Desigualdade social. Esse foi o tema de uma live realizada no canal do YouTube da ex-BBB Thelminha, em setembro de 2021, e que vem causando burburinho após a entrada de Linn da Quebrada na 22ª edição do Big Brother Brasil. Com a visibilidade gerada pelo reality, os internautas estão investigando declarações passadas dos participantes e encontraram, nesse bate papo em que o ex-presidente Lula, o ex-BBB Gil do Vigor e o ativista Celso Athayde também participam, uma fala contundente de Linn da Quebrada em relação a certas atitudes de Lula.
Declaradamente apoiadora do político petista, a BBB22 não deixou barato quando, durante o programa exibido no YouTube, um internauta questionou Lula sobre uma foto com o deputado federal Isidório (Avante-BA), que já fez inúmeras declarações defendendo a “cura gay” e se autoproclamando “ex-gay”. “Não é contraditório ao discurso progressista de Lula?”, indagou o seguidor de Thelminha. No mesmo instante, Linn endossou a pergunta: “Ê Lula, não vai conseguir escapar, em”, disse a artista.
“Todos nós temos que aprender a seguinte lição de vida: você trata as pessoas sempre com o respeito e a educação que gostaria de ser tratado. Eu conversei com o pastor Isidório como um presidente de um partido político, que faz parte da coligação do governador da Bahia, e ele me foi apresentado. Eu não sei a história de divergência dele na questão de gênero, na questão de vida dele. Eu não sabia se ele havia sido homossexual ou não”, respondeu Lula.
O ex-governante disse ainda que a conversa que teve com o deputado na ocasião da foto foi em relação a um projeto social que Isidório desenvolve. “O que eu sei é que ele tem um trabalho muito rico, que trata de pessoas doentes e drogadas. Um programa muito respeitado pelo Governador Ruy Costa e pelo senador Jaques Wagner, que até me convidaram para visitar e ver que é um trabalho exemplar e que pode ser feito, com o apoio de lideranças religiosas, em diversos locais do país”, explicou.
“Se eu tiver oportunidade de conhecer melhor ele (Isidório) e pedir para ele ser uma pessoa mais aberta, mais compreensiva, é meu papel tentar fazer isso com todo mundo”, disse. Neste momento, Lula relembrou a vez que participou de um encontro LGBT durante o mandato como presidente da República, contrariando os protocolos. “Era impensável imaginar um presidente da República, no exercício do seu mandato, participar de um encontro com mais de 3 mil representantes LGBT”, argumentou.
Sem passar pano
Linn ouviu atentamente as explicações do ex-presidente sobre a foto, mas não endossou a atitude. “É preciso pensar o que significa os vínculos que se estabelecem quando o senhor faz essa foto com o Isidório e o que isso significa diante todas as ações que ele já estabeleceu perante a nossa comunidade”, rebateu a cantora trans. “Linn, se eu puder dar uma contribuição para que o pastor Isidório não tenha nenhum preconceito ou falta de respeito com vocês, eu vou fazer e se eu puder convencer vocês a não ter com ele eu vou fazer. Esse é o meu trabalho”, justificou Lula.
A partir da resposta do atual presidenciável, o debate esquentou. Linn da Quebrada explicou que não se trata somente das ressalvas que o deputado tem contra a população LGBTQIA+, muito menos do contrário. “Não se trata do nosso preconceito diante dele, se trata das ações que ele tem que prejudicam a nossa vida. Estamos falando de vida!”, exclamou. “E é muito mais que preconceito, a população trans é a mais afetada, são pessoas que morrem todos os dias”, completou Thelminha.
“As ações do pastor legitimam toda a violência diante dos nossos corpos, de toda violência e morte perante os nossos corpos. Se a gente se compromete a mudar esse design global da violência, a gente tem que mudar também a partir da gente”, sugeriu Linn. “Mas é por isso que nós precisamos fazer com ele aquilo que nós queremos que ele faça conosco. Ou seja, nós temos que discutir, temos que convencê-lo do equívoco. Eu fui candidato em 2002, eu deparei com um jornal me chamando de demônio, um milhão de cópias de jornal distribuída na semana da eleição. ‘Lula, o demo’”, relembrou o ex-presidente.
Interrompendo a retrospectiva de Lula, a cantora e atriz não admitiu a fala vitimista. “Agora imagina quantas travestis são chamadas de demônio e de coisas muito piores cotidianamente. Nós já não temos o direito à humanização, nós estamos lutando para termos o direito de sermos enxergadas enquanto humanos. Nós já somos os demônios e os monstros cotidianamente”, contou Linn.
“Mas você há de convir que a sociedade vinha ganhando impulsos muito grandes para que a gente possa compreender essa diversidade desse país. O que aconteceu é que a partir de 2018, aconteceu uma anomalia no país. A gente elegeu o ódio, a gente elegeu a ignorância, a gente elegeu a brutalidade, a gente elegeu um povo que prefere dar arma do que dar livro, que prefere falar em ódio do que falar em amor e que prefere falar em guerra do que em paz, é isso que nós estamos vivendo agora”, disse Lula em referência ao governo Bolsonaro, que, segundo ele, incentiva a violência contra grupos minoritários.
Para finalizar a discussão, Lula ressaltou que o preconceito no Brasil é uma questão cultural e “está impregnado na massa encefálica das pessoas”. Como solução para tal, Linn sugeriu que exista “uma interseccionalidade entre ciência, arte e política para que a gente entenda. É preciso que haja implementação de políticas públicas, é preciso que se fale sobre sexualidade de gênero nas escolas, é preciso que haja espaços que democratizam e levam a informação para tantas outras pessoas para que elas se deem a possibilidade de pensar diferente do que eles já pensam”, concluiu.
Veja trecho:
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