinhas

Análise: Impacto da guerra chega ao Brasil com aumento de combustíveis

As sanções econômicas de EUA, Canadá, Inglaterra e União Europeia contra a Rússia serão mais duradouras do que a guerra da Ucrânia

Luiz Carlos Azedo
postado em 11/03/2022 06:00 / atualizado em 11/03/2022 06:48
 (crédito: maurenilson freire)
(crédito: maurenilson freire)

O impacto da guerra da Ucrânia na economia brasileira chegou muito mais rápido do que se imaginava, com o aumento de 24,93% dos combustíveis anunciado, ontem, pela Petrobras. O reajuste teve efeito imediato na opinião pública e em segmentos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro, sobretudo os caminhoneiros, cujos líderes já estão estrilando nas redes sociais. O preço do gás de cozinha leva os ecos da invasão russa para dentro de casa. Guerras sempre foram momentos disruptivos na economia dos países, dessa vez mais ainda, em razão de um mundo globalizado e conectado em redes.

Ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou minimizar os efeitos do reajuste dos combustíveis, a partir de medidas que estão sendo tomadas como a mudança no ICMS aprovada ontem pelo Senado: a criação de uma Conta de Estabilização dos Preços dos combustíveis (CEP). A proposta ainda precisa do aval da Câmara dos Deputados, cujo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), reagiu duramente em relação ao aumento: "Me causou espanto a insensibilidade da Petrobras com os brasileiros — os verdadeiros donos da companhia. O aumento de hoje (ontem) foi um tapa na cara de um país que luta para voltar a crescer", disse.

As medidas terão impacto inflacionários que podem neutralizar o pacote de bondades que o governo está preparando para melhorar os índices de aprovação de Bolsonaro, principalmente o Auxílio Brasil, no valor de R$ 400, que beneficiará mais de 18 milhões de famílias. O botijão do gás de cozinha de 13kg, por exemplo, será corrigido em 16,06% por quilo, passando para R$ 58,21.

O governo corre contra o tempo. O ministro Paulo Guedes, ao lado do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, anunciou, ontem, que o governo estuda um subsídio específico para o diesel, enquanto durar a guerra da Ucrânia. A Rússia é um dos principais exportadores de petróleo no mundo e, com o bloqueio a ela, o mercado de petróleo sofre um novo choque, mesmo que os Estados Unidos aumentem a produção. A esperança do governo é que os efeitos da isenção do PIS-Cofins sobre o diesel amorteçam o aumento, por enquanto. "Vamos nos mover de acordo com a situação", disse Guedes. "Se isso se resolve em 30 ou 60 dias, a crise estaria mais ou menos endereçada. Agora, vai que isso se precipita e vira uma escalada? Aí, sim, você começa a pensar em subsídio para o diesel", declarou.

Cadeias globais

Essa é uma leitura idílica da situação internacional. As sanções econômicas de EUA, Canadá, Inglaterra e União Europeia contra a Rússia terão um impacto muito mais duradouro do que o conflito militar propriamente dito. Uma solução negociada para a paz não significa que essas sanções sejam suspensas. O presidente Vladimir Putin pode até forçar uma rendição da Ucrânia, mas não se livrará facilmente do que ele mesmo chamou de "guerra econômica" com o Ocidente.

Nunca houve medidas tão duras contra a economia de um país. O bloqueio imposto à África do Sul por causa do apartheid não chega nem perto. Àquela ocasião, por causa da lei dos direitos civis aprovada nos EUA, todas as empresas americanas saíram daquele país. É o que está acontecendo agora com a Rússia, mas a escala de reação das grandes corporações é muito mais grave, porque todas as principais marcas de produtos e serviços estão se distanciando dos russos.

Além disso, as restrições impostas aos fluxos financeiros desarticulam completamente a integração da economia russa com as cadeias globais de produção e comércio, afetando também as relações com países que não estão adotando sanções, como o Brasil. É uma situação de isolamento superior ao que havia na época da antiga União Soviética, mesmo na guerra fria. Ninguém sabe direito como a Rússia voltará a conviver com o Ocidente, o que é considerado impossível com Putin no poder.

Pacheco e Eduardo

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), comunicou oficialmente a decisão de não disputar a Presidência da República. A rigor, nunca foi candidato. Sua decisão abriu caminho para que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), aceite o convite do presidente do PSD, Gilberto Kassab, para concorrer à Presidência. Leite estava nos Estados Unidos e deve decidir seu destino até o fim do mês.

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