Líder de pesquisas de intenção de voto para as eleições de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito movimentos para a formação de uma ampla aliança, para além da esquerda. Conforme enfatiza o petista, a união com diferentes espectros políticos são fundamentais para a governabilidade, caso assuma novamente o comando do país. Em entrevista, ontem, à Rádio CBN do Vale do Paraíba, ele disse não ver problemas, por exemplo, em negociar com o Centrão, grupo político que, hoje, dá sustentação ao governo do presidente Jair Bolsonaro.
"Você negocia com a direita, você negocia com a esquerda e com o centro. Você negocia com católico, evangélico e ateu. É necessário negociar com quem tem mandato para poder aprovar as coisas que precisam ser aprovadas", argumentou. "Eu não vejo problema em conversar com o Centrão." Ele pregou o amplo diálogo: "Convencendo as pessoas, aceitando sugestões e propostas de mudanças. É assim que se dá o jogo político no planeta Terra onde existe democracia".
Lula ressaltou, porém, a necessidade de "renovar" o Congresso Nacional com a eleição de políticos mais "progressistas" e ligados a pautas sociais. Apesar de admitir conversar com o Centrão, se eleito, ele frisou não querer ser refém do Parlamento.
"Nós precisamos eleger deputados que tenham uma visão mais social e mais humanista do país. Não podemos ter um Congresso que transformou o presidente (Bolsonaro), um boquirroto que falou besteiras na campanha eleitoral, em refém", criticou.
Durante a primeira gestão de Lula, porém, estourou o escândalo do mensalão, em que o governo foi acusado de pagar parlamentares em troca de apoio em projetos no Congresso. O PL, de Valdemar Costa Neto, que integra o Centrão, foi um dos protagonistas do caso.
Sem unanimidade
As ideias de Lula não têm unanimidade no PT e em partidos no entorno dele. Caso de integrantes do PSB, que negocia a filiação do ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) para ser vice na chapa de Lula.
Segundo o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG), Lula tenta se aproximar de legendas que já fizeram parte do Centrão e foram ativas na articulação para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. "Ele se aproxima do PSDB e do MDB, que participaram do golpe contra a ex-presidente Dilma e compuseram o Centrão por um bom tempo. Há integrantes das duas legendas que, até hoje, não querem largar o apoio a Bolsonaro", afirmou. O parlamentar ainda questionou as razões do imbróglio envolvendo o acordo entre o PT e o PSB, que ainda não chegaram a um consenso sobre o lançamento de candidaturas em estados-chave. "Esticam a corda conosco, pois acham que não temos outra alternativa que não apoiar Lula", alfinetou.
O senador Humberto Costa (PT-PE), por sua vez, disse que Lula deve buscar alianças para se eleger e governar o país, pois, caso saia vitorioso, vai encontrar um panorama complicado. "Se ganharmos a eleição, vamos encontrar uma verdadeira terra arrasada. Isso significa que, para tirar o país deste atoleiro, vamos precisar de muito apoio eleitoral e apoio político", ressaltou. "Acho que Lula age de modo correto. Tanto em buscar apoio para a vitória eleitoral já em primeiro turno quanto para costurar apoio no segundo turno."
Líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF) disse que o modus operandi de Lula é governar se aliando ao Centrão. "Primeiramente, acho que ele não vai ganhar, então, não precisa dessa preocupação. No entanto, ele já foi presidente e é só ver como governou e o que aconteceu na época. Lá atrás, ele se aliou ao Centrão."
Por sua vez, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) ressaltou a capacidade de Lula em "articular diferentes forças políticos a seu favor".