Governo

Passando adiante o kit covid

Mayra Pinheiro vai para o Ministério do Trabalho. Será substituída por Hélio Angotti, que defende a eficácia da cloroquina

Deborah Hana Cardoso Luana Patriolino
postado em 15/02/2022 00:01
 (crédito: Evaristo Sá/AFP)
(crédito: Evaristo Sá/AFP)

Mayra Pinheiro, também conhecida como "Capitã Cloroquina", foi alçada a subsecretária da Perícia Médica Federal no Ministério do Trabalho e Previdência, conforme a edição do Diário Oficial da União desta segunda-feira (14/2). Ela deixou a secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde. A pasta comandada por Marcelo Queiroga passa por reestruturação, mas não há sinais de que abrirá mão do kit covid, solução largamente criticada por médicos e epidemiologisitas.

Mayra Pinheiro integra a ala ideológica do governo que acredita em tratamentos ineficazes. Mesmo vacinada, mantém posicionamentos antivacina. Ela ficou conhecida durante a CPI da Pandemia ao defender a cloroquina contra o covid-19. Mayra também promoveu o aplicativo TrateCOV no Amazonas que prescrevia o "tratamento precoce" contra a doença sem amparo científico. Durante sua oitiva, senadores a acusaram de transformar Manaus em um laboratório de testes para os medicamentos, um dos motivos para o colapso da região no início de 2021. No relatório final da CPI, Mayra Pinheiro é indiciada pelos crimes de epidemia com resultado morte, prevaricação e crime contra a humanidade.

No Ministério da Saúde, a ex-subsecretária também fez campanha nas redes sociais contra a vacinação infantil. Em dezembro, ela considerou inaceitável a imunização de crianças, fruto de "ativismo político" e "interesse comercial". Mayra Pinheiro é filiada ao PL, mesma legenda do presidente Jair Bolsonaro, e deve disputar uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Ceará. Ela já integrou o PSDB e o Novo.

Apesar da mudança, a antiga secretaria continuará na mesma toada pró-cloroquina. Seu substituto é o então secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde, Hélio Angotti. O médico é o responsável pela nota da Saúde que afirma que vacinas não têm efetividade e segurança, mas hidroxicloroquina, sim.

Angotti deve ser substituído pelo médico Sérgio Okane, atual chefe da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde. Ele já foi diretor executivo do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

A assessoria de Okane ainda não confirmou a substituição e disse que o médico continua trabalhando normalmente à frente da secretaria.

Desconforto

A possível nomeação de uma amiga do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a um dos cargos mais altos da pasta está gerando desconforto nos bastidores do ministério. Fontes ouvidas pelo Correio revelaram que o chefe da pasta planeja nomear Maíra Batista Botelho que, atualmente, é diretora do Departamento de Ações Estratégicas e Temáticas para a Secretaria de Atenção Especializada à Saúde, posto ocupado hoje pelo médico Sérgio Okane.

No entanto, os profissionais rejeitam o nome de Maíra. O motivo seria a ausência de capacitação técnica e falta de experiência para ocupar a função. Outra crítica é a proximidade excessiva com Queiroga. "Muitos hospitais de excelência parceiros do Ministério sabem desse movimento e são contra a nomeação. Além da incapacidade técnica, ela já cancelou recursos do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) para essas instituições", disse um servidor, que preferiu não se identificar.

Formada em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e pós-graduada em Obstetrícia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Maíra Batista Botelho também encontra resistências no Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), no Conselho Nacional de Secretarias Municipais (Conasems), e entre CEOs de grandes hospitais como o Sírio-Libanês e Albert Einstein.

Técnicos do Conass também são contra a nomeação de Maíra. A expectativa é que a nomeação de Maíra ocorra ainda nesta semana. Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não se manifestou sobre o assunto.

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