Sob pressão, o ex-ministro Sergio Moro, pré-candidato à Presidência pelo Podemos, prometeu divulgar, amanhã, os ganhos que obteve com a prestação de serviços ao escritório Alvarez & Marsal. Ele trabalhou na área de compliance da consultoria americana depois de deixar o Ministério da Justiça, em 2020, e permaneceu até outubro do ano passado, quando decidiu entrar na corrida pelo Planalto.
O questionamento sobre os rendimentos dele na consultoria partiu do Tribunal de Contas da União (TCU), que avalia se houve conflito de interesses pelo fato de o escritório atender empreiteiras investigadas pela Operação Lava-Jato, da qual ele foi o juiz responsável pelos casos (leia Entenda o caso). O PT chegou a cogitar colher assinaturas para abrir uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), mas acabou desistindo.
"Apesar da natimorta CPI e das ilegalidades do processo no TCU, eu, por consideração aos brasileiros e em nome da transparência que deve pautar a política, na sexta (amanhã), divulgarei meus rendimentos na empresa em que trabalhei", afirmou Moro, em vídeo postado no Twitter. "Não estou cedendo ao TCU. O TCU está abusando, mas eu quero ser transparente com você, com a população brasileira, como toda pessoa pública deve ser."
De acordo com Moro, se houvesse investigação, não seria encontrado "nada de errado", e os críticos iam "quebrar a cara". Disse também que esse processo na Corte de contas "é um abuso, cheio de ilegalidades". Ele ainda destacou que, além dos valores recebidos, publicará o Imposto de Renda.
Na segunda-feira, a Alvarez & Marsal divulgou nota na qual enfatizou que Moro não atuou junto às empresas investigadas na força-tarefa que são atendidas pela empresa. São elas: Odebrecht, Galvão Engenharia e OAS, responsáveis por 75% do faturamento da consultoria. O escritório também destacou que "prestou todos os esclarecimentos solicitados pelo TCU de forma tempestiva e colaborativa, sendo que o parecer técnico do tribunal demonstrou não haver nenhum tipo de conflito".
Ainda segundo o comunicado, Moro atuou na área de compliance e, no contrato, estava expressamente escrito o impedimento de "atuar direta ou indiretamente no atendimento a clientes que tivessem qualquer envolvimento com a Operação Lava-Jato ou empresas investigadas por ele ao longo de sua carreira como juiz ou ministro, estando totalmente delimitado a atuar dentro do seu escopo de trabalho em disputas e investigações".
Saiba Mais
Conflito de interesses
Em dezembro do ano passado, o ministro Bruno Dantas, do TCU, determinou que a consultoria Alvarez & Marsal apresentasse os documentos ligados à saída do ex-juiz Sergio Moro da empresa, quando se lançou na política. Provocada pelo subprocurador Lucas Furtado, a Corte quer saber os termos do contrato e valores previstos no encerramento, incluindo o salário que o ex-ministro da Justiça recebia na empresa, uma vez que a Alvarez & Marsal presta serviços a empresas envolvidas na Lava-Jato.
Na última terça-feira, Furtado oficiou Dantas, pedindo a adoção de "medidas junto ao Banco Central e ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para obtenção dos documentos."