DIPLOMACIA

Embaixada do Brasil na Ucrânia pede que brasileiros evitem áreas de risco

Alerta é para as províncias separatistas de Donetsk e Luhansk, devido ao "contexto do aumento das violações de cessar-fogo". Itamaraty rebate críticas dos EUA a Bolsonaro

A Embaixada do Brasil na Ucrânia pediu aos brasileiros residentes no país que evitem visitas às províncias separatistas de Donetsk e Luhansk, na esteira da tensão com a Rússia. Aos que já estão nessas regiões, a orientação é de deixá-las o mais rapidamente possível. O alerta, segundo a representação, é no "contexto do aumento das violações de cessar-fogo registradas na linha de contato no leste da Ucrânia".

O comunicado alerta os brasileiros na Ucrânia para ficarem atentos à possibilidade de novos adiamentos ou até mesmo cancelamentos de voos internacionais nesta semana. A empresa aérea alemã Lufthansa, por exemplo, anunciou, ontem, que vai suspender temporariamente seus voos nas cidades ucranianas de Kiev e Odessa a partir de amanhã até pelo menos o fim deste mês.

Na sexta-feira, o embaixador do Brasil na Ucrânia e na Moldova, Norton de Andrade Mello Rapesta, divulgou uma nota pedindo aos brasileiros residentes ou visitantes nos dois países que preencham formulário para obter informações mais precisas sobre perfil, localização e contato dessas pessoas.

De acordo com Rapesta, a medida facilita a comunicação com a comunidade brasileira. "O registro é uma ferramenta importante para divulgação de informações úteis e para a transmissão de orientações em caso de situações emergenciais de qualquer natureza", declarou.

Cerca de 150 mil soldados da Rússia seguem nas fronteiras com a Ucrânia. A situação tem sido o maior foco de tensão militar na Europa nas últimas décadas, e vários países temem uma invasão.

Em visita a Moscou, na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro se disse "solidário" aos russos e que Putin "busca a paz". A atitude do chefe do Executivo provocou críticas dos Estados Unidos. Na sexta-feira, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou que "a grande maioria da comunidade global está unida na visão compartilhada de que invadir outro país, tentar tomar parte de suas terras e aterrorizar seu povo, certamente, não se alinha aos valores globais, então, acho que o Brasil parece estar do lado oposto ao da comunidade global".

Ontem, em nota publicada na página oficial, o Itamaraty afirmou que "lamenta" as declarações do governo americano e desmentiu que Bolsonaro tenha escolhido um lado no conflito.

"As posições do Brasil sobre a situação da Ucrânia são claras, públicas e foram transmitidas em repetidas ocasiões às autoridades dos países amigos e manifestadas no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU)", diz a nota. "O Ministério das Relações Exteriores não considera construtivas nem úteis, portanto, extrapolações semelhantes a respeito da fala do presidente."

Indefensável

O professor de história contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Barbosa define a visita de Bolsonaro à Rússia e à Hungria como "indefensáveis sob todos os aspectos", mas classificou tanto as respostas do Itamaraty quanto a declaração da Casa Branca como formais. "O Departamento de Estado americano manifestou-se como era previsível para marcar posição e, previsivelmente, o Itamaraty respondeu de forma burocrática, mas sem envolver o contexto em que foi feita a viagem", avalia.

Para o cientista político e diretor da Dominium Consultoria, Leandro Gabiati, a troca de farpas, apesar de protocolar, reflete uma situação envolvendo os governos de Brasil e dos Estados Unidos devido à política externa "personalista" adotada pelo chefe do Planalto. "O governo não prioriza sua política externa a partir de política de Estado, mas, sim, por preferências pessoais e ideológicas de Bolsonaro", diz. "Qual mensagem o Brasil passa com essa visita no momento em que duas potências (Rússia e Estados Unidos) estão com elevado nível de sensibilidade militar? Essas escolhas de Bolsonaro acabam tendo reflexos, como o comunicado da Casa Branca."

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