Em meio às tensões entre Rússia e Ucrânia, que podem desencadear uma guerra a qualquer momento, a viagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) para Moscou, na próxima semana, tem gerado bastante expectativa. Ela deverá ser acompanhada atentamente por autoridades dos Estados Unidos e dos países que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e que declararam apoio aos ucranianos.
A maior preocupação é sobre que tipo de sinalização Bolsonaro deverá dar ao resto do mundo ao aproximar-se do presidente russo, Vladimir Putin, em um momento tão delicado do ponto de vista geopolítico. Alguns diplomatas estão apreensivos com o timing da viagem, porque uma invasão pode ocorrer justamente durante a visita do chefe de Estado brasileiro. E, nesse caso, é difícil saber como o capitão reformado deverá se comportar sobre a defesa dos princípios da diplomacia internacional.
Washington espera que o presidente brasileiro também dê um aceno à Ucrânia durante a viagem e faça um discurso defendendo a democracia e o respeito às regras democráticas. É uma esperança, e "a última que morre, como diz o ditado.
Mas a apreensão é grande, uma vez que a diplomacia brasileira, que era reconhecida pela tradicional imparcialidade, durante o governo de Bolsonaro não é mais a mesma. Houve uma inversão de valores, principalmente, durante a gestão do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, que não se incomodava de o país ser um pária internacional. O substituto de Araújo, o ministro Carlos Alberto França, vem tentando melhorar a imagem ruim deixada pelo antecessor e evitado o envolvimento em polêmicas, como um bom diplomata.
Movimentos de soldados
Os movimentos dos mais de 100 mil soldados russos nas fronteiras da com a Ucrânia e de outros 30 mil militares na Bielorrússia estão sendo acompanhados atentamente pelo mundo. De acordo com as agências internacionais, ontem, às Forças Armadas russas e da Bielorrússia deram início a exercícios militares conjuntos, acendendo o alerta nos países que integram a Otan e declararam que pretendem defender a Ucrânia, caso ela seja invadida, como já ocorreu com a Criméia, península ucraniana anexada à Rússia em 2014.
Durante o governo do ex-presidente Donald Trump, o Brasil tornou-se um aliado norte-americano extra-Otan, ou seja, tem o endosso dos EUA para se tornar um parceiro global da aliança militar.
A visita de Bolsonaro à Rússia está programada para os dias 14 e 17 deste mês e o Palácio do Planalto ainda não divulgou a agenda com os compromissos do presidente na Rússia oficialmente.
Porta-vozes da Casa Branca têm afirmado à imprensa internacional e nacional esperar que Bolsonaro tenha “responsabilidade”. Em entrevista recente ao jornal Folha de São Paulo, o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Melvyn Levitsky, que também trabalhou na embaixada americana em Moscou, disse que a viagem é “sem sentido nos termos da posição do Brasil sobre a lei internacional”.
“O país tem uma reputação de ser muito cuidadoso sobre o respeito às regras internacionais. É um membro muito ativo da Organização das Nações Unidas e a Carta da ONU proíbe tentar resolver uma disputa ou impor sua vontade a outro país por meios militares”, afirmou o diplomata norte-americano.
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