Em processo de fritura há meses, o titular da Economia, Paulo Guedes, já é considerado um "ministro zumbi" por parlamentares aliados ao governo. A saída dele da pasta é dada como certa em caso de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. A dúvida, agora, é até quando o economista aguentará "ser humilhado" pelo chefe do Executivo.
O golpe mais recente no ex-superministro do governo ocorreu na quinta-feira, quando Bolsonaro assinou decreto no qual determina que atos relacionados ao Orçamento de 2022 terão de ser submetidos ao crivo da Casa Civil, comandada por Ciro Nogueira, um dos caciques do Centrão. Se depender do grupo de sustentação do governo, aliás, Guedes pode sair antes do fim do governo.
Para o deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), um dos partidos que compõem o Centrão, Guedes não deveria nem ter aceitado fazer parte da gestão Bolsonaro. "O ministro entrou e é humilhado pelo governo, que sabe que ele não tem nenhuma criatividade que possa ser benéfica eleitoralmente para o presidente Jair Bolsonaro, como levar crédito mais barato, com juros mais acessíveis e prazo de carência para o pequeno e médio empresário", listou.
"Guedes não tem nenhum tipo de articulação, ainda mais na execução do Orçamento, que é a bala de prata do presidente Bolsonaro, em que ele tem de fazer base nos estados e melhorar nas pesquisas", prosseguiu Pinato. "O ministro, na verdade, está ali para outra coisa: aguentar humilhação e defender o interesse de alguém. Acho que, diante dos fatos, talvez de banqueiros."
Outros parlamentares ouvidos pela reportagem acreditam que a ideia de passar para Nogueira a última palavra sobre o Orçamento é uma forma de Bolsonaro "retomar o controle" dos recursos, mesmo que isso signifique retirar poderes de Guedes, que conquistou apoio do mercado financeiro para o presidente. Congressistas e analistas políticos avaliam, por sinal, ser só por isso que o economista não é mandado embora, já que parte da Faria Lima ainda nutre simpatia por ele.
"Por que Guedes não foi demitido ainda? Porque ele tem um discurso pró-mercado. Esse discurso é baseado no controle fiscal, na execução de privatizações, numa radicalização de uma nova reforma trabalhista e no Estado mínimo. Esses quatro elementos atendem à demanda do mercado", afirmou Adriano Oliveira, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco. Para ele, a dispensa de Guedes, agora, poderia criar uma instabilidade política no governo.
André César, cientista político da Hold Assessoria, ressaltou não haver ninguém disponível para "assumir essa bomba" agora. Por isso, Guedes continua no cargo. "O Posto Ipiranga virou um chaveirinho. Ele está sozinho e virou uma figura decorativa. Nem Bolsonaro espera algo do Guedes", acrescentou.
Em nota divulgada após a publicação do decreto que tirou mais poderes de Guedes, o Ministério da Economia disse que "a medida não significa enfraquecimento". "Ela resulta de um consenso entre os ministérios envolvidos, visando melhorar a coordenação para o alcance dos objetivos e prioridades do governo. Vale lembrar que a Casa Civil e o Ministério da Economia integram a Junta de Execução Orçamentária, que é a instância em que as decisões relevantes com relação à matéria orçamentária são tomadas", enfatizou o comunicado.
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