O pré-candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, vem apostando em uma campanha de desconstrução de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como forma de tentar se impor como o nome da esquerda. A estratégia tem sido a de fazer provocações e ataques ao petista, ao ponto de desafiá-lo a falar sobre o programa que o ex-presidente teria para o país.
"Não é que você não queira brigar. É que para isso você usa bajuladores e seu gabinete do ódio. O que você não quer é debater o país, os projetos, as coisas que o PT fez no poder. Então, você reduz a política a uma briga de amigos, a afetos. O povo brasileiro não merece isso", escreveu Ciro em uma rede social.
Isso, porém, parece não abalar a liderança folgada de Lula nas pesquisas de opinião. Segundo a mais recente sondagem do Ipespe, o petista tem 44% das intenções de voto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), 24%. Ciro, por sua vez, empata em 8% com o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) no terceiro lugar.
Para seus correligionários do PDT, ele está se comportando como um candidato independente, que não centraliza os ataques para poder crescer diante do eleitorado. Daí porque, da mesma forma que critica Lula, aponta o dedo para Bolsonaro.
Segundo Carlos Lupi, presidente do PDT, "faz parte do processo da disputa apontar as diferenças, as divergências. Ao mostrar o nosso projeto, ele faz a crítica para marcar a diferença". O dirigente ainda ressaltou que, para o eleitor, o que importa não é o enfrentamento, mas as pautas que o candidato discute.
Calcanhar de Aquiles
Uma das habituais provocações a Lula é atacar a possibilidade de o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) ser vice do petista. No ano passado, Ciro tentou uma aproximação com o ex-tucano para que se tornasse seu vice, mas a manobra não deu certo. Para o vice-líder do PDT na Câmara, Eduardo Bismarck (CE), o candidato deixa evidente que os erros dos governos petistas não podem ser esquecidos.
"O que eu vejo é que ele está tentando se posicionar dentro daquilo que atrapalhou a vida do PT, mas sem sair do campo da esquerda. O Lula não consegue romper a barreira dos 50% porque traz uma bagagem ruim. Um gestor ruim sempre traz a lembrança de outro que foi insatisfatório ou pior que o atual", salientou.
Para Bismarck, ao apontar as manchas do PT, Ciro mostra que não compactua com a corrupção que marcou os governos de Lula e de Dilma Rousseff. E isso é um aceno para o eleitor de centro e centro-direita.
"Mostra que está antenado com todos os grupos, com pautas econômicas e sociais mais no campo da esquerda", disse.
A resposta do PT tem sido se esquivar das provocações. Pelo Twitter, após uma sequência de ataques de Ciro, Lula tentou ser diplomático: "Adoraria dizer que Ciro é um amigo. Mas, infelizmente, ele não quer. Aprendi uma teoria com a minha mãe, Dona Lindu: quando um não quer, dois não brigam. Não vou fazer jogo rasteiro", rebateu.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que tem participado ativamente das articulações eleitorais do partido, acredita que o melhor é deixar Ciro falando sozinho. "É uma tentativa de polarizar com a candidatura do Lula, mas ela está em uma posição tão destacada que não tem razão para polarizar", explicou.
Para Teixeira, o eleitor de esquerda já se posicionou a favor do Lula, conforme mostram as pesquisas de opinião. O deputado faz um alerta a Ciro: caso continue com a estratégia de atacar o ex-presidente, expõe-se cada vez mais à possibilidade de perder votos.