Se o governo federal voltar atrás e desistir de fazer uma reestruturação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o órgão “vai virar o caos”. É o que disse o presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), Dovercino Neto, em entrevista ao Correio, nesta segunda-feira (10/01).
A fala veio logo após o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), admitir que há a possibilidade de não conceder reajuste salarial aos agentes da PRF, Polícia Federal e agentes do sistema prisional. O reajuste salarial é parte da reestruturação demandada pela federação que representa os servidores da PRF.
“Isso é preocupante porque para o nosso colega da PRF, essa possibilidade de não ter a tão sonhada reestruturação da carreira não existe. Isso vem sendo falado pelo próprio Bolsonaro desde 2019”, disse ele.
“Em todas as oportunidades que ele teve, disse que [a reestruturação] sairia. Nosso colega não conta com essa possibilidade [de não sair]. E como isso é uma decisão política, pode ocorrer de não sair. E caso não saia, na PRF será o caos”, pontuou Dovercino.
O pedido de reestruturação da PRF foi entregue pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, ao presidente Bolsonaro, no ano passado, e contempla também a Polícia Federal e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Ao todo, foram “separados” R$ 1,7 bilhões no Orçamento de 2022 para essa finalidade.
No último fim de semana, após pressões de diversas carreiras do serviço público que pedem reajuste salarial – em represália à decisão do Executivo de conceder reajuste apenas à Polícia Federal, à PRF e a agentes do sistema prisional –, o presidente Jair Bolsonaro admitiu que a solução para a greve geral iminente em fevereiro pode ser “não dar aumento para ninguém”.
Segundo Dovercino, apesar de o reajuste ser uma das demandas, a reestruturação vai além disso. “Na PRF, o que faz que a PRF cresça ano a ano é o policial, o empenho que o policial coloca no seu dia a dia. E nós estamos com essa promessa de reestruturação desde 2012. A gente não está brigando por aumento salarial, queremos uma reestruturação. Estamos no limite, não tem mais como dar errado. Caso não saia, para nós vai ser um desastre”, advertiu.
“Reajuste a gente busca também, porque temos a pior tabela salarial de gestão dentro do Executivo. Mas queremos outras alterações, nomenclatura, aumentar níveis para o fim de carreira, atribuições legais, que tenhamos tranquilidade para exercer as funções. Nosso projeto é grande, não é só reajuste”, prosseguiu o presidente da FenaPRF.
Reação
Caso o governo decida vetar o montante destinado à PRF no Orçamento de 2022, segundo Dovercino, a saída será reunir os sindicatos estaduais em assembleias para definir de que forma prosseguir. Ele descarta, no entanto, uma união com as demais carreiras do setor público que estão se mobilizando em busca do reajuste, já que os movimentos começaram como um protesto ao aumento para os policiais.
“Isso é uma questão delicada porque o fato do governo ter prometido essa verba para as polícias gerou uma guerra, outras categorias estão nos atacando como se quiséssemos aumento só para nós. Não é isso, estávamos brigando pela valorização do nosso policial. Não fizemos qualquer trabalho contrário às outras categorias. Não trabalhamos dessa forma. Se o governo vai nos atender ou só a polícia é algo que foge ao nosso controle”, defendeu Dovercino.
Ele acredita, no entanto, que o movimento de servidores é “natural” quando o objetivo é a busca da valorização dos servidores. Segundo o presidente da FenaPRF, não houve, ainda, conversas com o governo em 2022 para falar sobre as demandas da categoria ou sobre os reajustes.