A oito meses das eleições, os candidatos que buscam um lugar entre a polarização Lula-Bolsonaro se empenham em superar a peneira eleitoral. Nesse momento, o desempenho nas pesquisas de intenção de voto é o termômetro mais utilizado nas conversas para definir candidatutas, bem como a formação de coligações e federações. "As pesquisas eleitorais com taxas de intenção de voto e principalmente os índices de rejeição de possíveis candidatos são o que conta. A partir desses números, os partidos começam a avaliar quais pré-candidatos são considerados viáveis politicamente, ou então aqueles que poderiam servir como até mesmo moeda de troca por apoios e substituições eleitorais", explica o professor de ciência política Valdir Pucci.
Mas há outros fatores a serem considerados. O fundo eleitoral e o tempo de propaganda na televisão e no rádio, definidos a partir da bancada de cada partido no Congresso, também pesam nas negociações eleitorais. Completa o filtro de candidaturas, ainda, o acesso a palanques regionais, definido pela quantidade de governadores e prefeitos eleitos por cada partido, bem como alianças pactuadas por esses políticos.
No cálculo das urnas, o cientista político André Rosa observa que a disputa presidencial puxa votos para os candidatos das legendas ao Congresso Nacional. "Em 2018, o Ciro teria possibilidade de vencer Bolsonaro no segundo turno, mas o PT não abriu mão de sua candidatura porque precisava aumentar o número de congressistas do partido. Então, muitas vezes, uma candidatura à presidência visa também captar votos para o Congresso Nacional", avalia.
O especialista lembra que, apesar do antipetismo e da derrota na disputa ao Planalto, o PT elegeu em 2018 a maior bancada da Câmara, com 54 deputados federais. Em segundo, ficou justamente o PSL, antigo partido do eleito Bolsonaro, com 52 membros.
Apesar de as pesquisas indicarem a vantagem de Lula e Bolsonaro, ainda é cedo para cravar um segundo turno entre os dois. O cientista político e diretor da Dominium Consultoria, Leandro Gabiati, avalia que cerca de um terço do eleitorado ainda não decidiu em quem votar. "Uma parte importante do eleitorado brasileiro ainda não está atenta para a eleição. Ainda não fez sua escolha definitiva. É tentador cravar um cenário entre Lula versus Bolsonaro, mas há muita coisa para acontecer até as convenções".
É com essa expectativa que muitos candidatos da terceira via tentam justificar a viabilidade de suas candidaturas para conquistar alianças e até mesmo apoio dentro do próprio partido. O governador João Doria (PSDB-SP) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) vivem situações semelhantes, em PSDB e MDB, respectivamente. A vitória do governador de São Paulo nas prévias tucanas não apaziguou os ânimos, a ponto de Leite já ser cogitado para concorrer pelo PSD ao Planalto. Já a emedebista sofre com a pulverização política dentro de seu partido, que lançou apenas duas candidaturas à presidência desde a Constituição de 1988. A última delas, foi Henrique Meirelles, em 2018, que ficou isolado por falta de apoio da própria legenda. Recentemente, um dos caciques do MDB, Renan Calheiros, encontrou-se com o ex-presidente Lula, em uma demonstração de que o partido não está coeso em relação à candidatura de Tebet. Nesse contexto, a formação de uma dupla Doria-Tebet para o Planalto tem sido uma possibilidade cada vez mais considerada.
Palanque estaduais
Com o melhor desempenho nas pesquisas entre os candidatos da terceira via, Sergio Moro e Ciro Gomes devem levar a candidatura até o final, mas enfrentam problemas semelhantes para conseguir acesso a palanques estaduais. Com as demais siglas de esquerda se organizando para formar uma federação entre PT, PSB, Cidadania, Rede, PCdoB, PV e Psol em favor da candidatura de Lula, Ciro e o PDT ficaram isolados. As buscas por federação com a Rede, PSB e Cidadania são pouco promissoras. O partido também tem o Avante como opção.
Em entrevista ao Correio, o presidente do Psol, Juliano Medeiros, elogiou o pedetista, mas afirmou que Lula tem maior poder agregador e mais chances de derrotar Bolsonaro. "Não há debate no Psol para um possível apoio ao Ciro, mas acho que ele é um homem de ideias que tem um projeto para enfrentar a crise do país. Acho que em um projeto das esquerdas, caso o Lula não fosse candidato, o Ciro Gomes poderia unir as esquerdas", frisou.
A possibilidade de trocar o Podemos pelo União Brasil (UB) era vista como uma solução para os problemas de Moro com os palanques eleitorais. O novo superpartido terá receita bilionária do fundo eleitoral e um dos maiores tempos de televisão e rádio. No entanto, a fusão entre PSL e DEM vem se aproximando do MDB, o que resultaria numa chapa entre Simone Tebet para presidente e Luciano Bivar, que comandará o UB. Além de isolar Moro, a solução afastaria a senadora de João Doria. Caso o movimento ocorra, o xadrez político pode aproximar Doria e Moro, chapa que chegou a ser especulada no ano passado.
Popular nas redes sociais, o deputado federal André Janones (Avante-MG) surpreendeu ao aparecer à frente de Doria e Tebet em algumas pesquisas. Em entrevista ao Estado de Minas, o deputado federal garantiu que pretende levar sua candidatura até o final. "O eleitor do [Antonio] Anastasia (hoje ministro do TCU) não queria votar nele, mas não podia deixar o [Fernando] Pimentel (PT). O eleitor do Pimentel sabia do desastre que era a administração dele, mas não podia deixar o PSDB voltar. Na reta final, descobriu-se uma terceira opção", comparou.