A aprovação na Câmara do PL 442/91, que regulariza os jogos de azar no Brasil, causou revolta entre os deputados da Frente Parlamentar Evangélica (FPE). Apesar das traições dentro do próprio grupo — em que 15 dos 196 deputados votaram a favor —, o sentimento de indignação foi direcionado a outros dois alvos: o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), um dos caciques do Centrão; e o líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PP-PR). Na avaliação de deputados, o governo não trabalhou para conter a proposta.
O aval ao projeto também causou uma espécie de ruptura velada com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), entusiasta da matéria. De forma reservada, um deputado da Frente disse que houve desgaste na imagem do político alagoano entre os evangélicos da Casa. Ele acredita que haverá impacto no apoio à reeleição do parlamentar ao comando da Câmara.
Responsável por articular o movimento contrário à votação do projeto e autor do requerimento de retirada da pauta, o líder da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (União-RJ), acredita que houve pressão de líderes de partidos.
"O que nos deixou mais incomodados foi a atitude da liderança em liberar a votação. Arthur Lira e Ciro Nogueira, assim como Ricardo Barros, são interessados nessa liberação, que é uma antiga meta do PP. Os três estão totalmente divorciados do pensamento ideológico do presidente Jair Bolsonaro (PL) e usaram a Casa Civil para aprovar", declarou.
Mesmo com ameaças de retaliações, não há consenso na ala evangélica. Deputados defendem os dogmas da igreja, mas enfatizam os benefícios que a regulamentação trará ao país. Apesar de ter votado contra, Celso Russomano (PRB-SP) destacou que a mudança pode ter benefícios na área econômica. "O lado ruim (dos jogos) é que as pessoas perdem o controle, mas tem o lado bom. Vamos parar de ver o jogo sendo presente na vida das pessoas, mas não presente na arrecadação do Estado", disse.
Representante de um dos estados com maior potencial de lucro com a legalização, o deputado federal Aluísio Mendes (PSC-MA) frisou os ganhos para a economia e reforçou que o jogo já existe no Brasil, mas o lucro acaba indo para outros países, como no caso dos jogos on-line.
"Eu acho um pouco de hipocrisia dizer que jogo no Brasil não acontece. Acontece em várias modalidades. Além da arrecadação, o jogo vai fomentar a criação de empregos", opinou.