MERCADO

Bolsonaro ataca Lula e diz que ministros do STF não devem "esticar a corda"

O presidente mandou recado a magistrados da Corte: "Dois ou três no Brasil, não estiquem essa corda. Vocês vão ter que vir para dentro das quatro linhas, afinal de contas, todos nós temos limites", disse em evento com investidores

Ingrid Soares
postado em 23/02/2022 20:43 / atualizado em 23/02/2022 21:09
 (crédito: Reprodução / TV Brasil)
(crédito: Reprodução / TV Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) aproveitou a participação na CEO Conference do BTG Pactual, nesta quarta-feira (23/02), para exaltar o governo dele, atacar perante o mercado o principal opositor político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e reforçar críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na abertura do discurso, Bolsonaro subiu o tom da voz e citou eventuais medidas que o petista pretende implementar caso seja eleito, como a revogação da autonomia do Banco Central, a revogação da reforma trabalhista, o retorno do imposto sindical e interferência nos preços dos combustíveis.

"Há algumas diferenças entre nós ou algum dos senhores vai falar que está tudo resolvido, não tem problema. O que vier a gente vai interagir e o Brasil vai para frente?"", questionou.

Ele ainda vinculou o PT à liberação de drogas e do aborto. "Se fizéssemos campanha para retirar as armas do cidadão de bem, se desmilitarizarmos as polícias militares, se extinguirmos os colégios cívico-militares, se liberarmos as drogas no Brasil, se legalizarmos o aborto, se voltarmos a nos aproximar de Cuba e de outras ditaduras pelo mundo. Apenas faço essas perguntas porque o outro lado defende tudo isso daí. Não é um debate. Se isso tudo fosse botado em prática, como estaria a economia do Brasil?". "Isso não representa nada para a classe pensante no Brasil? Ou podemos voltar a flertar com o comunismo?".

Sobre a criação de empregos, declarou que o país terminou 2020 no "zero a zero", mas que “no ano seguinte o governo criou aproximadamente 3 milhões de empregos". E voltou a instigar investidores sobre “como seria se o outro lado estivesse na minha cadeira”. “ Isso já não é o suficiente para pessoas com responsabilidade tomar uma posição? E não é só com a economia não, é com a vida, com a liberdade, com o futuro do seu país. Sabemos o que vai acontecer com a nossa pátria se esses bandidos voltarem para lá”, bradou.

Em seguida, disparou críticas a magistrados da Corte. "E o que os senhores acham, se a nossa liberdade está ameaçada ou não por parte de alguns atores aqui no Brasil? Geralmente, quem busca tolher direitos da população e partir para o regime mais fechado, geralmente, é o chefe do Executivo. Aqui, acontece exatamente o contrário, se não é o chefe do Executivo resistir, já estaríamos com toda certeza em outro regime nesse momento. Está em jogo nossa liberdade, nossa economia", afirmou, com narrativa semelhante a de mais cedo, em evento no Planalto, onde insinuou, sem citar nomes, "resistir" a um "regime de força" que visa "que duas ou três pessoas no Brasil passem a valer mais que todos nós juntos".

Ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes e Ciro Nogueira, da Casa Civil, o presidente disse que os magistrados da Corte estão “jogando fora das quatro linhas e enviou recado aos mesmos para não “esticar mais a corda".

"Não vai ser o chefe do Executivo que vai jogar fora das quatro linhas. Mas por favor, não vocês, dois ou três no Brasil, não estiquem essa corda. Vocês vão ter que vir para dentro das quatro linhas, afinal de contas, todos nós temos limites. O Ciro tem, o Guedes tem. Eu tenho limites. Alguns poucos, dois ou três acham que não tem limites e ficam brincando o tempo todo de nos controlar, de desrespeitar a nossa Constituição, de ferir a nossa liberdade de expressão, de prender deputado", disse em referência à decisão do ministro Alexandre de Moraes. No ano passado, o magisrado mandou prender o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) após ataques e ameaças ao Supremo, e também à decisão do ex-ministro do órgão de Justiça eleitoral Felipe Salomão, que suspendeu repasses financeiros a páginas na internet que propagam fake news.

"Por mais errado que ele tenha sido em suas palavras e manter cidadão brasileiro que pode ter errado em suas palavras com tornozeleira eletrônica, em desmonetizar páginas da internet, em querer botar freio na nossa liberdade de discutir eleições pelas mídias sociais. Onde vamos chegar? De termos um sistema eleitoral que você pode não comprovar que é fraudável, mas também não pode comprovar que não é fraudável”, alegou.

Na economia, o presidente falou sobre a inflação e justificou ainda que outros reajustes ao consumidor final foram amortecidos pela queda na cotação do dólar. "O dólar, ao bater R$ 5, compensa o aumento do brent lá fora, então estamos chegando a 50 dias sem reajuste do combustível. Eu não tenho como interferir, não vou interferir, mas eu acho que vai continuar este preço, apesar de um pouco alto e de termos que discutir a composição do preço do combustível", continuou.

O presidente afirmou também que não vai interferir na política de preços da Petrobras em relação aos combustíveis e voltou a culpar estados e municípios pela cobrança de ICMS. "Não vou interferir, vai continuar este preço de gasolina. Temos que discutir o ICMS do combustível porque incide na bomba". "O álcool caiu nos últimos meses e na bomba não baixou um centavo. A mesma coisa da gasolina, por causa dessa política errada do ICMS", completou.

A respeito da viagem à Rússia que gerou polêmica no mundo diplomático, Bolsonaro alegou que foi "tratar de assuntos importantes", como fertilizantes. "A nossa agricultura, que nos orgulha a todos, leva um golpe quase que mortal sem fertilizantes. Fui negociar com o presidente Putin a questão de fertilizantes, entre outros assuntos, como depois tratamos na Hungria também. Somos tratados muito bem lá fora, cada vez mais os países querem interagir conosco", concluiu.

Rússia

A respeito da viagem à Rússia que gerou polêmica no mundo diplomático, Bolsonaro alegou que foi "tratar de assuntos importantes", como fertilizantes. "A nossa agricultura, que orgulha a todos, leva um golpe quase que mortal sem fertilizantes. Fui negociar com o presidente Putin a questão de fertilizantes, entre outros assuntos, como depois tratamos na Hungria também. Somos tratados muito bem lá fora, cada vez mais os países querem interagir conosco".

Marco Temporal

Na palestra, Bolsonaro comentou sobre o novo Marco Temporal em discussão no STF e disse que, caso a medida seja aprovada, será o "fim do Brasil"."O STF está discutindo um novo marco temporal para demarcar terras indígenas. O placar está 1 a um 1. O ministro pediu vista. Se for aceito, nós que já temos marcadas como terra indígena uma área equivalente a região Sudeste, teremos mais uma área equivalente a região Sul e, pela localização geográfica, dessas novas áreas, teremos mais uma área do tamanho do estado de São Paulo inviabilizada para o agronegócio. Será o fim do Brasil".

O líder do Planalto ressaltou ainda que a depender do próximo presidente eleito e da indicação de ministros para a Corte, a balança em relação ao assunto penderá para um dos lados. 

"Veja o perfil dos ministros do Supremo e que são favoráveis e são contrários a isso. Essa preocupação passa, obviamente, por vocês que vão eleger o presidente esse ano. De acordo com o presidente que assumir, no ano que vem ele bota mais dois dentro do Supremo e vocês sabem para que lado vai pender essa balança. Tem muita coisa em jogo no corrente ano. mais que a nossa vida, a nossa liberdade e a nossa independência".

Por fim, pediu voto de confiança aos investidores. "O Brasil está rumando para o progresso. O Brasil está rumando para a prosperidade. Acreditem na sua pátria, acreditem como eu acredito em muita coisa nesse país", concluiu.

 

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