Em depoimento, na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal, nesta quarta-feira (16/2), o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, se posicionou de forma contundente sobre o fato de que o uso dos medicamentos hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida e as vacinas não estão no mesmo plano de eficácia no combate à covid-19.
Em uma explicação aos parlamentares sobre o motivo de ambos não se misturarem, ele lembrou que nenhuma das fabricantes dos remédios amplamente defendidos por bolsonaristas solicitou à Anvisa que a bula fosse alterada para esse fim.
"Lembrar um princípio básico da atividade empresarial: empresas visam lucro e é licito que seja assim, porque através dessa lucratividade dão emprego, trabalho desenvolvimento e sustentabilidade. Em sociedades que elas se inserem, essa afirmativa não traz nada de mau, pelo contrário. Mas, até a presente data, nenhuma empresa de farmácia e laboratório que detém registro dos medicamentos hidroxicloroquina e outros, como ivermectina e nitazoxanida, solicitou mudança de bula para inclusão do uso na covid-19. O que, obviamente, se tivessem esses detentores de registro de qualidade, segurança e eficácia desse medicamentos da covid-19, é certo que pediriam o pedido de alteração", assegurou o diretor.
A explicação foi usada para diferenciar os dois instrumentos de combate à doença. Tecnicamente, Barra Torres detalhou o procedimento de liberação para cada um deles. "Diferentemente dos imunobiológicos, os desenvolvedores das vacinas apresentaram seus dossiês no Brasil e no mundo. São situações que não se misturam, totalmente diferentes, e não é possível sustentar que esses mesmos laboratórios, fabricantes de medicamentos, teriam possibilidade de ampliar o faturamento de forma colossal. Não teriam feito, a não ser por um motivo: não tem a sustentação cientifica necessária para pleitear essa alteração de nova indicação em bula", disse.
Barra Torres foi chamado na comissão para esclarecer o imbróglio relacionado a vacinas, inclusive a pediátrica, após a polêmica causada, em janeiro, pela nota técnica assinada pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Helio Angotti, na qual defendia a efetividade da hidroxicloroquina para tratar a covid-19.
Além de explicações sobre as incoerências das justificativas utilizadas pelo secretário, o diretor da Anvisa também lembrou que diversas entidades foram contra o parecer de Angotti. "A autoridade máxima de classe dos imunologistas [Sociedade Brasileira e Imunologia] transmitiu parecer contrário. Conass e Conasems também se manifestaram publicamente em discordância ao teor da nota. Me parece que perdemos um tempo precioso, que poderia está voltado para enfrentar a pandemia, que ainda não acabou, e infelizmente damos ouvidos a essas complicações", opinou.