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"Falta d'água não é mais problema no Nordeste"

Bolsonaro inaugura obras na região, mas volta a usar expressões preconceituosas

Ingrid Soares
postado em 09/02/2022 00:01
 (crédito: Reprodução/redes sociais)
(crédito: Reprodução/redes sociais)

Para tentar diminuir a forte resistência que sofre no Nordeste, o presidente Jair Bolsonaro (PL) iniciou, ontem, uma visita à região, reduto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder de pesquisas de intenção de voto para outubro. A estratégia é entregar obras voltadas ao combate à seca. A agenda deve durar dois dias.

Pela manhã, o chefe do Executivo desembarcou em Salgueiro (PE), onde participou da cerimônia de inauguração do Núcleo de Controle Operacional da Transposição do Rio São Francisco. No discurso, em uma tentativa de aproximação, Bolsonaro chamou a região de "meu Nordeste".

"É uma satisfação muito grande retornar ao meu Nordeste. Sou de São Paulo, a cidade que tem mais nordestinos no Brasil. Até mesmo a minha filha é neta de um cearense. Esse é um só povo", frisou.

Bolsonaro aproveitou para intensificar ataques ao PT, apontando que o partido defende a "destruição das famílias". Ele citou escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), sustentando que a legenda não concluiu obras de transposição iniciadas na região, em 2007, durante o governo Lula. A primeira etapa foi inaugurada em 2017 pelo então presidente Michel Temer (MDB). "Ao longo de 14 anos, a Petrobras, por desvios e projetos malfeitos, enfrentou endividamento de R$ 900 bilhões. Vocês estão pagando essa conta no preço do combustível na bomba", afirmou.

De acordo com o presidente, a obra da transposição do Rio São Francisco "não ia sair nunca" se o PT ainda estivesse no poder. A declaração ocorreu durante visita à Elevatória de Salgueiro. O presidente publicou um vídeo nas redes sociais em que apareceu andando de pé em uma picape, ao lado de ministros do governo, fazendo o comentário enquanto conhece o percurso.

Preconceito

O chefe do Executivo voltou a fazer comentários preconceituosos contra nordestinos. Em conversa com apoiadores, foi questionado sobre uma declaração feita na live passada, na qual usou a expressão "pau de arara" para se referir aos seus assessores. Bolsonaro alegou que o episódio foi uma brincadeira entre amigos e repetiu menções preconceituosas como "cabra da peste", "pau de arara", "arataca" e "cabeçudo".

No último dia 3, Bolsonaro errou a origem do Padre Cícero, ao comentar sobre a revogação dos decretos de luto. Ele citou Pernambuco como procedência do religioso. Ao tentar confirmar a informação com assessores, se irritou e os chamou de "pau de arara".

À tarde, Bolsonaro seguiu para Jati (CE), onde participou da cerimônia alusiva ao ato de Liberação das Águas do Rio São Francisco para o Estado do Ceará. Lá, disse que a "falta d'água não é mais problema para a região".

Em repetidos ataques a Lula, Bolsonaro ressaltou que as verbas desviadas de estatais, como a Petrobras, construiriam 50 transposições do Rio São Francisco. Ele falou em "atraso" e "falta de compromisso" do PT em governos anteriores.

"Olha o atraso que o Brasil experimentou há pouco tempo, com pessoas que ocuparam a Presidência e que não tinham qualquer compromisso com vocês. O compromisso deles era com o próprio bolso e com o projeto de poder", emendou.

O presidente pernoitou em Caicó (RN). Hoje, ainda na região, em Jardim de Piranhas, deverá participar de uma jegueata. Depois, seguirá para Jucurutu.

Investigação

Ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a Polícia Federal a compartilhar provas do inquérito sobre o vazamento de dados sigilosos por Bolsonaro com a investigação sobre milícias digitais.

O pedido foi feito pela delegada Denisse Ribeiro, responsável pela apuração sobre a divulgação que o presidente fez de informações sigilosas sobre ataque hacker ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo Moraes, a demanda é pertinente, porque pode haver semelhanças entre o modelo de atuação dos grupos investigados em cada inquérito.

"Verifico a pertinência do requerimento da autoridade policial, notadamente em razão da identidade de agentes investigados nestes autos e da semelhança do modus operandi das condutas aqui analisadas com as apuradas nos Inquéritos 4.874/DF e 4.888/DF, ambos de minha relatoria", escreveu o magistrado.

A PF concluiu que Bolsonaro cometeu crime por vazar o inquérito na internet. Mesmo assim, não o indiciou por causa do foro privilegiado. (Colaborou Luana Patriolino)

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