Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na liderança das pesquisas de intenção de voto para as eleições deste ano e as crises econômica e sanitária a assombrarem o país, o presidente Jair Bolsonaro — em franca queda de popularidade — busca se agarrar aos eleitores mais conservadores e radicais em nome da recondução ao Palácio do Planalto.
No afã de agradar o público que se mantém fiel ao governo, Bolsonaro tem reeditado discursos extremistas e negacionistas, a arma que lhe resta para tentar avançar ao segundo turno. Até porque, tem perdido apoio de representantes da chamada ala ideológica, como os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), os mais recentes desafetos do chefe do Executivo. Esses integrantes do bolsonarismo-raiz repudiam a aliança que o presidente fez com o Centrão, aderindo ao toma lá, dá cá para sobreviver politicamente, já que é alvo de investigações e de uma série de pedidos de impeachment. Os dissidentes também reclamam de ter sido trocados por membros do grupo político.
Para deleite dos apoiadores mais radicais, Bolsonaro voltou a atacar, neste mês, os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). "Quem os dois pensam que são?", disparou. "Os dois, nós sabemos, são defensores do Lula. Querem Lula presidente." Barroso é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Moraes passará a comandar a Corte no pleito de outubro. No ano passado, o presidente criticou reiteradas vezes o sistema de urnas eletrônicas, colocando em dúvida a lisura das eleições.
A vacinação contra a covid-19 também está entre os alvos de Bolsonaro. Mais recentemente, a imunização de crianças. Ele tem feito de tudo para demover os pais ou responsáveis a levarem as crianças para se vacinar. Disse, inclusive, que a filha, Laura, de 11 anos, não receberá as doses. Ele comprou briga, inclusive, com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por ter autorizado imunizantes para o público de 5 a 11 anos. Ameaçou até revelar o nome dos técnicos que liberaram os fármacos. Desde então, integrantes do órgão têm sido jurados de morte. A postura do presidente vai ao encontro de grupos antivacina.
O líder do Planalto também tem investido em uma nova leva de entrevistas a rádios e emissoras apoiadores do governo. "Sempre tive uma bandeira muito forte em defesa da família, dos costumes, das crianças em sala de aula, contra a ideologia de gênero, favorável ao armamento. Essas questões todas me levaram a ser conhecido perante o eleitor", declarou a um site de direita.
Fidelidade
Paulo Baía, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que as declarações do chefe do Executivo direcionadas à sua bolha podem levá-lo ao segundo turno. "Apesar de todo o desgaste, da impopularidade e do aumento da rejeição, Bolsonaro mantém uma fidelidade do seu eleitor na faixa de 15% a 20% dos votos válidos, o que assegura uma posição dele na fase seguinte do pleito", destaca.
Nesse sentido — enfatiza o especialista —, o discurso radical e negacionista, sobretudo em relação à pandemia, é uma estratégia muito inteligente do presidente para manter apoio. "Embora seja considerado absurdo, o movimento antivacina é grande, muito maior do que as pessoas pensam, pois existem milhões de brasileiros não adeptos a Bolsonaro e que são contra a vacinação. Portanto, esse eleitor pode se fidelizar ao presidente", diz.
O cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, aponta medidas populistas como o pagamento do Auxílio Brasil e o perdão de dívidas do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) de até 92% como iniciativas positivas para Bolsonaro. "Isso pode ter impacto na popularidade e aumentar os índices de intenção de votos. Apesar de haver um ambiente hostil, com inflação alta, crescimento pequeno da economia, desemprego elevado, ele mantém eleitorado fiel em torno de 25% das intenções de voto", observa. "Havendo melhora no quadro geral da economia e esses tipos de ações específicas, incluindo, ainda, que o governo deve acabar com a bandeira de escassez hídrica em abril, o que pode reduzir o preço da energia elétrica, existem fatores que tendem a ajudar o presidente nessa disputa."
*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa
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