Planalto

Bolsonaro inclui dois filhos no comitê da campanha presidencial deste ano

Aliados consideram arriscado confiar na mesma estratégia utilizada de 2018

O comitê de campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) trabalha em ritmo acelerado. O chefe do Executivo acredita que os dedos dos filhos o ajudarão a emplacar mais um mandato. A coordenação geral ficou a cargo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e a comunicação na internet com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). A escolha do filho 02 já foi comunicada ao presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, que também integra no comitê.

Aliados dizem, no entanto, que Bolsonaro precisa estar atento. A eleição não ocorrerá como em 2018, quando a participação de Carlos Bolsonaro nas redes sociais foi decisiva — por isso, a escolha do nome dele. O momento é outro, a começar pela maior vigilância a ataques virtuais e desinformação. Além disso, o 02 tem a trajetória marcada por seus posicionamentos mais radicais e não esconde seus argumentos de ninguém — pelo contrário, dissemina fake news sem pudor nas redes sociais e em grupos fechados. É ainda citado como integrante-chave do "gabinete do ódio", milícia digital destinada a atacar oposicionistas e espalhar desinformação na internet.

Parlamentares ouvidos pelo Correio, em caráter reservado, avaliam que, ainda que a escolha do comitê seja muito pessoal, o presidente deveria procurar profissionais para realizar sua campanha. "A situação é outra. Se ele está apostando no que deu certo na campanha, agora o contexto é totalmente diferente. Ainda que ele tenha confiança nos filhos para a estratégia de campanha, vamos ter uma eleição mais polarizada, com debates e com um cenário diferente. Um pouco mais de profissionalismo seria melhor para ele", disse um aliado bolsonarista.

O parlamentar acredita que a eleição de 2018 foi um momento "totalmente atípico e fora do contexto". O congressista lembra que o presidente não participou de debates, levou uma facada e, ainda, deixou o partido que o elegeu. "Hoje, o cenário é diferente, viemos de um desgaste de uma gestão de quatro anos e uma série de fatores que serão questionados. É arriscado confiar muito num ciclo muito próximo a ele", afirmou.

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"Não vende mais"

Na avaliação de André César, sócio da Hold Assessoria, em 2018, Bolsonaro tinha pouco tempo de TV para se mostrar ao público. Com isso, utilizou a internet e as redes sociais com brilhantismo para disseminar seu nome. "Hoje, isso não vai se repetir. Por isso o uso tão forte do Centrão é fundamental. Tudo bem que um dos filhos é senador, mas como coordenação geral e o outro no marketing? É pouco profissional", destacou.

O especialista vê com reserva a formação do comitê eleitoral bolsonarista. "Eu acho que essas figuras não têm condições reais de tocar uma campanha de qualidade. Bolsonaro vai apanhar muito, ele deixou de ser novidade, faz parte do sistema. O que vendeu em 2018 não vende mais. Nesse sentido, vai falar só com o público dele e manter os bolsonaristas aí. Mas é pouco para pretensões eleitorais", frisou.

Além de Flávio Bolsonaro e os presidente do PL e do Republicanos, integra o comitê eleitoral de Bolsonaro o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP).